29 de junho de 2018

“UM NOVO CICLO DA POLÍTICA”!

(Murillo de Aragão, cientista Político – Estado de S.Paulo, 05) 1. Independentemente de quem venha a ganhar as eleições presidenciais deste ano, algumas questões já estão postas. A primeira é que o próximo governo manterá o presidencialismo de coalizão. Afinal, sem uma grande coalizão o presidente da República não conseguirá governar, já que o polo central da política se deslocou do Planalto para o gabinete do presidente da Câmara dos Deputados. Portanto, sem uma identificação política entre governo e presidência da Câmara a administração funcionará aos soluços e dependente de medidas provisórias que poderão ser rejeitadas in limine.

2. Outra questão posta e assegurada é que a Operação Lava Jato e seus sucedâneos continuarão a produzir efeitos e a emparedar o mundo político. Em consequência, a imprensa – que nunca nutriu simpatia pelo establishment político – continuará sua faina diária de desinstitucionalizar o universo político. Independentemente do tamanho e da gravidade da culpa de seus atores.  A terceira questão posta é que o mundo político, entre cético e acovardado, assiste à sua destruição institucional sem esboçar reação. Aceita a perda de terreno para o Judiciário, não se rebela contra o seu ativismo de forma consequente e não constrói uma narrativa minimamente coerente.

3. Políticos caminham em meio aos destroços como se as bombas atiradas pelo Ministério Público e pela Justiça não os atingissem. Engana-se o mundo político, pois vivemos tempos em que praticamente tudo na política foi criminalizado e a presunção da inocência deu lugar à certeza antecipada de culpa. Assim, as eleições de 2018 vão marcar apenas mais um passo rumo ao fim da política conforme estabelecida após o fim do regime militar.

4. Após os fracassos iniciais de Sarney e Collor, uma aliança rentista-burocrática promoveu o aumento da taxa de juros e da carga tributária para pagar a conta fiscal e controlar a inflação, em meio a uma alegoria democrática. Ao lado de certa disciplina fiscal, permitia-se uma bacanal partidária sustentada por três pilares: cargos públicos, verbas orçamentárias e intermediação de negócios. A estabilidade da aliança rentista-burocrática dependia, também, de bons salários para os cargos no Estado dos quais se executavam as políticas vigentes.  A equipe econômica era minimamente blindada para fazer política fiscal e monetária, e o mundo político era financiado para ajudar ou, ao menos, não atrapalhar. Sob a vista grossa de todos, políticos e empresários exploravam a intermediação de obras públicas e a venda às estatais. E a máquina pública impunha uma perversa política tributária, além de sufocar o federalismo.

5. Paradoxalmente, o ex-presidente Lula – o líder operário e esquerdista – foi o ápice do “novo-republicanismo”, ao conciliar a manutenção da aliança rentista-burocrática com a expansão da classe média baixa e o aprofundamento do capitalismo tupiniquim de vendas ao governo. E uma expressão perversa do conservadorismo retrógrado de nossas esquerdas. Rentismo e popularismo deram algum resultado. Os miseráveis viravam pobres. E os pobres viravam devedores das Casas Bahia! Por sua vez, a alta burocracia ganhou mais privilégios e aumentos salariais generosos, enquanto os ricos ficavam milionários.

6. O ocaso de Lula vem com o naufrágio da Nova República, cujo féretro está sendo conduzido por uma República que ainda não tem um nome, mas que arrisco chamar de República Judicialista. Estamos caminhando para uma República submetida ao poder burocrático dos atores do Judiciário, e não necessariamente aos ditames das leis e da Constituição. Algo que, tempos atrás, chamei de “novo tenentismo”.

7. Obviamente, o naufrágio da Nova República ocorre por contradições inerentes ao sistema, que, se por um lado permitiu a farra de verbas públicas, por outro aboliu a disciplina partidária, institucionalizou a corrupção e doações por dentro e por fora, fragilizou o federalismo e permitiu que o governo fosse capturado por corporações burocráticas. O episódio do mensalão iniciou um processo irreversível de mudanças. Pela primeira vez o sistema político foi incapaz de se proteger no Judiciário. Mas como nada vem sozinho, a cretinice do mundo político veio acompanhada de outras transformações que retroalimentaram o processo.

8. Por conta da dificuldade de chegar a consensos políticos importantes, recorreu-se à Justiça para arbitrá-los. Abrindo mão de decidir, o Legislativo estimulou o Supremo Tribunal Federal a assumir o papel de terceira câmara legislativa. Não só julgando, mas também legislando sobre temas relevantes. Isto posto, proponho que estamos vivendo o naufrágio da política conforme estabelecida no fim do regime militar, como já dito, e reconheço a emergência de uma nova política, exposta tanto pelos índices de rejeição aos políticos quanto pela evidente supremacia do Judiciário sobre os demais Poderes.

9. As eleições não devem mudar significativamente o universo da política em termos de renovação. O judicialismo prosseguirá emparedando o mundo político e, aqui e ali, pondo algum político importante na cadeia. A política continuará criminalizada. Já que nem políticos nem imprensa, muito menos o Judiciário, conseguem e/ou desejam separar o joio do trigo. Duas consequências estão claras: a ascensão do Judiciário como Poder e a dependência, cada vez maior, da validação do Judiciário às políticas públicas. Nada estará fora do escrutínio do judicialismo. Até mesmo o que não deveria ser judicializado. Novos tempos já estão em vigência e não poderão ser mudados nem sequer pelas eleições de 2018. Caberá ao Supremo Tribunal Federal conter excessos e, minimamente, tentar restabelecer o império da lei, ora ameaçado por um ativismo muitas vezes desenfreado. Caminhamos para uma República submetida ao poder burocrático dos atores do Judiciário.

28 de junho de 2018

TURQUIA HOJE: QUASE UM SULTANATO!

(Clovis Rossi – Folha de S.Paulo, 25) 1. Com a vitória neste domingo (53%), Erdogan já é o governante há mais tempo no poder no país. A iconografia turca tem, desde este domingo (24), um novo rosto a equiparar-se ao de Kemal Atatürk, fundador da Turquia moderna. É o rosto de Recep Tayyp Erdogan, a caminho de fazer a Turquia retroceder ao estágio de sultanato, o poder absolutista do sultão, como Erdogan tem sido frequentemente chamado.

2. Erdogan já é o governante há mais tempo no poder: 15 anos, inicialmente como primeiro-ministro (2003/14) e depois como presidente em um regime em tese parlamentarista mas que já era dominado por Erdogan.

3. Com a votação deste domingo, a Turquia passa a ser presidencialista, com poderes pouco menos que absolutos para o mandatário. É uma enorme frustração para os que chegaram a ver em Erdogan o espelho em que poderiam mirar-se os países muçulmanos em que ocorreram os levantes da chamada Primavera Árabe.

4. Até mais ou menos 2013, Erdogan era o único mandatário de um país de maioria muçulmana em que a democracia gozava de boa saúde. Tão boa que, em 2005, a Turquia iniciou negociações para entrar na União Europeia. Ser um país democrático é condição essencial para aderir à Europa unificada.

5. Além de comandar uma democracia, Erdogan liderou também um processo de estabilização política e econômica, que eliminou as frequentes intervenções militares e minimizou as crises econômicas igualmente recorrentes.

6. Por que o presidente turco desandou esse caminho é uma história ainda a ser escrita. O fato é que, nos últimos cinco anos, foi se tornando mais e mais autoritário. A hipótese de aderir à UE está, por enquanto, em completa hibernação, ainda mais que a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) fez sérios reparos ao processo eleitoral concluído neste domingo.

7. Um relatório preliminar divulgado antes do pleito citava uma série de irregularidades, incluindo restrições às liberdades de reunião, de associação e de expressão. E criticava o fato de que o candidato do HDP (Partido Democrático do Povo, pró-curdos), Selahattin Demirtas, fez sua campanha de uma prisão. Uma eleição sob estado de exceção, como ocorreu na Turquia, não é obviamente uma característica que seja aceitável para um país que queira fazer parte da União Europeia.

8. O fato de a Turquia, geograficamente, ter um pé na Europa e outro na Ásia acaba servindo de metáfora para sua situação político-institucional: ao derivar para o autoritarismo, Erdogan dá as costas para a Europa e se instala entre os países muçulmanos autocráticos.

9. Não será fácil, no entanto, aprofundar o modelo autoritário, mesmo com os poderes agora referendados pelo eleitorado. Erdogan, afinal, é filho da democracia (ganhou 13 eleições, incluindo a deste domingo), a oposição tem razoável presença no Parlamento e parte significativa da sociedade turca olha muito mais para a Europa do que para a Ásia/Oriente Médio e suas ditaduras.

27 de junho de 2018

PESQUISA QUALITATIVA: DATAQUALY! JUNHO 2018!

Clima eleitoral: Interesse pela eleição para presidente

O clima ainda é “morno” no que se refere às eleições. A percepção geral é a que de a disputa irá esquentar após a Copa do Mundo e com o início dos programas do horário eleitoral gratuito na televisão/rádio.

O cenário vislumbrado é contaminado por estereótipos que marcam a imagem dos políticos e das campanhas políticas – “promessas não cumpridas”, “mais do mesmo”, e afins. É evidente a desmotivação do eleitor. Assim, os eleitores declaram estar “desencantados”, “desanimados” e “desestimulados” com a classe política e a “mesmice”.

Estes eleitores se mostram frustrados e desacreditados em relação às representações políticas, de forma generalizada. O ambiente é de grande desalento – e isso inclui o cenário que envolve as próprias eleições.

Os sentimentos estimulados pela perspectiva de escolha do próximo presidente são essencialmente negativos, refletindo a descrença de que este venha a ser um fator determinante de mudança no cenário atual.

Veem os atuais pré-candidatos como pouco qualificados (aquém da necessidade atual), pouco atraentes (sem carisma ou espírito de liderança, não conseguem convencer) e não representativos de mudanças essenciais (sobretudo aquelas ligadas ao próprio meio político, que consideram cruciais).

Motivação ao voto: mudança x continuidade

Há um forte desejo por mudança, entendendo-se por isto a melhoria do quadro atual em diversos âmbitos (ético, social, econômico) – mas com o social permanecendo como prioridade.

O desencanto com a classe política em sentido amplo e o cansaço em relação aos vícios e desmandos a ela associados (corrupção, superfaturamentos de obras, privilégios), fomentam o desejo de mudança e a expectativa pelo novo (“um novo jeito de fazer política”).

Acreditam que uma ferramenta que pode ajudar a população a mudar os políticos que estão no poder é a Ficha Limpa. Os brasileiros deixarem de votar em candidatos envolvidos em escândalos de corrupção.

Parcela dos pesquisados ressalta a importância e relevância do surgimento de novas lideranças (indivíduos, mais que grupos ou partidos) e a ampliação de alternativas para o eleitor. Entretanto, com o cenário eleitoral ainda indefinido e distante, têm dificuldade de vislumbrar opções que possam ocupar esse espaço de modo efetivo.

26 de junho de 2018

5 RAZÕES QUE DIFICULTAM MUDANÇAS NA POLÍTICA BRASILEIRA! 

A BBC News Brasil ouviu especialistas e jovens que dizem querer mudar a política para apontar as principais dificuldades de mudar a cara e as práticas do sistema político no país. Cinco foram as razões mais citadas para explicar por que isso é tão difícil:

1. Estrutura dos partidos políticos

Como candidaturas avulsas ou independentes não são permitidas no Brasil, para disputar uma eleição é obrigatório estar filiado a um partido político pelo menos seis meses antes do pleito.

Apesar de ser relativamente fácil se associar a um partido, as siglas tendem a dar mais oportunidades e a serem mais receptivas aos novatos que são potenciais puxadores de votos, como artistas ou atletas.

“É muito difícil você entrar num partido se não for para trabalhar dentro de uma lógica muito pré-determinada. Muitas vezes a lógica é perpetuar o partido e os mesmos poderes, as mesmas redes. Geralmente redes masculinas, com algumas exceções é claro, mas redes de homens brancos”, afirma Pinheiro-Machado.

A professora diz que ainda é muito raro que partidos invistam em candidaturas femininas, em especial de mulheres negras.

Por isso, Pedro Duarte, vice-presidente da juventude do PSDB, defende que mais jovens se filiem a partidos tradicionais e que participem de forma mais ativa da vida partidária na tentativa de abrir espaço para caras novas em organizações onde a estrutura de poder está consolidada e há pouca alternância no comando.

2. Financiamento de campanha

Além de não terem as portas abertas, diz Carlos Melo, os partidos se transformaram em importantes financiadores de campanha e tendem a patrocinar quem já está no poder.

Desde 2014, quando o Supremo Tribunal Federal proibiu a doação de empresas para partidos e candidatos, o financiamento eleitoral ficou restrito às contribuições de pessoas físicas – que podem doar até 10% da renda declarada no ano anterior à eleição – e ao fundo partidário, que é de R$ 888,7 milhões neste ano.

