31 de março de 2017

A NECESSIDADE DE UM TRATAMENTO JUSTO ÀS MEDIDAS DE EXPULSÃO DE IMIGRANTES ILEGAIS DOS ESTADOS UNIDOS E DO RESTO DO MUNDO!

Apresentada pela Internacional Democrata de Centro (IDC) na reunião de Malta, 29/30 de março de 2017.

1. La IDC es consciente de la excepcional situación migratoria en el mundo y se hace eco de las consecuencias de las nuevas medidas de urgencia adoptadas por Estados Unidos que distan de la línea política de la comunidad internacional. Recuerda  que cualquier expulsión de una persona inmigrante, aun cuando este indocumentado o ilegal, y que no tenga delitos confirmados por sentencia firme, no solamente en los Estados Unidos de América, sino con carácter general aplicable a cualquier nación, deberá asegurar:

2. Que, se mantenga el máximo respeto a cada persona, garantizando el absoluto cumplimiento de los Derechos Humanos estipulados en la Declaración Universal de los Derechos Humanos, la Carta de San Francisco, y otras normas posteriores. Se da especial relevancia a que estas personas no sufran ni acoso, ni persecución, ni física, ni psicológica. Que cualquier proceso de expulsión se haga con toda garantía, absoluta transparencia y información en los informes de expulsión. Recuerda que cada caso deberá ser tratado de forma independiente (caso por caso) con todas las garantías jurídicas por la jurisdicción ordinaria y no Ad Hoc. En caso de expulsión debe concederse por lesa humanidad un período de adecuación a la situación y de traslado.

3. Que se tipifique el reconocimiento de la condición de arraigo por causas excepcionales tal y como es el caso ya en numerosos países, con objeto de probar en un tiempo prudencial, el posible arraigo familiar, laboral, económico y social de la persona, con independencia de su ilegalidad. En estos casos deben tenerse en cuenta también la adaptación a las normas y valores de país receptor.

4. Que se elabore un conjunto de alternativas de residencia en el estado expulsor. Dichas alternativas deberán incluir la opinión de Organizaciones Internacionales, Fundaciones, y ONGs, con objeto social en la defensa de los Derechos Humanos y Sociales.

30 de março de 2017

LEVAR OS CULPADOS À JUSTIÇA E APOIAR AS VÍTIMAS DO GENOCÍDIO DE DAESH (EI)!

Documento aprovado na reunião da Internacional Democrata de Centro (IDC) de Malta, em 29/30/2017.

1. Desde el 2014, Daesh ha estado cometiendo innumerables atrocidades en Siria, Iraq y los países de alrededor como asesinatos, torturas, violencia sexual, abducción, esclavitud, tráfico de personas, matrimonios forzados, trabajos forzados, conversiones forzadas, desplazamientos forzados, aborto forzado, extorsión, saqueos y destrucción de hogares, iglesias y lugares de oración entre otras cosas. Estas atrocidades han tenido un impacto desastroso en la demografía de las minorías, en especial los cristianos, Yazidíes y otras religiones minoritarias.

2. Se prevé que Daesh se expandirá hacia otras zonas de Oriente Medio y Norte de Africa. No obstante muchos de los combatientes extranjeros de Daesh pueden volver a sus países de origen. Gracias a las operaciones militares muchas zonas se han liberado. Hay esperanza para que se reconstruyan las comunidades. A los habitantes que han tenido que huir se les debe garantizar el derecho de retorno a sus tierras de origen y sus propiedades.

3. Por todo ello la IDC: – Aplaude el reconocimiento como genocidio perpetrado por Daesh tanto internacional como nacional de las atrocidades cometidas. Anima a la comunidad internacional a continuar por este camino. Hay que establecer avances en la persecución de los perpetradores y sus cómplices. – Enfatiza en la urgente necesidad de recoger evidencias relacionadas con las atrocidades cometidas por Daesh en Siria e Iraq (así como otros estados afectados) mediante un tribunal independiente internacional al efecto y designado en exclusiva para llevar a cabo esta labor.

4. Animamos a los parlamentos nacionales a introducir resoluciones y apoyar la creación de este tribunal. – Reivindica la importance de perseguir a los culpables de Daesh por su participación y complicidad en  inumerables atrocidades de genocidio, crímenes contra la humanidad y crímenes de guerra. Debe haber una mayor cooperación en materia de inteligencia entre los estados para ayudar a capturar a los criminales de Daesh, para prevenir crímenes en el futuro o evitar la extensión de la propaganda de Daesh así como una cooperación reforzada es necesaria.

5. Pide a la comunidad internacional a alcanzar mas objetivos para ayudar a las víctimas de las atrocidades de Daesh, incluyendo el apoyo a los responsables para la reconstrucción de la infraestructura básica de las áreas liberadas, limpieza de las minas y trampas en los campos y las casas, colaborando en la reintegración a la sociedad de las poblaciones vulnerables y desplazados internamente, ofreciendo acceso consistente y equitativo a la ayuda humanitaria para poblaciones vulnerables y apoyando sus esfuerzos para que puedan volver, estableciendo zonas seguras para las minorías religiosas, protegiendo a las comunidades de atrocidades futuras, asegurando el derecho a volver a sus tierras y casas de origen ayudándoles a reconstruir las comunidades.

6. Recalca la importancia de incluir a las minorías étnicas y religiosas en el proceso de decisión política con objeto de restaurar la estabilidad, la democracia y el estado de derecho en todas las zonas que estuvieron bajo el dominio de Daesh. – Pide a la comunidad internacional que asegure el patrimonio histórico y cultural de todas civilizaciones que estuvieron presentes en el área en conflicto.

29 de março de 2017

VÍNCULOS FORTES E VÍNCULOS FRACOS: RISCOS POLÍTICOS E REDES SOCIAIS NA INTERNET!

Trechos do artigo de Malcolm Gladwell (A Revolução não será twitada) que foi traduzido na Ilustríssima da Folha de SP.

1. A luta pelos direitos civis que engolfou o sul dos Estados Unidos nos anos 60 -aconteceu sem e-mail, mensagens de texto, Facebook ou Twitter. Dizem que o mundo passa por uma revolução. As novas ferramentas de redes sociais reinventaram o ativismo social. Com Facebook, Twitter e que tais, a relação tradicional entre autoridade política e vontade popular foi invertida, o que facilita a colaboração mútua e a organização dos desprovidos de poder e dá voz às suas preocupações.   Se antes os ativistas eram definidos por suas causas, agora são definidos pelas ferramentas que empregam e esses inovadores tendem ao solipsismo.                

2. Como escreveu Robert Darnton, “as maravilhas da tecnologia de comunicação no presente produziram uma falsa consciência sobre o passado -e até mesmo a percepção de que a comunicação não tem história, ou nada teve de importante a considerar antes dos dias da televisão e da internet”. Mas há mais um fator em jogo nesse desproporcional entusiasmo em relação às redes sociais. Parece que esquecemos o que é ativismo. Ativismo que desafia o status quo -e ataca problemas profundamente enraizados- não é para bundas-moles.

3. O que leva uma pessoa a esse tipo de ativismo?  O fator decisivo é o grau de conexão pessoal entre a pessoa e o movimento que participa. O ativismo de alto risco, é um fenômeno de “VÍNCULOS FORTES”.

4. VÍNCULOS FRACOS.  O ativismo associado às redes sociais nada tem em comum com isso. As plataformas dessas redes são construídas em torno de vínculos fracos. O Twitter é uma forma de seguir (ou ser seguido por) pessoas que talvez nunca tenha encontrado cara a cara. O Facebook é uma ferramenta para administrar o seu elenco de conhecidos, para manter contato com pessoas das quais de outra forma você teria poucas notícias. É por isso que se pode ter mil “amigos” no Facebook, coisa impossível na vida real.  Sob muitos aspectos, isso é maravilhoso. Há força nos vínculos fracos, como observou o sociólogo Mark Granovetter. Nossos conhecidos -e não nossos amigos- são a nossa maior fonte de novas ideias e informações. A internet nos permite explorar a potência dessas formas de conexão distante com eficiência maravilhosa.