No ano passado, deputados e senadores aprovaram o fundão eleitoral no valor de R$ 1,7 bilhão. Tanto os recursos do fundo partidário quanto os do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, nome oficial do fundão eleitoral, têm seu destino decidido pelos partidos.

“Esses recursos tendem a ser distribuídos pela cúpula dos partidos e a fortalecer quem já está no poder”, afirma Melo, salientando que nem sempre os partidos são transparentes e democráticos.

Apesar de a minirreforma partidária aprovada no ano passado ter estabelecido um teto para os gastos de campanha, disputar uma eleição de forma competitiva ainda é considerado caro.

“Acho que os partidos são muito pouco dispostos a financiar novos candidatos”, completa Rosana Pinheiro-Machado.

3. Força dos que já têm mandatos

Tanto Pinheiro-Machado quanto Melo apontam que, na lógica de privilegiar quem já está no poder, o sistema político dá especial atenção aos donos de mandatos ou de cargos que conseguem usar a máquina pública.

“Imagina um jovem que vai disputar com alguém que já tem sede física, assessores e rede de relacionamento com prefeitos, vereadores”, diz o professor, salientando a condição de desvantagem dos que não têm “um aparelho” funcionando a seu favor.

Melo afirma ainda que são poucos os partidos que têm líderes carismáticos como Lula ou “chefões” como Valdemar da Costa Neto (PR) e Roberto Jefferson (PTB), que conseguem se manter fortes em suas respectivas legendas mesmo sem mandato.

Ainda assim, Pinheiro-Machado diz que, apesar de ser difícil, é possível romper com esse sistema.

“Sou otimista em relação às novas gerações e às novas formas de candidaturas que estão começando a se colocar na jogada; de pessoas que vieram dos novíssimos movimentos até de candidaturas ativistas, e mesmo de grupos mais ao centro e à direita”, diz.

“Há grupos que estão pensando também em amplas redes de renovação política e de formação de lideranças muito voltadas para questões técnicas.”

4. Tom do discurso político

Apesar das dificuldades impostas pelo sistema, os novatos também podem acabar criando dificuldades para si mesmos. Jovens ou neófitos na política nem sempre conseguem fugir do discurso tradicional e impor um tom realmente novo.

Os especialistas, no entanto, são otimistas sobre a nova geração. Para Carlos Melo, há pessoas propondo novos tipos de organização mais horizontal e coletiva. E, principalmente, com um discurso que não desqualifica seus opositores. “Um novo jeito de fazer política está germinando de alguma forma”, diz.

Pinheiro-Machado acha que os mais jovens com menos de 20 anos já conseguem fugir do discurso convencional porque fazem parte de “uma geração completamente avessa ao sistema político”.

Ela admite, no entanto, que esta turma ainda deve demorar a assumir o poder. Enquanto isso, muitos dos que dizem querer mudar a política a partir das eleições de 2018 “falam mais do mesmo”.

5. Disposição do eleitor

A aparente pequena disposição do eleitor em mudar o sistema também é citada pelos pesquisadores como um dos fatores que dificulta essa renovação. Tamanha insatisfação com a política tem refletido no índice significativo de eleitores que prefere votar em ninguém.

Votos brancos e nulos crescem a cada pesquisa de intenção de votos e, segundo o Datafolha, atingiram neste mês patamares recordes. A depender do cenário, o número de pessoas que declara votar branco ou nulo varia de 17% a 28% na pesquisa Datafolha de junho, feita com mais de 2 mil pessoas em 174 municípios.

“São votos de protesto, de negação da política. A fase em que a gente está é de um mau humor terrível”, avalia Carlos Melo.

25 de junho de 2018

DISCURSO DO VEREADOR CESAR MAIA NA VOTAÇÃO DA ABSURDA CONTRIBUIÇÃO DOS APOSENTADOS!

1. Primeiro, a questão política. Ninguém vai imaginar – a cidade do Rio de Janeiro, os seus servidores – que a votação aqui é uma votação municipal. Não é municipal. Em 2018, temos eleições em nível estadual. Não tenham dúvida. A manifestação contrária aos servidores, de partidos ou futuros candidatos, terá projeção em nível estadual. Se amanhã sair uma listagem dos que votaram a favor e dos que votaram contra, é importante levá-la para as eleições de 2018 – para governo de estado, senador, deputado federal.

2. Este é um projeto de lei triste, porque atinge a liga municipal, principalmente, aqueles que são o capital da Prefeitura, e não o custeio. Isso eu aprendi com o meu pai e venho dizendo há muitos anos. Qual é o ganho que o município vai ter? Eles dizem R$ 70 milhões; isso é troco, Presidente. Mas não são R$ 70 milhões, é muito menos que isso. Poxa, nós estamos votando coisas aqui de forma sistemática. Aumenta-se o IPTU, vendem-se imóveis. Agora mesmo vai ter o tal de puxadinho, ou seja, um desastre urbanístico para Cidade do Rio de Janeiro, que se votou em 1ª discussão ontem. Uma calamidade! Eu já vi governos e iniciativas que afetassem a nossa cidade e a administração pública, mas igual à atual gestão, francamente, eu nunca vi. E, mais ainda, Presidente: do ponto de vista econômico, não vou entrar em tecnicalidades, mas essa besteira de dizer que as reservas técnicas num fundo de pensão são de R$ 2 bilhões, R$ 3 bilhões, R$ 4 bilhões… “Ah, isso é um fundo público, portanto, a massa dos servidores contribui”. Há garantia de que o empregador contribui também. É um besteirol, mas, não vamos tratar disso. Vamos tratar de coisa mais grave. É verdade que a economia brasileira vive uma crise nos últimos anos. No Rio de Janeiro menos; no Estado mais, por uma gestão desastrada. Agora, isso, Presidente, é uma curva. Na medida em que as receitas diminuem, não diminui para o resto da vida. Diminui por quanto? Três anos? Quatro anos? Agora, o arrocho em cima dos servidores, em cima de aposentados, em cima de pensionistas, paridade, esse arrocho é definitivo.

3. Há uma crise econômica e há uma perda de receita e, por causa, disso se aplica um arrocho contra os servidores, contra aposentados, contra pensionistas para o resto da vida. Isso é um massacre! Eu não consigo imaginar que num ato de reflexão, cada um de nós possa olhar a repercussão disso tudo no serviço público, nas famílias e coonestar com seu voto.

4. O servidor público não é custo, é capital! Isso vem sendo dito há muitos anos! Há muitos anos, eu venho dizendo isso! aprendi com o meu pai, servidor desde 1937, e assim tenho afirmado a minha posição. Como prefeito por três vezes, diziam que eu tomava decisões a favor do servidor. Alguma vez a Prefeitura ficou encalacrada com as concessões que foram feitas? Nunca. Senhor Presidente, uma coisa eu sei fazer: conta. A conta deles é mentirosa, é arrocho. Eu disse aqui, no início da atual administração, quando, em Audiência Pública, apresentaram que o Previ-Rio tinha um rombo de R$ 2 bilhões, eu disse que não eram R$ 200 milhões. Quando começaram a ser apresentadas as contas, não eram R$ 200 milhões – isso tudo é uma farsa. Espero que a consciência e a reflexão de todos nós levem o Prefeito e os vereadores a darem a volta por cima nesse quadro que se tenta criar; nessa troca de voto por algum tipo de favor, alguma promessa. Segunda-feira, acabou a promessa. Acabou a promessa e acabou o voto também.

5. Quando eu era Secretário de Fazenda, logo no início da gestão do Governador Brizola, o Secretário de Administração, Bayard Boiteux, trouxe um projeto de lei que criaria a paridade dos servidores, pela primeira vez no Brasil. Eu disse: “Bayard, eu vou fazer as contas”. Fiz as contas, levei ao Governador Brizola, que, com aquele jeito dele, disse: “Vou aprovar esse projeto de lei”. Iniciativa do Professor Bayard Boiteux. Eu fiz as contas e o Governador Brizola liderou esse processo e, pela primeira vez no Brasil, a paridade ao servidor foi conquistada e conseguida por lei.

22 de junho de 2018

BBC NEWS BRASIL ENTREVISTA O DEPUTADO RODRIGO MAIA, PRESIDENTE DA CÂMARA! 

BBC News Brasil – A última pesquisa de intenção de voto do Datafolha mostra o senhor oscilando de 1% a 2% das intenções de voto. Seria natural abandonar a ideia de candidatura presidencial?

Rodrigo Maia – Qual a diferença de 2% para 4% e de 4% para 6%? Nenhuma. Essa não pode ser a base de uma decisão. A base de uma decisão é a construção política de uma candidatura que possa aglutinar uma parte do tempo de televisão, uma parte dos partidos, e que tenha clareza de qual é o projeto que vai defender no processo eleitoral. Acredito que no momento não tem nenhuma decisão a ser tomada, até porque a sociedade não está nesse momento ainda olhando eleição.

Para não ser candidato (e apoiar outro nome) tem que ter uma motivação, de um programa, de ideias que a gente vem defendendo e que possam estar incorporadas numa outra candidatura. Ninguém vai poder decidir por pesquisa quem é o melhor ou o pior candidato nesse momento.

BBC News Brasil – Por que resolveu entrar na campanha presidencial? Muita gente vê como uma tentativa de se cacifar para se manter na presidência da Câmara no ano que vem, ou para valorizar o DEM nas negociações eleitorais.

Maia – Isso é besteira, porque (manter) a presidência da Câmara é muito mais provável sem uma pré-candidatura presidencial do que com pré-candidatura.

A sociedade vai decidir o vitorioso quando enxergar quem é candidato que pode pacificar, que pode unir o Brasil. De certa forma eu faço isso com algum resultado positivo na presidência da Câmara, mas isso ainda não foi enxergado como um ativo no processo pré-eleitoral até porque a crise econômica é muito grande, a crise política. A sociedade por enquanto está olhando os extremos, mas quando você faz uma (pesquisa de opinião) qualitativa, você vê que o resultado majoritário no final é (o desejo por) um perfil que represente esse perfil mais conciliador, que eu com certeza tenho.

BBC News Brasil – Se uma conversa com Ciro Gomes andar, o senhor estaria disposto a moderar sua agenda ou fará exigências a ele?

Maia – Eu acho engraçado os candidatos que se dizem no campo de centro (…). Na hora que amplia um pouquinho o que é centro, aí não pode. O Ciro não pode ser centro porque o Ciro tem mais competitividade do que alguns que estão no nosso campo (como Alckmin, Meirelles, etc).

Por que o ponto de vista ideológico do Ciro não pode estar dentro do centro? Por que só os políticos liberais na economia estão dentro do centro? Então não é centro, aí é centro-direita, vamos repactuar isso.

Então, partidos que estão fora desse núcleo do poder nos últimos 30 anos, como o DEM está fora, apesar de ter a presidência da Câmara, como o Álvaro Dias (pré-candidato a presidente pelo Podemos) está fora, como o PDT está fora. Eles podem tentar representar o centro. Não significa que eu vou pensar igual ao Ciro, ou que eu vou pensar igual ao Fernando Haddad. Mas eu tenho capacidade de sentar com o PDT e PT nessa mesa e construir uma agenda na Câmara dos Deputados, mesmo que às vezes eles votem contra, que a gente tenha posições divergentes.

Então, a questão do Ciro Gomes, primeiro, não teve nenhuma conversa. Nós vamos conversar, eu vou conversar.

BBC News Brasil – Sabemos que sua ascensão à presidência da Câmara foi a partir do diálogo com os vários campos políticos, mas o senhor tem propostas muito diferentes das de Ciro.

Maia – Claro, eu não estou dizendo que eu vou apoiar o Ciro, estou dizendo que eu vou dialogar com o Ciro. Em 2000, quando nós estávamos isolados no Rio, foi o Ciro Gomes que levou o PPS (então partido de Ciro) para apoiar a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia e foi fundamental na nossa vitória. Não é possível que agora eu não possa dialogar com o Ciro (…).

Eu tenho muita clareza que sem uma discussão de um novo Estado, de uma nova Previdência, não haverá espaço para a política se reconectar com a sociedade. O que aconteceu com a política nos últimos 30 anos? Grupos, lobbies de poder públicos e privados foram se apoderando do Estado brasileiro, segmentos do serviço público foram ganhando autonomia orçamentária, foram ganhando maiores salários. Por outro lado, setores da economia foram conseguindo benefícios, incentivos fiscais, conseguindo capturar parte do Orçamento da União. O que aconteceu hoje? O Estado brasileiro não tem mais condições de responder às demandas da sociedade.

BBC News Brasil – O senhor disse na semana passada que entre Bolsonaro e Ciro em um segundo turno, a princípio, hoje, apoiaria Ciro. Por quê?

Maia – Porque hoje eu conheço mais o que o Ciro pensa, a experiência dele como governador (de Ceará), como ministro (nos governos Lula e Itamar Franco), e no processo eleitoral eu vou conhecer melhor o que pensa o Bolsonaro. Pelo que o Bolsonaro falava no passado eu não tenho condição de votar, mas ele pode ter mudado.

BBC News Brasil – Mas o que ele disse que impediria seu apoio?

Maia – Ele historicamente tem votações aqui (na Câmara) mais nacionalistas, mais estatizantes, mas agora tem falado até de temas econômicos na linha mais liberal. Eu quero que o processo eleitoral me diga se ele de fato mudou.

BBC News Brasil – As declarações do Bolsonaro, muito violentas contra minorias, também seriam um fator para não apoiá-lo?

Maia – Eu acho que o Brasil precisa de conciliação. Não sei qual é a capacidade do Bolsonaro ou a vontade de compreender isso, eu acho que ele pode acreditar que essa polarização é o caminho dele. Ele tem feito assim e tem sido muito bem-sucedido para um político que não tem partido, não tem tantos aliados. (…) Claro, eu sou um político conservador, sou de um partido conservador nos valores, mas ele vai além disso (do conservadorismo) nas declarações dele ao longo dos últimos vinte anos.

BBC News Brasil – Por que o eleitor deveria esperar que um eventual governo Rodrigo Maia seja diferente do governo de Michel Temer, que é rejeitado pela população?

Maia – O governo do presidente Michel é um governo que paga um preço por outros motivos, fora da agenda econômica. Se o impeachment não tivesse ocorrido, onde estaria a economia brasileira hoje?

O que eu acho que falta ao governo (Temer) é uma articulação maior em outras políticas públicas. Por exemplo, quando o gás de cozinha subiu muito, e a base da sociedade passou a não ter mais condição de comprar gás de cozinha: faltou ao governo a capacidade de articulação para atender a essa parte da sociedade – especialmente as pessoas que estão no cadastro do Bolsa Família – e que perdeu a capacidade de cozinhar com gás.

Então acho que falta ao governo uma política mais articulada, onde a economia não fala por si só. A política econômica não vai resolver o problema da saúde, da educação.

BBC News Brasil – Mas o senhor é a favor da atual política de preços da Petrobras, certo? O que o senhor teria feito no caso do gás?

Maia – Não da política de aumento diário. O governo teve R$ 30 bilhões de excesso de arrecadação no Refis (de 2017). O governo poderia ter usado parte desse dinheiro para, no cadastro da Bolsa Família, no ano passado, ter colocado um recurso, como se fosse um vale gás. Como uma questão transitória, para amortizar os preços. É só isso. Não estou querendo interferência nos preços (da Petrobras).

Agora, o Brasil tem um problema hoje. O presidente Temer passou por duas denúncias (feitas pela PGR), com muito desgaste, que continua. E na cabeça da sociedade há o Lula e há o Michel. Não há a Dilma. O fundo do poço da Dilma, onde a economia caía muito, saiu da história. A cronologia da história hoje tem o Lula, e tem o Michel.

BBC News Brasil – Sem a reforma da Previdência, o Novo Regime Fiscal (criado pela “PEC do Teto de Gastos”) faz com que as aposentadorias consumam recursos de outras áreas – que começaram a ter problemas.

Maia – Vamos criar o conflito (por recursos). Porque se a gente não criar o conflito, todo ano é aumentar imposto para zerar o deficit do governo. Em todos os últimos 30 anos foi assim. Tirando a criação da PEC do Teto. Ela vai gerar restrições? Vai. Mas não são restrições graves. O Brasil não tem capacidade de investimento hoje.

BBC News Brasil – Quase metade do gasto com ciência e tecnologia evaporou em 2017, por exemplo.

Maia – Sim, mas o teto de gastos… só ele não explica o que você está falando. Nós temos uma relação entre a dívida (pública) e o PIB (a soma de tudo o que o país produz) crescente; nós temos um deficit público, um deficit primário muito alto (…). Olha o que se gastou do Estado. Onde foi parar esse dinheiro? Ninguém sabe.

Nós temos um deficit da Previdência que cresce todo ano, de forma líquida, mais de R$ 50 bilhões. Não é o teto de gastos que é o problema. Porque não adianta você liberar os gastos, que você vai ter que aumentar o endividamento (…).

Então o problema é muito mais grave do que falar que “a regra do teto de gastos reduziu o investimento com ciência e tecnologia”. Não é verdade. O que está reduzindo os investimentos no Brasil é a falta de capacidade do Orçamento de atender aos anseios da sociedade. Por quê? Porque ao longo dos últimos 30 anos, parte da sociedade foi atendida na questão tributária, na questão previdenciária, onde os maiores salários se aposentam mais cedo; nos incentivos (para setores econômicos); com salários altíssimos (do funcionalismo), onde piso e teto são muito próximos. Então vai ter que se rever tudo isso.

BBC News Brasil – É hora de taxar heranças, atualizar a tabela do Imposto de Renda e tornar o sistema tributário mais progressivo (penalizando menos os mais pobres)?

Maia – É claro que hoje, na tributação brasileira, você tem a renda que é pouco tributada, e o consumo que é muito tributado.

Isso (uma reforma tributária) tem que ser no contexto geral (feita de forma ampla), pois se você ficar olhando só uma parte, vai só aumentar alíquotas para aumentar a arrecadação. E essa (parte) não pode ser o foco da reforma. Por isso que eu acho que uma reforma do sistema (tributário) como um todo é o melhor.

Mas que esses temas estarão na ordem do dia de qualquer futuro governo, eles estarão. É só ver como vem crescendo o resultado dos dividendos nos últimos anos, para mostrar que tem alguma coisa errada. A pejotização, com todo mundo no Brasil virando pessoa jurídica para pagar menos tributo. Então isso tudo vai ter que ser rediscutido no Brasil.

Vamos ter que olhar, por exemplo, todos os benefícios fiscais que existem na aplicação de recursos dos rentistas, da renda fixa (…). Precisamos discutir também o incentivo (isenção de Imposto de Renda) que se tem à renda fixa na LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito Agrário), aquilo ali também é um benefício que não tem nenhum sentido de continuar existindo.

BBC News Brasil – As pesquisas eleitorais mostram que a maior parte do público indeciso no momento é de mulheres. A bancada do DEM, por exemplo, tem 43 deputados e só quatro mulheres. São quase todos homens brancos. Como o senhor vai dialogar com esses grupos do Brasil que não estão representados atualmente?

Maia – Nós (DEM) governamos a cidade de Salvador, que tem participação enorme de negros (…). Sempre tivemos uma agenda de valorização das mulheres. Nossa primeira secretária de Fazenda na Prefeitura do Rio (na gestão de César Maia, de 1993 a 1996) foi a Maria Silvia (Bastos), nós tivemos a (ex-deputada federal) Solange Amaral como nossa candidata a prefeita (do Rio, em 2008). Então a gente sempre incentivou a participação de outros segmentos da sociedade, e não só os políticos brancos, como você está colocando.

É óbvio que há a desigualdade, e é uma desigualdade maior que aquela discutida pelas cotas raciais, é uma desigualdade socioeconômica. E ela tem que ter políticas afirmativas, não tenho a menor dúvida disso.

Alguns defendem cotas, eu defendo, desde que fui presidente do partido, tenho defendido políticas socioeconômicas para reduzir desigualdades. Quando a gente olha os números da pobreza no Brasil, a gente percebe que metade dos brasileiros que vivem na pobreza, com até meio salário mínimo, estão no Nordeste. Então tem que ter um foco regional, um foco na renda, e um foco na questão racial.

BBC News Brasil – Se for presidente, terá ministros negros e mulheres?

Maia – É óbvio que um governo que sai das urnas sai com uma conciliação com a maior parte dos segmentos da sociedade (do que um governo que é resultado de impeachment). Então, se você ganha uma eleição presidencial, precisa que a sociedade esteja representada no seu governo.

BBC News Brasil – O senhor tem essa preocupação (com a diversidade)?

Maia – Claro que um governo que sai das urnas sai com uma conciliação com a maior parte dos segmentos da sociedade (do que um que é resultado de impeachment). Então, se você ganha uma eleição presidencial, precisa que a sociedade esteja representada no seu governo.

BBC News Brasil – O que o senhor faria com os programas sociais que se tornaram marcas do país, como Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos, Bolsa Família?

Maia – Especificamente o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) me parece que é um modelo que vai gerar muitos problemas para o Brasil. Porque não se pensou na possibilidade de ir aos poucos adensando os bairros constituídos, onde você tenha equipamentos públicos.

Onde eu conheço o MCMV, principalmente os maiores (conjuntos habitacionais), você está gerando transtornos para os moradores, falta de equipamentos públicos (escolas, postos de saúde, etc), muitas vezes falta de saneamento. A pessoa mora numa casa onde todo o esgoto é jogado em um valão ao lado. Não tem muitas vezes linha de ônibus, muito menos metrô e trem.

O Bolsa Família é uma política estritamente de gestão da pobreza. Não há uma política de mobilidade social. A política do Bolsa Família é importante. Mas não tem nenhum outro caráter que não o de administrar a pobreza.

Então o que temos que fazer é uma política pública focada nas crianças, a qual eu chamei de “Poupança da Criança”. A gente vai estimular fortemente os pais a fazer essa poupança, aumentando ano a ano. A cada ano de estudo, aumenta-se essa poupança. E quando terminar o ensino médio, ela vai ter a possibilidade de montar um pequeno negócio, ou de pagar sua própria faculdade. Uma política que estimule o foco na educação. Seria um programa além do Bolsa Família, para estimular a mobilidade social.

A questão dos Mais Médicos, dos cubanos, eu acho que a gente precisa repensar esse programa. Ele foi muito criticado pela área médica brasileira.

Claro que o debate sobre como vai se garantir médicos em regiões que não sejam as grandes cidades, tem que se pensar um programa para colocar mais médicos no interior do Brasil. Mas com outra qualidade. Não se pode cobrar dos médicos brasileiros uma qualidade no ensino, e trazer de fora médicos com qualidade duvidosa.

Foi importante, teve um papel (o programa). Onde não tinha ninguém chegaram (os médicos). Os prefeitos demandam. Mas é preciso repensar com o foco na medicina brasileira.

BBC News Brasil – O senhor acredita em uma terceira denúncia contra o presidente Michel Temer?

Maia – Este é um tema no qual não dá para trabalhar com hipóteses. A Procuradoria-Geral da República (PGR) tem a sua independência para trabalhar, o Judiciário para decidir, o Legislativo para legislar. Cada um no seu tempo. Se a decisão da PGR for essa (denunciar), é um direito dela. Não cabe à política ficar especulando, até porque essa especulação atrapalha muito a mínima estabilidade que a gente tem hoje no Brasil.

21 de junho de 2018

PROGRAMAÇÃO DE FORMAÇÃO POLÍTICA DE JOVENS DA FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER! 

Realizado no Panamá entre 9 e 13 de junho 2018. Relatório de Antônio Mariano, Presidente JDEM Rio de Janeiro.

9 de junho, sábado

“Estratégias de campanha: dificuldades e êxitos na mobilização política na Alemanha” – Johann Waschnewski (Prefeito de Burgel, Turingia)

–  Na cidade natal era responsável por organizar pequenos eventos para arrecadar fundos para atividade partidária.

–  Depois de um tempo, “quero fazer parte do Conselho Municipal e fazer mais”. Perdeu, mas foi eleito na segunda eleição, aos 23 anos. Na eleição seguinte, foi eleito vice prefeito. E prefeito aos 29 anos.

–  O principal é nunca prometer por prometer ou prometer demais, as pessoas tem expectativas e você não pode frustra-las

– Uma mensagem de campanha deve contar com 3 tópicos principais e 10 metas, não mais do que isso. E o melhor meio para transmitir isso é no porta a porta, olho no olho.

– O interesse político da juventude vem caindo. Nos jovens de 16 a 18 anos, quando já é permitido votar, a grande maioria diz “não vou votar, porque não gosto de política”. Solução: buscar fazer clubes dentro dos colégios para despertar o interesse, assim como existem clubes de esportes, por exemplo.

– “Nunca ocultei que era da CDU, mas tampouco foi a minha apresentação nos lugares, na verdade como estudei ciência política, aparecia no início mais como um acadêmico:  mas sempre digam a verdade.”

– O tempo é importante, mas é preciso ter perseverança, para alcançar os objetivos.

– Redes sociais: “aqui nós temos muito mais conhecimento que os mais velhos e temos de saber aproveitar isso”.

– Através dos canais digitais da Prefeitura, se aproximaram dos jovens, nem sempre falando apenas de política e sempre com uma linguagem informal.

– Se quiser estar presente sempre, em todos os eventos, caso falte, isso será notado. Então é preciso saber administrar o tempo e saber quais eventos deve ir e quais não seria vantajoso ir.

– Ser jovem não é motivo para ter medo dos desafios, pelo contrário.

– Formalidades afastam dos eleitores, “eu, por exemplo, sou Prefeito, mas nunca uso gravata, mesmo sabendo que Alemanha é um país muito formal”.