5. É sensacional para a difusão de inovações, para a colaboração interdisciplinar, para integrar compradores e vendedores e para as funções logísticas das conquistas amorosas. Mas vínculos fracos raramente conduzem a ativismo de alto risco.  “As redes sociais são especialmente eficazes para reforçar a motivação”, escreveram Aaker e Smith. Mas NÃO é verdade. As redes sociais são eficazes para ampliar a participação -mas reduzindo o nível de motivação que a participação exige.  Em outras palavras, o ativismo no Facebook dá certo não ao motivar pessoas para que façam sacrifícios reais, mas sim ao motivá-las a fazer o que alguém faz quando não está motivado o bastante para um sacrifício real.

6. ALTO RISCO. O movimento dos direitos civis (anos 60), era ativismo de alto risco. Era também, e isso é importante, ativismo estratégico: um desafio ao establishment, montado com precisão e disciplina. “Cada grupo tinha uma missão definida e coordenava suas atividades por meio de estruturas de autoridade”, escreve Morris. “Os indivíduos eram responsáveis pelas tarefas que lhes eram designadas e conflitos importantes eram resolvidos pelo pastor, que em geral exercia a autoridade final sobre a congregação.”

7. HIERARQUIA. Essa é a segunda distinção crucial entre o ativismo tradicional e sua variante on-line: as redes sociais não se prestam a esse tipo de organização hierárquica.  O Facebook e sites semelhantes são ferramentas para a construção de redes e, em termos de estrutura e caráter, são o oposto das hierarquias. Ao contrário das hierarquias, com suas regras e procedimentos, as redes não são controladas por uma autoridade central e única. As decisões são tomadas por consenso, e os vínculos que unem as pessoas ao grupo são frouxos.  Essa estrutura torna as redes imensamente flexíveis e adaptáveis a situações de baixo risco.

8. Carecendo de uma estrutura centralizada de liderança e de linhas de autoridade claras, as redes encontram dificuldades reais para chegar a consensos e estabelecer metas. Como fazer escolhas difíceis sobre táticas, estratégias ou orientação filosófica quando todo mundo tem o mesmo poder?   De forma semelhante, a Al Qaeda era mais perigosa quando mantinha uma hierarquia unificada. Agora que se dissipou em rede, vem se mostrando bem menos eficaz. As desvantagens das redes pouco importam, quando não estão interessadas em mudança sistêmica -caso desejem apenas assustar, humilhar ou fazer barulho-, ou quando não precisam pensar estrategicamente. Mas, se o objetivo é combater um sistema poderoso e organizado, é preciso uma hierarquia.

9. PODER DE ORGANIZAÇÃO. Clay Shirky, professor na Universidade de Nova York, procura demonstrar o poder de organização da internet. Na opinião de Shirky, ilustra “a facilidade e rapidez com que um grupo pode ser mobilizado para o tipo certo de causa” na era da internet. Na opinião de Shirky, esse modelo de ativismo é superior. Mas, na verdade, NÃO passa de uma forma de organização que favorece as conexões de vínculo fraco que nos dão acesso a informações, em detrimento das conexões de vínculo forte que nos ajudam a perseverar diante do perigo.

10. Transfere nossas energias das entidades que promovem atividades estratégicas e disciplinadas para aquelas que promovem flexibilidade e adaptabilidade. Torna mais fácil aos ativistas se expressarem e, mais difícil, que essa expressão tenha algum impacto.  Os instrumentos de redes sociais estão aptos a tornar a ordem social existente mais eficiente. Não são inimigos naturais do status quo. Se, na sua opinião, o mundo só precisa de um ligeiro polimento, isso não deve lhe causar preocupação. Mas se você acredita em mudança essa tendência deveria incomodá-lo.

28 de março de 2017

HISTÓRIA DO COMBATE À FEBRE AMARELA NO BRASIL!