– Na Alemanha, se um jovem perde a eleição, o partido não vai pensar “agora perdeu sua oportunidade”, pelo contrário, continuam apostando, porque sabem que o candidato jovem é o futuro que vai levar a mensagem do partido. Os que se sentem mais ameaçados são os políticos na faixa dos 40-50 anos, mas depois dos 60, os políticos incentivam muito, porque sabem que já estão terminando a carreira. Além do mais, pensam “ele vai defender o que meu neto precisa, então preciso apoiá-lo.”

– Reuniões com multiplicadores não precisa ser sempre sobre política. Podem ser sobre outros temas, ou começar falando sobre futebol, por exemplo, para depois falar de política. E tome a liderança, se estiver em um churrasco, faça você a carne, para que os outros vejam que você tem pró atividade.

– Um grande erro cometido por políticos, quando são eleitos, é esquecer as bases do partido e perder o contato com elas.

– “Meus amigos de futebol detestam política, mas explico mostrando as ações e reações e as implicações no pequeno cotidiano, ajuda a criar consciência.”

– O jovem quando entra no partido, deve parar, escutar, aprender e pensar “é aqui que devo estar? Será que realmente combina comigo?” Caso sim, aí sim participar mais, falar e se posicionar.

– “Eu faço o que devo fazer, por isso não tenho medo da prestação de contas e da transparência, mas a comunicação deve ser sempre clara e fluída, caso contrário a população pode reclamar.”

– Ideal seria fazer uma pesquisa e descobrir quais áreas da cidade pensam o que o partido pensa, para ser mais eficiente na estratégia eleitoral.

– A presença em eventos pequenos é tão importante quanto nos grandes, ali o candidato tem maior interlocução e maior geração de empatia por quem o assiste.

“Partidos políticos e sociedade civil: a experiência da campanha de Sarre – Marc Speicher (Deputado da CDU no Parlamento de Sarre)

– Questão imigratória foi um problema em toda a Alemanha e causou sérias discussões entre CDU e a CSU, principal partido parceiro.

– De uma hora para a outra, a popularidade de Merkel caiu mais de 10%.

– As pesquisas mostravam a CDU muito atrás do SPD.

– No Sarre a maioria política é de esquerda, muito por conta da economia do estado, carvão e aço, que leva o SPD a ganhar popularidade entre os trabalhadores.

– Capacitação dos militantes por meio de um aplicativo de celular.

– Investimento em pesquisa para descobrir em quais regiões do estado a campanha deveria ser feita com mais força.

– Voto já pode ser eletrônico, e ainda por carta em alguns casos, como por exemplo, se a pessoa não puder ir votar no dia oficial da eleição. Pode fazer antecipadamente e durante um período de 6 semanas.

– A partir do ano de 2020, Sarre não pode mais endividar-se e irá cortar os gastos. Objetivo é garantir um crescimento saudável e constante.

– No início da campanha, investimento em eventos pequenos e de nicho. Maiores e públicos, apenas na reta final.

– Boas estratégias de campanha fizeram com que o resultado final fosse totalmente diferente do esperado no início, que era a derrota.

– CDU ganhou as eleições municipais em praticamente todos os municípios de Sarre, perdeu apenas em dois, para SPD.

– Cartas enviadas a nichos, com propostas voltadas para eles, como por exemplo, agências de turismo, dizendo que iriam fomentar mais o turismo no estado.

– Militantes do SPD votavam na CDU, porque queriam continuar no governo, mas liderados e não sendo protagonistas.

– Aplicativo utilizado na campanha serviu para mensurar o trabalho dos militantes, realizar cadastro e também compartilhar resultados.

– Importância de se manter um cadastro atualizado: ao enviar o pedido de voto para as casa das pessoas, centenas responderam “fulano morreu há muitos anos e vocês vem me pedir o voto dele?”

– Juventude da CDU tem mais de 120 mil membros, sendo a maior juventude partidária da Europa. Grande fator disso, é que você pode ser filiado na Juventude, mas não necessariamente ao partido.

– Apesar de Merkel ser a presidente da CDU há 18 anos, a participação feminina continua sendo de apenas 28%, número igual do ano 2000.

– Os partidos populistas nascem a partir da falha dos políticos tradicionais, dos governantes, em atender as demandas da população e isso tem sido um fenômeno mundial.

“Exemplos de mobilização nos países representados” – Soren Soika (KAS)

– Apresentação de situações políticas nos mais diversos países da América Latina.

– Conclusão de que o extremismo político não é exclusivo da nossa crise, mas está presente em todo o continente. Na Colômbia, por exemplo, há quem diga quem um candidato é a implantação do chavismo e o outro é ter apoio dos paramilitares.

– Fruto do descrédito contínuo das instituições.

– “Políticos dizem que é importante participar e renovar, mas na hora de permitir maior participação dentro das estruturas partidárias, impõe todas as barreiras possíveis. É óbvio que os movimentos sociais vão crescer e servir de opção ao partidarismo tradicional.”

– “Não adianta o discurso do político ser um, mas na prática ser outro. Com a velocidade e a capilaridade da informação, o cidadão deixou de acreditar no que o político diz.”

“Red Somos la KAS: propostas para o futuro” – Soren Soika (KAS)

– Mesa redonda com apresentação de propostas de trabalho e de integração para a Rede Somos la KAS, apresentadas pelos participantes.

10 de junho, domingo

“Mobilização através de uma comunicação moderna: a experiência da Província de Buenos Aires” – Federico Suárez (Ministro de Comunicação da Província de Buenos Aires)

– Mudança de paradigma, com o cidadão do século XX convivendo com o cidadão do século XXI e mudança na estrutura de representação (muito mais horizontal do que antes).

– Teoria do novo eleitor: cidadão protagonista, mudança na comunicação, saturação de informações.

– “Da velha política vertical para uma relação horizontal.”

– Comunicar, no século XX, era dar uma mensagem que deveria ser compartilhada. No século XXI é conversar, conversas estas que competem entre si por conta do excesso de informação.

– Atualmente a participação não gera institucionalidade (participação em partidos, por exemplo).

– O objetivo de gerar conversas é captar a atenção para as conversas sociais.

– Coisas da sua intimidade, esquemas disruptivos que chamem a atenção e apelar para mais emoção são construções de uma nova mensagem.

– Quando Macri perdeu o governo de Buenos Aires, foi feito um estudo para identificar potencializar suas qualidades e amenizar seus defeitos. Havia muita rejeição pelo seu passado no mundo empresarial, o que foi mitigado para as eleições de 2007, quando foi eleito.

– “O que fazemos e o que falamos é sempre planificado.”

– Estratégias: temas, conceitos, mensagens e canais de comunicação.

– O que se faz, se comunica e o que se comunica, se faz.

– Valores que nos definem: a sã rebeldia contra a velha política, a capacidade de liderança sem personalismo, dizer a verdade, escutar e humildade.

– Valores da Província de Buenos Aires: 1) Fazer, para a população recuperar a percepção de que o governo pode realizar e concluir as obras e; 2) Estar,

– Ao assumirem o governo da Província de Buenos Aires, a capacidade de investimento era de apenas 3% do orçamento, após mudanças, cortes e boa gestão, aumentou para 8%. Um recorde histórico.

– Se um governo tem mais de três eixos, não vai comunicar nenhum. Os escolhidos pela Província foram inclusão, obras e segurança. Depois incluem-se outros temas debaixo do guarda chuva destes três.

– Três eixos de trabalho da comunicação: a agenda da governadora, a imagem do governo como um todo e não setorizado (a população não diferencia os distintos órgão públicos) e a capilaridade (saber diferenciar a mensagem entre as mais diferentes regiões da Província).

– O banco de dados dos moradores da Província está tão bem tratado e atualizado, que o governo consegue mandar uma mensagem aos moradores de um único quarteirão por todos os meios possíveis (SMS, e-mail, redes sociais, etc.) para avisar, por exemplo, que o asfalto está sendo colocado nas ruas próximas.

– Foco das mensagens devem sempre ter três ideias principais: 1) o que?, 2) para quem? e 3) como?

– Etapas da campanha: direção, estratégia, tática, técnica/produção e resultado. Estratégia é da coordenação de campanha, tática do escalão abaixo e produção ainda mais baixo (base).

– Estamos no começo da mudança de paradigma, então não sabemos como a comunicação política vai evoluir nos próximos anos. O que demorava 70 anos para atingir milhões de pessoas, hoje demora menos de um ano. Então, se continuamos a fazer comunicação pensando no século XX, nunca vamos atingir o eleitor do século XXI.

– O centro da atividade política não é mais o político, mas o cidadão, ele é quem deve ser a sua principal mensagem.

“Estratégias digitais e territórios de comunicação” – Juan Manuel Ricciarelli (assessor de comunicação do PRO, Argentina)

– Tudo o que foi planejado em janeiro, precisa ser mudado.

– Uma equipe de 16 milhões de habitantes.

– As ligações aos cidadãos são estratégias que funcionaram com Macri e o PRO expandiu para outros mandatos.

– Comunicação capilar é atender a realidade local, contar o que está sendo feito em cada município da Província e segmentar a comunicação.

– Segmentação: geográfica (agenda, território, eventos, formadores de opinião) > demográfica (estudos qualitativos) > por interesses (conhecimento dos perfis, interesses, gostos) > um a um (base de dados) > hiper segmentação (individual).

– Os valores e as mensagens devem sempre ser positivos, alegres e transmitir confiança no futuro, no progresso e no esforço que vai ser realizado.

– Em um cenário de incertezas, sem dinheiro e com pouca recepção por parte da população, o ideal, a curto prazo, é investir em redes sociais – barato e massivo – mas além disso, fazer um trabalho de imagem de longo prazo.

– Decisões não são tomadas baseadas em emoções.

20 de junho de 2018

RELATÓRIO DA REUNIÃO DO COMITÊ EXECUTIVO DA ORGANIZAÇÃO DEMOCRATA CRISTÃ DAS AMÉRICAS (ODCA) – BOGOTÁ, 13-14/06/2018!

1. Informe do presidente da Organização Democrata Cristã das Américas (ODCA), La Torre, sobre a situação política de diversos países, destacando a grave situação da Venezuela e da Nicarágua e nenhum avanço em Cuba.

2. O informe incluiu críticas à IDC e Pastrana, seu presidente, em relação ao ingresso de Creo do Equador e Renovacion Nacional do Chile, alegando que as decisões de Malta não constam em nenhuma ata. Presentes, a ex-presidente e o atual presidente do PDC do Chile, base das críticas.

3. Andres Hernandes, de Cuba, e Cesar Maia, do Brasil, discordaram. Andres explicou que a natureza da IDC não era a mesma da ODCA. Cesar Maia enfatizou que a IDC é de centro e incorpora partidos islâmicos, etc. E sublinhou que se está generalizando a reação do PDC do Chile que, aliás, desde a reunião de Roma se afastou da IDC, depois de longa inadimplência de cotas.

4. O Informe do presidente da ODCA incluiu as dificuldades que vem tendo com a F.  Konrad Adenauer, que está dando um tratamento à ODCA, hoje, muito diferente do que dava antes.

5. Na lista de participação do encontro, partidos mais relevantes são P. Conservador da Colômbia, Democratas do Brasil, PDC do Chile, PAN do México, PAC da Costa Rica, Partido Nacional de Honduras e PP do Panamá.

6. Na eleição parlamentar de março, na Colômbia, houve uma renovação de 70% no Senado. Quem perder o segundo turno presidencial assume como senador.

7. Efraim Cepeda do P. Conservador da Colômbia, presidente do Senado (vice regional da ODCA), concordou com Cesar Maia e disse que a questão da cocaína é o grande desafio do próximo governo. A área plantada dobrou (hoje 220 mil hectares) e o micro-tráfico cresceu muito, envolvendo jovens e menores.

8. Uribe se fortaleceu. E para evitar o risco da esquerda, o Partido Conservador apoia Duque, candidato de Uribe, no segundo turno. Cláusula Petro é como se denomina os riscos de sua vitória.

9. Corrupção atingiu duramente o Partido de la U. Presidente Santos -pra valer- não apoiou o candidato de seu partido, mas Fajardo, de centro, que quase vai para o segundo turno. Fajardo liberou seus eleitores e diz que vai votar em branco no segundo turno.

10. Haverá eleição para Controlador Geral. Proposta de Cepeda, aceita, é que seja escolhido entre as vítimas das FARC. A anistia aos guerrilheiros das FARC não alcança atos posteriores a 01/12/2016, o que gerou reação das FARC pelo envolvimento de um dirigente nacional que tem que ser extraditado aos EUA por tráfico de drogas.

11. Senado disponibiliza um aplicativo que dá ampla transparência à atividade dos senadores e acesso livre dos eleitores.

12. México, presidenciais em 1 de julho. Não há segundo turno. 80% acham que o país vai mal. Corrupção e impunidade no governo federal. Violência contra políticos, mais de 100 assassinados. Lopes Obrador, candidato de esquerda populista, lidera pesquisas. Anaya, candidato do PAN, chama a voto útil.

13. Uso total da máquina federal contra Anaya, inclusive pela PGR – Procuradoria Geral da República. Denúncias vazias procuram enfraquecer Anaya.

14. Nicarágua num total descontrole. Greve geral convocada, incluindo empresários. Situação insustentável. A mesada do petróleo acabou. Sergio Rodrigues: Ortega não tem vida alternativa ao Poder.

15. Honduras. Partido Nacional reeleito no segundo turno, apesar das tentativas de fraude e do uso das maras e gangues para intimidar.

16. PDC do Chile. Reforma eleitoral o afetou duramente com registro automático e voto voluntário, elevando o não-voto a 50%. Oposição independente a Piñera. Foram isolados para a eleição de novembro. Improvisaram a lista parlamentar. Há que ajustar e modernizar os temas mantendo a doutrina.

17. Hoje há que se ter uma organização dinâmica. Usar redes sociais. Erro incluir o p. Comunista na coligação anterior. Saída de dois grandes dirigentes -Soledad e Guthemberg- não afetou. Não foram seguidos. Duras críticas à decisão da IDC de incorporar a Renovacion Nacional.

18. Venezuela. Uma catástrofe. Se um deputado viaja ao exterior, perde o passaporte. Reforma ministerial completa para criar expectativa. Há que ter um programa junto aos países para absorver migrantes com dignidade. Tradicional Copei teve sua sigla sequestrada, proibida.

19. Argentina. Câmara dos Deputados aprovou a despenalização do aborto num placar apertado: 129 x 125. Vai para o Senado, onde deve ser aprovada. Greve dos caminhoneiros. Crise econômica. Inflação volta a crescer. Juros e câmbio num patamar alto.

20. Congresso da ODCA renovando a presidência e comitê executivo no final de maio de 2019 em San Jose da Costa Rica.

19 de junho de 2018

“DE 1990 A 2014, NO CONGRESSO, REELEIÇÃO NÃO É REGRA, MAS EXCEÇÃO”!

Marcos Augusto Gonçalves – Folha de S.Paulo, entrevista uma dupla de pesquisadores brasileiros, Eduardo Cavaliere, 23, e Otavio Miranda, 24, que arregaçou as mangas e partiu para levantar e analisar os números relativos à renovação do Congresso de 1986 a 2014 —o que eles chamam de “renovação orgânica” do Legislativo. Ele concluíram que:

1. No Congresso, reeleição não é regra, mas exceção; 75% dos deputados federais não ultrapassam o segundo mandato.

2. O excesso de nacionalização do debate público negligencia a complexidade da política local. Erros de avaliação do desempenho dos partidos levam a conclusões equivocadas sobre o Congresso. Por exemplo, apesar do bom resultado em eleições presidenciais, ao longo da história o pior desempenho eleitoral do PT, por regiões, é no Nordeste. O partido, aliás, elegeu mais deputados federais que o PSDB em São Paulo.

3. Um número muito baixo (2,88%) de deputados federais venceu eleições majoritárias seguintes ao mandato no Legislativo.

4. Não existe nenhum exemplo concreto na história brasileira em que o fortalecimento conjunto de jovens, figuras inexperientes e ativistas tenha desaguado em imediata melhora qualitativa na resolução dos principais gargalos da vida pública.

Na entrevista que se segue, os dois apresentam os diversos aspectos da pesquisa e comentam o debate acerca da renovação política no país.

MAG: Diversos movimentos têm defendido a necessidade de levar gente nova para a política no Brasil. Também se difunde a ideia de que um outsider seria uma solução contra a política tradicional. O que os dados levantados por vocês dizem sobre essas visões? Como tem sido a renovação do Congresso, por exemplo?

EC/OM: Há uma diferença significativa entre a percepção geral e os números sobre a renovação no Congresso. Ao compararmos a quantidade de reeleições de deputados, numa série histórica, os números indicam que grande parte dos congressistas têm “vida curta”, contrariando, por exemplo, a percepção de que apenas “raposas velhas” ocupam a Câmara.

De 1990 a 2014, no Congresso, reeleição não é regra, mas exceção. Nesse período, cerca de 25% dos deputados federais ultrapassaram o segundo mandato. Quer dizer, há muito mais deputados eleitos uma ou duas vezes do que figuras reeleitas indefinidamente. No mesmo período, cerca de 21% dos senadores foram reeleitos. Números bem menores do que a percepção popular.

Entre os deputados eleitos nesse período, em torno de 57% estiveram na Câmara por um mandato e 21% conquistaram um segundo, reeleitos de maneira contínua ou após um breve período de interrupção.

No Brasil, o percentual de deputados eleitos cai bastante conforme se adicionam mandatos. Aproximadamente 11% alcançaram a marca dos 3 mandatos, 5,3% conquistaram 4 mandatos, 3,3% tiveram 5 e só 2,4% chegaram a 6. [Para comparar,] nos EUA, na legislatura atual, apenas 13% da Câmara é representada por deputados de primeiro mandato.

MAG: Temos então muita rotatividade no Congresso?

EC/OM: A verdade é que temos um dos Legislativos mais rotativos do mundo. Em relação a democracias consolidadas, a renovação do Congresso brasileiro está acima da média de países comparáveis.

Em 2014, 53% dos deputados federais brasileiros foram reeleitos, enquanto que 95% dos congressistas americanos, 90% dos britânicos, 88% dos espanhóis, 80% dos australianos e 72% dos canadenses se reelegeram. A baixíssima renovação em cada um desses países é razão de atraso ou ausência de progresso nacional? Improvável.

18 de junho de 2018

PREFEITURA DO RIO QUER PRIVATIZAR O CENTRO DE TRADIÇÕES NORDESTINAS/FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO!

(Globo, 16) 1. Principal reduto nordestino no Rio desde que foi criada, em 1945, a Feira de São Cristóvão, como é chamado o Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, espera receber até um milhão de pessoas na comemoração da maior festa de São João da cidade, que será aberta às 19h30 desta sexta-feira e só acaba em agosto.

2. Mas a esperança dos 634 feirantes de ver o lugar lotado em sua época mais agitada agora se mistura à preocupação com o futuro. Muita coisa deve mudar até o fim do ano no tradicional ponto turístico, visitado por três milhões de pessoas anualmente, mesmo público do Cristo Redentor.

3. Será lançado o edital de licitação para escolher uma empresa interessada em gerir o espaço, com repasses para a prefeitura, que alega nunca ter recebido nenhuma contrapartida por ceder o pavilhão onde a feira passou a funcionar em 2003 — antes, as barracas ficavam do lado de fora da estrutura de concreto.

4. Por outro lado, a prefeitura não cumpria suas obrigações com a feira firmadas na Lei 2052/93 e também no decreto 27.416, de 2006, criado para “fortalecer a Feira Nordestina de São Cristóvão” e “promover a divulgação de aspectos culturais, sociais e folclóricos do Nordeste brasileiro”. A empresa que vencer o edital será obrigada a realizar uma série de obras de melhoria. A mais importante será a troca da planta elétrica do lugar, planejada para suportar um consumo muito inferior ao atual.

5. Para Messina (secretário da Casa Civil da Prefeitura), o novo modelo de gestão vai aumentar o profissionalismo e o potencial turístico da feira, além de melhorar sua infraestrutura.— Todos os dias ocorrem em média quatro sobrecargas elétricas na feira. São curto-circuitos que podem até causar incêndios. A prefeitura poderia prorrogar o contrato com a empresa dos geradores de luz, mas não vai. Quem consome é que deve pagar — afirma o secretário. — Queremos uma feira profissional, que gere recursos para o município e ofereça segurança aos visitantes.

6. Segundo o secretário, a Lei 2052, criada em 1993 para estimular o crescimento da feira, pode ser alterada, e o decreto 27.416 terá que ser revogado. O decreto estabelece que os próprios feirantes são responsáveis por gerir o espaço, por meio de uma comissão composta por cinco representantes eleitos.

7. O mossoroense Gilberto Teixeira, de 64 anos, autor de três livros sobre a história da Feira de São Cristóvão, onde possui uma barraca desde 1997, critica a decisão. Ele também é diretor executivo do Instituto Cultural da Feira, criado há doze anos para produzir os projetos e eventos culturais do espaço.

8. — Sem democracia, não há legalidade. O primeiro a ser feito pelos feirantes é organizar uma eleição e escolher os cinco representantes legais da feira, como determina a Lei 2052. Depois disso, vamos conversar com os cinco eleitos para saber como proceder — afirma Gilberto, um dos líderes do movimento que conquistou o pavilhão em 2003.

9. Para o vereador e ex-prefeito Cesar Maia, autor do decreto 27.416, a mudança no modelo de gestão “pode ter consequências graves”.— Messina e Crivella deveriam conhecer a história da Feira de São Cristóvão. Eram barracas espalhadas na praça e nas calçadas fora do Pavilhão. Havia problemas graves de higiene e de violência.   A inclusão deles no Pavilhão com projeto e obras pagas pela Caixa Econômica e a Prefeitura, ocorreu num acordo de participação conforme o decreto registra. Ignorar a história e a parceria ocorrida e realizar uma simples privatização pode ter consequências graves em função de resistências e conflitos.

15 de junho de 2018

SÍRIA: 5,6 MILHÕES DE REFUGIADOS!

Mais de 920.000 deslocados em 2018. Um recorde desde o início do conflito

Estatísticas da ONU dão conta que, no total, 6,2 milhões de sírios abandonaram as suas casas no interior do país e cerca de 5,6 milhões continuam refugiados nos países vizinhos

Mais de 920.000 pessoas foram deslocadas na Síria durante os primeiros quatro meses do ano, um número recorde desde o início do conflito há sete anos, anunciou esta segunda-feira a ONU.

“Assistimos a um deslocamento em massa no interior da Síria (…) De janeiro a abril houve 920.000 novos deslocados”, declarou Panos Moumtzis, coordenador humanitário da ONU para a Síria, numa conferência de imprensa em Genebra.

“É o maior número de deslocados num curto período de tempo desde que o conflito começou”, adiantou.

No total, 6,2 milhões de sírios abandonaram as suas casas no interior do país e cerca de 5,6 milhões continuam refugiados nos países vizinhos, de acordo com os números das Nações Unidas.

Moumtzis precisou que os novos deslocados foram obrigados a partir devido à escalada dos combates no antigo bastião rebelde de Ghouta oriental, nos arredores de Damasco, e na província de Idleb (noroeste), que é quase na totalidade controlada por islamitas e grupos rebeldes extremistas.

Moumtzis teme que a situação em Idleb, onde vivem 2,5 milhões de pessoas, possa agravar a situação.

“Estamos preocupados por ver que 2,5 milhões de pessoas estão a ser cada vez mais empurradas para a fronteira turca”, disse, receando que “talvez não se tenha visto o pior da crise”.

Após a ofensiva bem-sucedida do regime contra a cidade de Alepo e na Ghouta oriental, os rebeldes e civis foram transferidos para Idleb, mas para os habitantes desta cidade “não há outra Idleb para onde os enviar”, sublinhou Moumtzis.

A guerra na Síria, desencadeada em 2011 pela repressão de manifestações pacíficas a favor de reformas democráticas, causou mais de 350.000 mortos e obrigou milhões a abandonarem as suas casas.

14 de junho de 2018

“NOVA DIREITA NA EUROPA CRESCE EMBALADA POR JOVENS! GRUPOS EXTRAPARLAMENTARES FORMAM BASE DE APOIO A PARTIDOS EXTREMISTAS”!

(Graça Ruether – Berlim – Globo, 11) 1. Um ano depois da vitória de Emmanuel Macron na França, que teve o efeito de frear provisoriamente a ascensão de Marine Le Pen, o fantasma da extrema-direita volta a assustar a Europa. Em Áustria, Itália, Eslovênia, Bulgária ou Dinamarca, populistas de direita participam de governos ou estão preparando-se para assumir o poder. No Leste Europeu, o grupo Visegrad, formado por Polônia, Hungria, República Tcheca e Eslováquia, desafia a União Europeia com a sua política de tolerância zero com refugiados.

2. Mas o que mais preocupa especialistas é a expansão de uma rede de organizações extraparlamentares com representantes em todos os setores da sociedade que formam a base de apoio aos partidos extremistas. Essa nova cultura juvenil é de extrema-direita, e grupos racistas (como o “movimento identitário”) ganharam fôlego com o tema refugiados e já se veem como a reedição da geração de 68, com a diferença de que, ao contrário dos seus pais, preferem hoje o patriotismo e uma sociedade homogênea do ponto de vista étnico.

3. Para Johanna Bussemer, da Fundação Rosa Luxemburgo, os partidos e organizações da “nova direita” são perigosos porque cumprem as suas ameaças, como indica a última decisão do governo austríaco de aliança conservadora/extrema-direita de fechar mesquitas e deportar imãs, sob a acusação de praticarem o “Islã politico”.

4. Considerado pelo embaixador americano em Berlim, Richard Grenell, um “popstar”, o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, começou a pôr em prática o programa de governo negociado com o extremista Partido da Liberdade, ao anunciar o fechamento de sete mesquitas. Como explicou o próprio Kurz, que na próxima semana visita Berlim, a decisão visa a evitar radicais muçulmanos e o surgimento de “sociedades paralelas”. Mas seus críticos, como Helgard Kramer, socióloga e cientista política da universidade da cidade tcheca de Ostrov, reagiram alarmados: — Esse programa poderia ter saído também da pena do movimento identitário austríaco.