(BBC – Reino Unido, 23) 1. A febre amarela que reapareceu no Estado do Rio de Janeiro semana passada e voltou a espreitar áreas urbanas foi um dos principais desafios de saúde pública do Brasil do século 19 para 20. Eliminar a doença das cidades era condição essencial para abrir os portos ao comércio marítimo e a imigrantes estrangeiros e propagar a imagem de um país “moderno”. As lições deixadas por décadas de esforços para erradicar a doença e seu vetor, entretanto, foram ignoradas por governos recentes, dizem historiadores ouvidos pela BBC Brasil.

2. Ao longo do século 20, o combate à febre amarela impulsionou a pesquisa científica e o desenvolvimento de vacinas no Brasil e incluiu capítulos vitoriosos como a gradual eliminação da doença de áreas urbanas e a erradicação temporária do Aedes aegypti. A última epidemia urbana no país foi registrada em 1942, no Acre. Na mesma década, uma grande campanha regional capitaneada pela Organização Pan-Americana de Saúde começou a mobilizar governos na América Latina para se unir na luta contra o vetor – e declarou, em 1958, ter conseguido livrar onze países do Aedes aegypti, inclusive o Brasil. Em 1967, o mosquito reapareceu no Pará e reconquistou, gradualmente, o território nacional.

3. No início do século, epidemias de febre amarela eram constantes em grandes capitais portuárias da América Latina – como Rio, Buenos Aires e Havana. Os surtos no Brasil, associados a males como varíola, malária, tuberculose e peste bubônica – deram ao país a alcunha de “túmulo dos estrangeiros”.  “A febre amarela atingia sobretudo os recém-chegados. Acreditava-se que os aclimatados ganhavam algum tipo de imunidade”, conta o historiador Jaime Benchimol, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e especialista na turbulenta história da vacina contra a doença.

4. A má fama era justificada por episódios como o tenebroso destino do navio italiano Lombardia. Em 1895, quase todos os embarcados que chegaram ao Rio morreram de febre amarela – e uma nova tripulação teve que ser enviada da Itália para resgatar a embarcação no porto. Benchimol conta que a primeira grande epidemia no Rio ocorreu entre 1849 e 1850, e atingiu 90 mil pessoas de uma população então de 266 mil. Segundo dados da época, 4.160 morreram; segundo estimativas não oficiais, foram 15 mil mortos.  “Naqueles tempos, todo mundo conhecia alguém que tinha morrido de febre amarela, não importava a classe social”, conta o historiador.

5. A última epidemia de febre amarela no Rio foi entre 1928 e 1929, quando um surto inesperado na cidade e em 43 localidades do Estado deixou 436 mortes. Foi um choque para a população e a comunidade científica. Acreditava-se que a cidade tinha se livrado da doença em 1907, após as campanhas bem-sucedidas de Oswaldo Cruz.   Na última semana, a notícia de três casos de febre amarela no Estado do Rio – no município de Casimiro de Abreu – levou a população da capital fluminense a correr para postos de saúde atrás da vacina, acendendo o alerta na cidade e o temor de reurbanização da doença.

6. Na segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde passou a recomendar que turistas que visitem os Estados do Rio e de São Paulo se vacinem contra a doença. A nova recomendação exclui as principais áreas urbanas, não se estendendo ainda a Rio, Niterói, São Paulo e Campinas. No início do século 20, vencer a doença e outros males “tropicais” eram condição para catapultar à modernidade um Brasil que havia recém abolido a escravidão e ainda era uma jovem república.  “As doenças tropicais eram um símbolo de atraso, a prova de que o Brasil não conseguia controlar suas epidemias”, afirma a historiadora da ciência Ilana Löwy, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa Médica e de Saúde, na França.

7. “Eliminar a febre amarela era necessário para que o país pudesse se abrir para fora, se abrir para o comércio, imigrantes e turistas”, diz Löwy, que é polonesa e está no Rio como pesquisadora visitante da Fiocruz. Ela é autora do livro Vírus, mosquitos e modernidade. A febre amarela no Brasil entre ciência e política (Fiocruz, 2006).  Em muitos momentos, diz Löwy, o esforço foi uma questão política. Impulsionou o comércio externo, a política interna (na esteira do avanço das campanhas de saneamento pelo território nacional) e foi uma porta de entrada para a influência norte-americana, através do papel central no combate à doença exercido pela Fundação Rockefeller.