5. Os identitários da Áustria são um dos mais fortes da Europa de um movimento que vê a homogeneidade étnica do continente ameaçada pelo excesso de imigrantes de outras etnias. Como o Pegida de Dresden, atuam através da sua rede de apoiadores que praticam ações de grande visibilidade no estilo da ONG Greenpeace para aumentar a popularidade do grupo.

6. Um exemplo do efeito do trabalho das bases da nova direita é Götz Kubitschek, proprietário da Editora Antaios. Com o livro “Finis Germania”, do jornalista Peter Sieferle, a Antaios ajudou o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) e os identitários. A legenda foi eleita pela primeira vez para o Parlamento federal e os identitários ficaram conhecidos em todo o país com a ajuda do mecenas.

7. “Finis Germania” é um best seller que aborda o “perigo” do desaparecimento da etnia alemã em consequência da imigração em massa, tema que mais movimenta a nova direita. Kubitschek, de 46 anos, é o seu ideólogo. Com a editora — que tem outros títulos, como a revista “Sezession” — ele ajuda a tornar populares os temas de interesse da direita. O debate sobre os assuntos lançados por Kubitschek influencia os jovens a aderir aos partidos e organizações extraparlamentares. — Esses jovens da nova direita são a nova geração de 1968. Em comum com os 68, eles têm o interesse pela música pop. O rock de extrema-direita é apreciado até por jovens que não se interessam por política, como os irmãos de Daniel Fiss, vice-chefe do movimento identitário da Alemanha.

8. Mas aí terminam os pontos em comum. Para a nova direita, um elemento importante do espírito patriótico é o restabelecimento da homogeneidade étnica através da “frente ideológica de combate à imigração e ao multiculturalismo”. — Não somos monstros. Queremos apenas abrir o debate sobre quanta imigração a Europa é capaz de absorver — afirmou Fiss. A biografia do estudante de ciências políticas da Universidade de Rostock é um exemplo sobre como a nova direita procura ser simpática, evita as polêmicas como elogiar nazistas ou negar o Holocausto, mas tem no seu programa a mesma meta racista.

9. Os identitários atuam desde o ano passado no Mediterrâneo para salvar os fugitivos da morte por afogamento, mas devolvendo-os à África. Para Johanna Bussemer, a nova direita está crescendo também por motivos econômicos. — A desigualdade social aumentou na Europa, e os mais pobres ficam vulneráveis ao apelo dos extremistas. Isso explica porque ela é mais forte nos países do Leste Europeu — sustentou.

10. Mas Fiss, dono de uma gráfica, destacou que ele e seus colegas não têm motivação apenas material. O estudante vive com os pais e dois irmãos na cidade portuária de Rostock, onde praticamente não vivem imigrantes. Mas ainda assim ele se engaja na extrema-direita contra a ameaça fantasma. — Cada país tem o direito de decidir se quer ou não imigrantes — afirmou Fiss.

11. Nos eventos do grupo, a formulação é menos cautelosa. No estilo do livro “Finis Germania”, os encontros são realizados com debates contra a globalização e a favor da homogeneidade étnica. Fundado na França, em 2003, o movimento identitário expandiu-se rapidamente na Europa. No início, não foi visto como extremista pelo seu distanciamento dos nazistas clássicos. — Nós não negamos o Holocausto, consideramos a ditadura nazista criminosa, mas assim mesmo não queremos ver as nossas cidades com grandes populações de minorias estrangeiras — concluiu.

13 de junho de 2018

ELEIÇÕES E VOLATILIDADE DA OPINIÃO PÚBLICA! ELEIÇÃO PRESIDENCIAL 2018! 

1. Nos últimos anos, as pesquisas eleitorais divulgadas mostram números que muitas vezes ficam longe do resultado eleitoral. Independente de inversão ou não dos números, a diferença proporcional entre as intenções de voto e o voto tem sido significativa.

2. Partindo do princípio que as pesquisas dos institutos de maior qualidade e tradição representam a opinião dos eleitores em cada momento, não há nenhuma razão para que após as eleições a decisão de voto tomada tenha sustentabilidade no tempo.

3. O regime parlamentarista, pela flexibilidade que incorpora, pode corrigir essa variação num período maior.

4. Mas o regime presidencialista não tem essa flexibilidade, e a inversão da opinião pública pode produzir forte desgaste dos governos e crises políticas, como se tem visto mundo afora.

5. O sistema eleitoral é muito menos volátil no voto distrital puro, como no Reino Unido e nos Estados Unidos. O voto proporcional é muito mais volátil, especialmente nos dias de hoje. E muito mais na medida que essa volatilidade ocorre entre os partidos e até na existência dos mesmos, como na Itália e Espanha, recentemente, para citar apenas 2 exemplos de democracias amadurecidas. E Europa Central e América Latina em geral.

6. Os Institutos de Pesquisa têm explicado essas diferenças entre tendências nas pesquisas e resultados, afirmando que, cada vez mais, os eleitores deixam para a última hora suas decisões.

7. Poder-se-ia supor que entre as pessoas menos informadas ou menos ligadas ao processo político e eleitoral, a volatilidade tenderia a ser maior.

8. Mas em 2018, na campanha pré-eleitoral brasileira para presidente, isto ocorre entre os eleitores mais bem informados e mais conectados ao processo eleitoral, pois os resultados podem atingi-los.

9. Por exemplo, a “XP Investimentos” tem realizado sondagens mensais com investidores institucionais: 204 agora no início de junho. Num período de 30 dias ou pouco mais, a sondagem da XP Investimentos mostrou uma enorme variação nas resposta sobre “quem será o vencedor da eleição presidencial de 2018?”.

10. Em abril, Alckmin tinha 48% e nos dias 4/5 de junho 31%. Bolsonaro, em abril, tinha 29% e no início de junho 48%. Ciro Gomes tinha, em abril, 1% e agora no início de junho 13%. São números e diferenças enormes num espaço tão curto de tempo e entre pessoas das mais bem informadas, qualificadas e interessadas.

11. A sondagem da XP Investimentos, com essa gigantesca volatilidade em 30 dias, sugere que, mais do que nunca, as pesquisas de opinião serão apenas sinalizadores e que a decisão final do eleitor virá em cima da urna. Acompanhem sem ansiedade.

12 de junho de 2018

“A CRISE DA VELHA ORDEM POLÍTICA ESTÁ ADOTANDO MÚLTIPLAS FORMAS”! 

(Manuel Castells, sociólogo e referência em teoria da comunicação, professor emérito da Universidade da Califórnia em Berkeley – Trecho de RUPTURA – Ilustríssima- Folha de S.Paulo, 10) 1. Em tempos de incertezas costuma-se citar Gramsci quando não se sabe o que dizer. Em particular, sua célebre assertiva de que a velha ordem já não existe e a nova ainda está para nascer. O que pressupõe a necessidade de uma nova ordem depois da crise.

2. Mas não se contempla a hipótese do caos. Aposta-se no surgimento dessa nova ordem de uma nova política que substitua a obsoleta democracia liberal que, manifestamente, está caindo aos pedaços em todo o mundo, porque deixa de existir no único lugar em que pode perdurar: a mente dos cidadãos.

3. A crise dessa velha ordem política está adotando múltiplas formas. A subversão das instituições democráticas por caudilhos narcisistas que se apossam das molas do poder a partir da repugnância das pessoas com a podridão institucional e a injustiça social; a manipulação midiática das esperanças frustradas por encantadores de serpentes; a renovação aparente e transitória da representação política através da cooptação dos projetos de mudança; a consolidação de máfias no poder e de teocracias fundamentalistas, aproveitando as estratégias geopolíticas dos poderes mundiais; a pura e simples volta à brutalidade irrestrita do Estado em boa parte do mundo, da Rússia à China, da África neocolonial aos neofascismos do Leste Europeu e às marés ditatoriais na América Latina.

4. E, enfim, o entrincheiramento no cinismo político, disfarçado de possibilismo realista, dos restos da política partidária como forma de representação. Uma lenta agonia daquilo que foi essa ordem política.

5. De fato, a ruptura da relação institucional entre governantes e governados cria uma situação caótica que é particularmente problemática no contexto da evolução mais ampla de nossa existência como espécie no planeta azul. Isso no momento em que se questiona a habitabilidade deste planeta a partir da própria ação dos humanos e de nossa incapacidade de aplicar as medidas corretoras, de cuja necessidade estamos conscientes.

6. E no momento em que nosso extraordinário desenvolvimento tecnológico entra em contradição com nosso subdesenvolvimento político e ético, pondo nossas vidas nas mãos de nossas máquinas. E em que as condições ecológicas nas megalópoles, que concentram uma proporção crescente da população mundial, podem provocar, e de fato provocam, pandemias de todo tipo, que se transformam em mercado para as multinacionais farmacêuticas, esse malévolo poder que raptou e deformou a ciência da vida para seu exclusivo benefício.

7. Um planeta no qual a ameaça de um holocausto nuclear continua vigente pela loucura de endeusados governantes sem controle psiquiátrico. E no qual a capacidade tecnológica das novas formas de guerra, incluída a ciberguerra, prepara conflitos possivelmente mais atrozes do que os vividos no século 20. Sem que as instituições internacionais, dependentes dos Estados, e portanto da pequenez de objetivos, da corrupção e da falta de escrúpulos daqueles que os governam, sejam capazes de pôr em prática estratégias de sobrevivência para o bem comum.

8. A ruptura da mistificação ideológica de uma pseudo-representatividade institucional tem a vantagem da clareza da consciência a respeito de que mundo vivemos. Mas nos precipita na escuridão da incapacidade de decidir e atuar porque não temos instrumentos confiáveis para isso, particularmente no âmbito global em que pairam as ameaças sobre a vida.

9. A experiência histórica mostra que do fundo da opressão e do desespero surgem, sempre, movimentos sociais de diferentes formas que mudam as mentes e, através delas, as instituições. Como aconteceu com o movimento feminista, com a consciência ecológica, com os direitos humanos. Mas também sabemos que, até agora, as mudanças profundas demandaram uma substituição institucional a partir da transformação das mentes. E é nesse nível, o político-institucional propriamente, que o caos continua imperando. Daí a esperança, abrigada por milhões, de uma nova política.

10. Contudo, quais são as formas possíveis dessa nova política? Não estaríamos diante do velho esquema da esquerda, de esperar a solução mediante o aparecimento de um novo partido, o autêntico transformador que finalmente seja a alavanca da salvação humana? E se tal partido não existir? E se não pudermos recorrer a uma força externa àquilo que somos e vivemos para além de nossa cotidianidade?

11. Qual é essa nova ordem que necessariamente deve existir e substituir aquilo que morre? Ou será que estamos numa situação historicamente nova, na qual nós, cada um de nós, devemos assumir a responsabilidade de nossas vidas, das de nossos filhos e de nossa humanidade, sem intermediários, na prática de cada dia, na multidimensionalidade de nossa existência?

12. Ah, a velha utopia autogestionária. Mas por que não? E, sobretudo, qual é a alternativa? Onde estão essas novas instituições dignas da confiança de nossa representação? Auscultei muitas sociedades nas duas últimas décadas. E não detecto sinais de nova vida democrática por trás das aparências.

13. Há projetos embrionários pelos quais tenho respeito e simpatia, sobretudo porque me emocionam a sinceridade e a generosidade de tanta gente. Mas não são instituições estáveis, não são protopartidos ou pré-Estados. São humanos agindo como humanos. Utilizando a capacidade de autocomunicação, deliberação e codecisão de que agora dispomos na Galáxia Internet. Pondo em prática o enorme caudal de informação e conhecimento de que dispomos para gerir nossos problemas. Resolvendo o que vai surgindo a cada instante. E reconstruindo de baixo para cima o tecido de nossas vidas, no pessoal e no social.

14. Utópico? Utópico é pensar que o poder destrutivo das atuais instituições pode deixar de se reproduzir em novas instituições criadas a partir da mesma matriz. E, já que a destruição de um Estado para criar outro leva necessariamente ao Terror, como já aprendemos no século 20, poderíamos experimentar e ter a paciência histórica de ver como os embriões de liberdade plantados em nossa mente por nossa prática vão crescendo e se transformando.

15. Não necessariamente para constituir uma ordem nova. Mas sim, quem sabe, para configurar um caos criativo no qual aprendamos a fluir com a vida, em vez de aprisioná-la em burocracias e programá-la em algoritmos. Dada nossa experiência histórica, aprender a viver no caos talvez não seja tão nocivo quanto conformar-se à disciplina de uma ordem.

11 de junho de 2018

PESQUISA DATAFOLHA MOSTRA BOLSONARO AQUÉM DO QUE SE PREVIA: SINAIS DE ESGOTAMENTO!

1. O Datafolha insiste num equívoco. Ao incluir Lula -que está inelegível- como candidato, distorce as respostas seguintes dos entrevistados, quando Lula é excluído. Com isso, há uma tendência de aumentar a porcentagem dos que não marcam nenhum dos demais. Foi o que ocorreu nesta pesquisa. Os “sem candidato” passaram de 21% para 33%.

2. Na lista sem Lula, Bolsonaro lidera com 19%, uns 3 pontos abaixo do que se projetava. Marina surpreende e, com 15%, abre sobre Ciro Gomes cinco pontos (10%) e sobre Alckmin oito pontos (7%).

3. Marina surpreende outra vez quando da intenção de voto no segundo turno. Pela primeira vez, vence Bolsonaro por 42% x 32%. Vence Ciro Gomes 41% x 29%. E vence Alckmin 42% x 27%.

4. De qualquer forma -independente da inclusão inicial do nome de Lula- e na lista sem ele, Bolsonaro fica aquém do que se projetava. Seus 19% sugerem que finalmente sua curva de intenções de voto está descendente. Tanto o noticiário negativo de sua cobertura quanto a artilharia das redes sociais lembrando suas declarações e entrevistas algum tempo atrás ajudam a explicar.

5. E estar 10 pontos atrás de Marina na hipótese de segundo turno, 2 pontos atrás de Ciro Gomes e empatado com Alckmin também no segundo turno reforçam a ideia que sua curva ascendente deve ter se esgotado. Em campanha, o pequeno tempo de TV e a pouca capilaridade de seus candidatos a deputado, governador e senador reforçará essa tendência.

6. Com isso, a atratividade de sua liderança folgada e ascendente diminuirá e, com isso, a adesão de outros partidos, a dificuldade na formação de sua chapa e o efeito traição que havia começado -de candidatos a governador, senador e deputados- também sofrerá percalço.

7. Sem Lula, Bolsonaro cresceu 2 pontos, Ciro Gomes cresceu 3 pontos e Marina, expressivos, 5 pontos. A se confirmar este quadro em outras pesquisas, sua ida ao segundo turno deixará de ser um fator seguro.

8. A taxa de rejeição a Bolsonaro (37%) é maior que a Alckmin (27%), à Marina (24%) e a Ciro Gomes (23%). No Datafolha, Bolsonaro tem 26% da intenção de votos entre os homens e, apenas, 12% entre as mulheres. No Centro-Sul, tem 21%, 12% no Nordeste. Tem 25% entre eleitores com curso superior, mas só 11% entre os com ensino fundamental.

9. O jogo agora está aberto, o que entusiasmará seus adversários pré-inscritos, assim como eventuais outsiders.

08 de junho de 2018

“NOSSOS LÍDERES POLÍTICOS SE ESQUECERAM DE DEDICAR PARTE DA VIDA PÚBLICA À FORMAÇÃO DE NOVOS QUADROS”!

(Ilona Szabó de Carvalho, Cientista Político – Folha de S. Paulo, 06) 1. Não está nos planos da maioria dos velhos caciques políticos passar o bastão, a não ser para membros da própria linhagem ou afilhados parte do mesmo projeto de poder. Escuto com frequência em fóruns de debates políticos homens brancos e de idade avançada, incluindo alguns líderes partidários, dizerem que não há novas lideranças no país e que teremos que nos contentar com o que temos.

2. Na prática, a história não é bem essa. O Brasil está repleto de novas lideranças competentes e inspiradoras em todos os setores, algumas delas inclusive tentando se acercar da política. Como sabemos, o sistema está fechado e repele sangue novo de qualidade. Os que tomam a decisão de tentar furar esse bloqueio precisam de doses cavalares de coragem e resiliência, e de todo o apoio que pudermos dar.

3. A verdade é que nossos líderes políticos não foram estratégicos o suficiente. Se esqueceram de dedicar parte da vida pública à formação de novos quadros que pudessem levar adiante o ideário de seus partidos. Sabemos que a vida pública demanda responsabilidade e imensos sacrifícios em democracias mundo afora. Preparar-se é fundamental. Conheço jovens que foram mobilizados e estrategicamente treinados por seus partidos para assumirem ministérios ou concorrerem a cargos eletivos em países da América do Norte, do Sul e da Europa Ocidental.

4. E por aqui, ainda hoje os atuais líderes, quero dizer, os donos dos partidos, com raras exceções, controlam e escolhem com mão de ferro quem pode disputar cargos em suas legendas, em especial os majoritários. Se você não é famoso ou não tem dinheiro, se der muita sorte consegue concorrer a algum cargo proporcional para ajudar a eleger os candidatos prioritários do mesmo dono do partido. Em vez de recompensar novas ideias e promover os que genuinamente querem servir e resolver os problemas da população, a classe política brasileira sofre de nepotismo e clientelismo.

5. Se você é mulher, os desafios aumentam. Conversei com três pré-candidatas ao Congresso Federal, da Bahia, Paraná e Amazonas. Os relatos são dramáticos. Enfrentam machismo, assédio, ameaças implícitas e explícitas de competidores dentro e fora de seus partidos. Uma delas me contou sobre a proibição real de entrar em sua cidade natal, curral eleitoral de outro candidato. A outra faz campanha no interior de seu estado com segurança após receber ameaças, e a terceira teve o marido, policial, também ameaçado por causa da pré-campanha.

6. Estamos em 2018. Temos a obrigação de participar da reinvenção do nosso sistema político. E, honestamente, precisamos promover uma mudança de geração. Devemos sempre reconhecer a contribuição das gerações anteriores, mas está claro que os que estão no poder não serão capazes de solucionar sozinhos os problemas gigantescos que, em boa parte, criaram.

7. A incapacidade de abrir espaço a novas lideranças políticas no Brasil tem profundas consequências. Um sistema político que não consegue se modernizar sofre colapso e, eventualmente, se desintegra. Hoje boa parte da classe política está atolada em corrupção e incapaz de posicionar o país no século 21. A reação é sentida nacionalmente com o surgimento da antipolítica no Brasil e a aversão pública ao establishment político.

8. Estamos vendo o impensável, incluindo pedidos pelo retorno do governo militar. A democratização e transparência das estruturas partidárias é condição para a reforma do sistema. Se isso falhar, a vítima pode ser a própria democracia. Alerta vermelho: ainda podemos virar esse jogo, mas precisamos começar agora.

07 de junho de 2018

ITÁLIA: DISCURSO DO PRIMEIRO-MINISTRO QUE ENTRA! ESPANHA: DISCURSO DO PRIMEIRO-MINISTRO QUE SAI!

1. ITÁLIA: CONTE!

O primeiro-ministro italiano discursou no Senado, defendendo redução da dívida pública, mas sem recorrer à austeridade.

“Hoje, estamos diante de vocês para vos pedir a confiança não só numa equipe de governo, mas também num projeto para a mudança de Itália”, disse o novo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, num discurso no Senado. “A verdade é que criamos uma mudança radical e estamos orgulhosos disso”, acrescentou, defendendo que Itália deve reduzir a sua enorme dívida pública, mas através do crescimento e não recorrendo a medidas de austeridade.

A coligação de governo, formada pelo Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema) e a Liga Norte (extrema-direita) conta com uma maioria de dez votos no Senado e ainda maior no Congresso dos Deputados, onde amanhã haverá um novo voto de confiança.

Conte, um professor de Direito de 53 anos, discursou ao lado dos dois vice-presidentes: o líder do M5E e ministro do Trabalho e Indústria, Luigi di Maio, e o líder da Liga Norte, Matteo Salvini, que ficou também com a pasta do Interior.

“As forças políticas que formam este governo têm sido acusadas de ser ‘populistas’ e ‘antissistema’. Se ‘populismo’ significa que a classe governante ouve as necessidades das pessoas e se ‘antissistema’ significa querer introduzir um novo sistema, que remove velhos privilégios e poder incrustado, então estas forças políticas merecem ambos os epítetos”, referiu.

A dívida pública italiana é a segunda maior da zona euro, depois da grega. “É hoje totalmente sustentável, mas deve contudo ser reduzida, numa perspectiva de crescimento econômico”, referiu o novo primeiro-ministro, alegando que é preciso reduzir a diferença de crescimento entre a Itália e a Europa. “É o nosso objetivo.”

“A Europa é a nossa casa”, assegurou ainda Conte, que lidera a coligação que quer também melhorar as relações com a Rússia. O primeiro-ministro defendeu “uma Europa mais forte, mas também mais justa”. Na sua opinião, as regras fiscais que gerem a zona euro devem ter como objetivo “ajudar os cidadãos”, uma discussão que Itália quer liderar.

Conte indicou que a prioridade do governo será a introdução de um novo rendimento universal para os mais necessitados, uma das promessas eleitorais do M5E, assim como travar a entrada irregular de migrantes, uma promessa da Liga. Conte disse que quer acabar com “o negócio da imigração, que cresceu fora de proporção, sob o mando da falsa solidariedade. Antes , Salvini defendera que a Itália vai deixar de ser “o campo de refugiados da Europa”.

Depois de garantir os votos de confiança, Conte irá viajar para o primeiro compromisso internacional: a cimeira do G7 no Canadá, que começa na sexta-feira.

2. ESPANHA: RAJOY!

Mariano Rajoy comunicou que abandona a liderança do Partido Popular (PP) e também a política. O anúncio surge apenas três dias após o socialista Pedro Sánchez tomar posse como chefe do Governo espanhol.

“Senti-me muito reconfortado pelo vosso apoio nestes dias que não foram fáceis para mim”, disse Rajoy. “Chegou o momento de colocar um ponto final nesta história. O PP deve avançar sob a liderança de outra pessoa. É o melhor para mim e para o PP”, acrescentou. “E creio que também para Espanha. Todo o resto não importa nada.”

Rajoy discursava num encontro do Comitê Executivo do PP, que terá agora de organizar um congresso extraordinário para escolher o novo líder. “Cumprirei o meu mandato até que elejais a pessoa que vai suceder-me.”

Diante dos seus pares, que o receberam com uma ovação, Rajoy passou em revista os seus anos no Palácio da Moncloa e mostrou-se pessimista em relação ao futuro do Governo atualmente em funções. “Hoje Espanha é governada por quem não ganhou quaisquer eleições gerais, o que é um grave precedente. E para o fazer faz-se acompanhar por independentistas e pela esquerda radical e populista. É um projeto débil, incerto e instável”.

Mariano Rajoy assumiu a presidência do PP em 2003, designado por José María Aznar. Desde então, perdeu duas eleições gerais (2004 e 2008) e venceu três (2011, 2015 e 2016). Presidiu ao Governo de Madrid durante quase sete anos (2011-2018).

06 de junho de 2018

QUASE TODOS OS CANDIDATOS, MAJORITÁRIOS E PROPORCIONAIS, DISPUTARÃO COMO “INDEPENDENTES”!

1. Bolsonaro deu a partida. Não terá candidato a governador em nenhum Estado. Quem quiser que o apoie. Será um prato feito para a fiscalização. Os candidatos a governador, senador e deputados que se cuidem.

2. Inversamente, em função da impopularidade do Presidente Temer, os candidatos do MDB e eventuais coligados vão procurar se descolar.

3. Vão proliferar os panfletos que, para driblar as irregularidades, virão com nomes de pessoas físicas, em cima do panfleto, afirmando: Fulamo apoia e embaixo listando uma chapa com todos os cruzamentos possíveis.

4. Como ao lado do nome desses “Fulanos” terão que vir seus registros legais, o trabalho da fiscalização terá que ser localizá-los e comprovar que realmente patrocinaram os panfletos, indo também atrás do nome das gráficas.

5. Será necessária uma fiscalização com lupa para enxergar o nome dos candidatos majoritários -sem expressão em pesquisas- das chapas, de forma a respeitar à legislação.

6. Os exemplos mais acima são os casos extremos e conhecidos. Mas com uma campanha em que praticamente todos os candidatos a presidente têm uma baixa porcentagem nas pesquisas, a atração à traição será generalizada.

7. Especialmente pela alta proporção de abstenção e votos brancos e nulos. Com isso, se forma um quadro de candidatos pulverizado, sinalizando para poderes legislativos igualmente pulverizados.

8. Se o presidente da República e os governadores têm tido tradicionalmente dificuldade em construir uma maioria orgânica no poder legislativo, agora muito, muito mais.

9. Poder-se-ia afirmar que este quadro gera vantagem para um ou outro candidato favorito. Mas isso só será verdade se o favoritismo for amplo e regionalmente espalhado.

10. Isso para presidente da República será raro. E para governador da mesma forma nos maiores colégios eleitorais.

11. Ou seja, uma eleição de candidatos “independentes”.

05 de junho de 2018

BLOG VOTO POSITIVO – PENSAR O RIO DE JANEIRO – ENTREVISTA COM O PROFESSOR MARCELO BURGOS!

1. Professor Marcelo Burgos, como chegou a essa profunda crise cívica na Cidade do Rio de Janeiro? A economia fragmentada do estado do Rio de Janeiro é causa ou consequência disso tudo que testemunhamos desde a passagem das Olimpíadas?

R: Crise social e política é uma condição latente ao Rio de Janeiro, que tem uma história caracterizada por descontinuidades político-administrativas (Brasília e a fusão dos estados são dois momentos extremamente complexos para a cidade), e por uma relação muito singular entre elite e povo, da qual também faz parte a forma pela qual a estrutura social está organizada em nosso espaço urbano. Nesse sentido, não seria exagero dizer que, aqui, a economia depende muito da política e da cultura popular, em uma escala muito maior do que em São Paulo, por exemplo, onde o mercado tem maior autonomia. A economia do petróleo e gás, a maior força dos interesses da indústria do turismo, e a presença mais marcante da principal empresa de comunicação do país na vida do Rio são, desse ponto de vista, alguns dos fatores que tornaram ainda mais complexa a estrutura econômico-social da cidade e da metrópole. Por um momento, parecia que os governos Cabral/Paes significavam uma virada que indicava que a burguesia finalmente tinha assumido o controle da gestão da cidade e do estado, mas logo ficou claro que o que se tinha era uma forma muito perversa e mafiosa de articulação entre o mercado e a política, que somente se sustentava a partir do controle da vida popular por máquinas políticas, inclusive de milícias, e também por estratégias de neutralização da mídia, do Ministério Público e do Poder Legislativo.

2. O Governo Federal sinalizou nos dois últimos anos com duas iniciativas que teria como objetivo superar a calamidade e salvar um campo político conservador. O acordo de ajuda financeira, que levou o Orçamento do Estado a se comprometer com uma ampla redução de sua capacidade de investimento, e a Intervenção Federal na Segurança Pública, que ainda não foi além das medidas “paliativas”. Qual a sua avaliação sobre essas iniciativas?

R: Talvez se pudesse afirmar que o custo político da ajuda financeira foi cobrado no momento da intervenção na segurança pública. A ajuda financeira foi uma costura complexa e inconclusa, que inclusive colocou a Cedae como moeda de troca, cobrada por um governo federal orientado por um fundamentalismo de mercado, e muito preocupado em dar satisfação a grupos financeiros nacionais e estrangeiros. Tratava-se de um momento extremamente frágil do governo estadual, mas o socorro federal não podia arranhar a ortodoxia com que o governo federal pretendia pautar sua macroeconomia. E qual será o saldo da operação financeira ainda não sabemos ao certo, pois também é verdade que o preço do barril de petróleo – de que tanto depende a economia do estado – voltou a subir, reduzindo momentaneamente a gravidade da situação. Por outro lado, com a intervenção militar deu-se quase o inverso: uma tentativa de usar o Rio para salvar o governo federal do que prometia ser – e ao que tudo indica será – um final melancólico do mandato do governo espúrio do Temer. Acuado pelas forças de segurança do estado, e por um quadro de descontrole em face das milícias, e ainda refém do acordo financeiro não cumprido com o governo federal, o governador Pezão se viu obrigado a aceitar a proposta, anulando-se. Como se vê, a operação financeira e a intervenção na segurança pública estão interligadas, como processos interdependentes, tendo sido o Rio, por sua importância na cena política do país, tomado como uma espécie de laboratório onde se experimenta um novo tipo de acordo federativo, que combina submissão ao mercado com submissão à autoridade militar. As consequências desse coquetel são visíveis a olho nu: profunda crise social e ausência completa de controle social sobre a política de segurança.

3. Uma longa sequência de demissões acompanha o estado do Rio de Janeiro. Sua grande maioria seriam trabalhadores da construção civil e muitos jovens não conseguem seu primeiro emprego. Há alguma solução política para isso? A força de candidatura do Deputado Jair Bolsonaro (PSL), de extrema-direita, teria essa base no Rio de Janeiro?

R: Sem dúvida, o Rio tem sido um dos estados que mais sofre com a crise econômica, política e social porque passa o país. A construção civil recuou no país inteiro, mas é claro que o dia seguinte ao do ciclo olímpico teve aqui um impacto mais violento. A ausência de respostas dos governos estadual e municipal para tentar criar frentes de trabalho agrava o quadro. Quanto ao Bolsonaro, é verdade que uma parcela da população que está disposta a votar nele vem desse segmento de trabalhadores desempregados. Mas sua base política parece bem mais sólida entre setores de classe média e classe média baixa, que de algum modo o veem como uma resposta ao problema da corrupção e da insegurança, e do que percebem como a impunidade dos criminosos.

4. O último campeonato carioca de futebol foi um dos que menos atraiu um público para os Estádios. Crise econômica, desemprego e a violência seriam algumas das explicações. Entretanto, não poderia ser uma mudança da postura do carioca em relação ao futebol uma vez que a Federação e os meios de comunicação lhe conferem mais um viés de espetáculo do que de diálogo entre torcedores e bairros?

R: É verdade que a questão do futebol não pode ser desvinculada do modelo arena-televisão que se construiu em torno dele. De fato, o crime cometido com a desfiguração do Maracanã deixou a cidade sem sua principal referência popular. Mas outros fatores também entram nessa equação, como a crise econômica e o desemprego, associada à elevação das vivências de todo tipo de violência. Mas se aceitarmos que parte dessas variáveis também estariam presentes no último campeonato brasileiro, e que neste caso a média do público dos times do Rio não foi inferior ao das principais praças de futebol do país, precisamos avaliar se, no caso do campeonato carioca, também não estaria presente uma deliberada desvalorização do certame regional, possivelmente em função da briga travada entre a FFERJ e a emissora que tem comprado os direitos de transmissão do campeonato. Seja como for, creio que o campeonato carioca continua sendo um evento muito querido pelo povo carioca.

5. Uma Agremiação de Escola de Samba do Grupo Especial teve um processo eleitoral recentemente marcado pelas denúncias disputa de influência da contravenção e das forças milicianas. O Senhor acredita que a iniciativa do Prefeito Marcelo Crivella (PRB) em reduzir verbas oficiais para as Escolas de Samba agravará esse cenário?

R: Infelizmente, muitas escolas de samba estão há muito tempo ligadas à contravenção, por outro lado, a essa altura há evidências de que bicheiros e milicianos disputam espaços mas também se unem em muitas ações, como no caso das máquinas de jogos “caça-níqueis”. O carnaval carioca é um espaço privilegiado de articulação com a vida popular, servindo por isso mesmo como via de capitalização política. Por isso, é claro que se o poder público recua muito, a tendência é a de se aumentar ainda mais os laços de dependência com outras formas de financiamento, bem como de submissão a contraventores e milicianos. Mas este é um terreno complexo, e talvez a pergunta formulada seja especialmente oportuna justamente porque nos obriga a colocar luz sobre a economia do carnaval, bem como sobre sua vida associativa. Afinal, se é verdade que a vida popular do Rio de Janeiro está submetida a um controle muito pesado de grupos paramilitares que atuam em parceria com grupos políticos, e se é verdade que a apropriação dos bens simbólicos do carnaval por esses grupos é parte importante desse controle, pode-se concluir que temos aqui uma agenda fundamental para trabalharmos pela emancipação popular.

6. O que aconteceu com o Associativismo de Bairro do carioca? O Senhor conhece alguma experiência positiva na atualidade?

R: O associativismo de bairro não morreu, o problema é que se ele fica muito desgarrado da vida da cidade em um sentido mais amplo, acaba refém da lógica do “não no meu quintal”, ou seja, de uma lógica puramente defensiva. Para que ele possa ter uma atuação mais cívica e democrática, é preciso valorizar sua relação com outras organizações e com a própria vida partidária. Acho que o movimento contra a construção da Linha 4 do metrô, realizado com muita energia por parte das associações de moradores, foi uma demonstração de força importante, pena que foi derrotado pela máfia do Cabral, que o ignorou completamente, implantando contra todas as opiniões em contrário “o linhão” que interliga Ipanema à Barra, de modo a atender interesses particularistas de seus sócios. Perdeu-se ali uma oportunidade de democratização real da vida da cidade. Hoje, vivemos um momento de recuo, fortemente guiado pela égide do medo, e por isso é compreensível que o associativismo de bairro tenha recuado tanto. Mas precisamos combater essa tendência, pois a cidade precisa muito dele.

7. Recentemente foi divulgado que o sociólogo Luiz Eduardo Soares fez uma reunião na sua residência para buscar a unidade da esquerda do Rio de Janeiro no primeiro turno. Essa ideia é utópica? Como avalia o quadro da esquerda fluminense desde as eleições de 2016?

R: O problema é qual a utopia? Ou seja, em nome do que estamos nos movendo. A construção de um estado e de uma cidade mais justos, com geração de empregos e renda, e ampliação do acesso à segurança pública, educação e cultura, saúde, habitação e mobilidade urbana; com a melhoria da infra estrutura urbana e de logística econômica; e com medidas concretas no sentido de favorecer a emancipação popular do jugo de grupos paramilitares e de máquinas políticas, tudo isso pressupõe a construção de um ambiente político pautado por uma articulação capaz de reunir diferentes atores em torno de um campo democrático, republicano e progressista. Acredito que essa construção pressupõe a organização de pontes comunicando diferentes grupos políticos, diferentes classes sociais e também diferentes gerações.

8. As pesquisas iniciais ao Senado indicam a possibilidade de vitória do filho do Deputado Federal Jair Bolsonaro e do vereador Cesar Maia pelo (DEM). Há espaço político para surpresas nas eleições para o Senado?

R: A família Bolsonaro se beneficia do medo e do caos, e também da cultura de escândalos de corrupção que caracteriza boa parte da grande mídia, e que ganhou espaço na agenda de parte do Judiciário. É preciso insistir que os Bolsonaros não têm qualquer compromisso com a democracia, e que embora vivam há muito tempo como parlamentares, apenas pretendem instrumentalizar a democracia para chegar ao poder, para no dia seguinte implantarem um governo autoritário, com ou sem o apoio militar. E o que é pior: ninguém poderá dizer que o chefe do clã não avisou. Por onde anda, tem dito isso em alto e bom som, e muitas vezes sob o aplauso de diferentes plateias. Ainda há tempo para tentar impedir esse gesto de loucura e de suicídio político que viria por parte de parcela do eleitorado, mas para isso será preciso estarmos mais atentos aos fatores que têm contribuído para impulsionar o projeto do clã. Quanto às surpresas, poderão acontecer, já que são duas vagas para o senado, e o cenário ainda está aberto.

04 de junho de 2018

ITÁLIA FORMA GOVERNO E DÁ EXEMPLO DE FLEXIBILIDADE POLÍTICA!

(Editorial Folha de S.Paulo, 01/06) 1.A queda de um primeiro-ministro e divergências para formar um governo não constituem propriamente novidade na Itália, habituada à volatilidade política e à rotatividade dos ocupantes do cargo. A solução encontrada para o impasse da vez, embora longe de garantir estabilidade, ao menos desfaz temores de que viesse a emergir um governo abertamente disposto a retirar o país da União Europeia.

2. O imbróglio começou quando o presidente italiano, Sergio Mattarella, rejeitou a indicação de Paolo Savona como ministro da Economia, justamente por seu euroceticismo —ele já classificara como “erro histórico” o país ter adotado a moeda única do bloco e falara da necessidade de um “plano B”.

3. O gesto do chefe de Estado deixou patente a desconfiança com a coalizão formada após as eleições de março, na qual nenhum partido obteve maioria parlamentar.

4. Mais votados no pleito, a Liga, de direita nacionalista, e o Movimento 5 Estrelas, autoproclamado antissistema, se uniram e decidiram bancar como premiê o professor de direito Giuseppe Conte, um neófito na vida pública.Este, porém, no intervalo de apenas quatro dias, renunciou à tarefa de montar seu ministério, em razão do veto a Savona.

5. Pois foram necessários outros quatro dias, somente, para Conte voltar a ser indicado para governar a Itália. Nesta quinta-feira (31), o presidente avalizou o gabinete, agora com outro nome para a economia: Giovanni Tria, cujas críticas ao europeísmo não despertam tanta preocupação nos mercados.
O acerto traz certo alívio por evitar a realização de novas eleições, em que as legendas com plataforma anti-UE poderiam ter um desempenho ainda mais expressivo.

6. Entretanto há razões para se recomendar cautela, dada a extravagância da aliança entre Liga e 5 Estrelas, na qual coabitam propostas como cortes de bilhões de euros em impostos e aumento de gastos com programas sociais.

7. Tudo isso, ressalte-se, num país cuja dívida pública chegou a 132% do Produto Interno Bruto em 2017, percentual que só ficou abaixo da convalescente Grécia (179%) entre as 28 nações do bloco europeu.

8. Compreende-se a insatisfação popular com a UE, em especial por causa da ajuda insuficiente ao governo italiano para lidar com o recente fluxo migratório oriundo do Oriente Médio e do Norte da África.

9. No tocante à economia, porém, cabe dizer que boa parte dos problemas italianos não nasceu por diretrizes de Bruxelas. Reconhecer esse fato e conduzir uma gestão que não se renda à faceta populista de seus fiadores estão entre os desafios do premiê Conte.