8. No projeto modernizador do presidente Rodrigues Alves (1902-1906), o arquiteto e urbanista Pereira Passos foi nomeado prefeito do Rio com a missão de “consertar os defeitos da capital que afetam e perturbam todo o desenvolvimento nacional”, nas palavras do então presidente; e o médico e sanitarista Oswaldo Cruz recebeu a missão de sanear o Rio – o que implicava combater as três maiores ameaças na época, a febre amarela, a varíola e a peste bubônica.  Cruz virou um herói nacional ao conseguir cumprir sua missão em poucos anos, implementando a campanha de vacinação obrigatória contra varíola – que causou, em 1904, a Revolta da Vacina – e combatendo os vetores da peste bubônica e da febre amarela – respectivamente, ratos e mosquitos.

9. Em 1907, recebia a medalha de ouro na premiação do Congresso de Higiene e Demografia de Berlim, na Alemanha, pelos feitos no combate a doenças no Rio. “A conquista de Oswaldo Cruz foi importante porque mudou a percepção do Rio no exterior”, diz o historiador Marcos Cueto, da Casa de Oswaldo Cruz.  “A cidade começou a ser percebida como um lugar seguro para o comércio marítimo, que era o motor da economia mundial. Começou a se criar a percepção de que um país tropical podia ter boa saúde pública, o que até então parecia impossível”, ressalta Cueto, editor científico da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos.

10. “Pouco depois, o presidente (norte-americano) Theodore Roosevelt visitou o Rio e a Fiocruz. Era uma demonstração de que aqui era um lugar seguro para o comércio.” Até então, navios que saíssem da capital tinham que cumprir quarentena antes de voltar para seus destinos para evitar que doenças como a febre amarela se alastrassem.  A mudança contribuiu para atrair mais imigrantes ao país. Naquele tempo, quem vinha para a “América” ainda ficava dividido entre Brasil, Argentina e Estados Unidos, lembra Cueto, já que as situações econômicas ainda estavam bem distantes das que se consolidaram ao longo do século.

11. Mas o poderio dos EUA crescia, e a maior fortuna petroleira do mundo, da família Rockefeller, criou, no começo do século 20, seu braço filantrópico, a Fundação Rockefeller. Em 1918, o grupo lançou uma campanha internacional de erradicação da febre amarela, que teve atuação decisiva no Brasil – e, a partir da era Vargas, desfrutou de autonomia para gerenciar as atividades de combate à febre amarela no país. A ambiciosa meta da fundação era eliminar a doença nas Américas e, depois, na África, conta o historiador Rodrigo Cesar da Silva Magalhães, que estudou a atuação da Rockefeller no Brasil em sua tese de doutorado, transformada no livro A erradicação do Aedes aegypti – Febre amarela, Fred Soper e saúde pública nas Américas (1918-1968) (Fiocruz, 2016).

12. Na época, ainda se acreditava que a doença se originara no continente americano e depois chegara à África. Só depois se chegou ao consenso de que o trajeto fora o contrário, e que o tráfico de escravos havia levado o Aedes aegypti e a febre amarela para o continente americano.  Magalhães conta que, em 1923, quando um primeiro acordo de cooperação foi assinado entre a Rockefeller e o governo brasileiro, os médicos brasileiros viram a chegada dos técnicos americanos com desconfiança. “Há uma resistência. Eles reagem se perguntando, ‘quem são esses caras que querem chegar para nos ensinar, se a gente teve Oswaldo Cruz?’ Mas quando veem a chance de implementar um programa nacional, começam a cooperar”, relata Magalhães.

13. A partir dos anos 1930, a Fundação Rockefeller cresceu em poder e importância no Brasil, desfrutando de relações mutuamente benéficas com o governo de Getúlio Vargas.  “Vargas usa a fundação para consolidar seu poder em território nacional, e a fundação vê nas suas boas relações com o governo a chance de consolidar uma campanha sanitária a nível nacional”, explica Magalhães.  O governo Vargas aproveitou as frentes abertas pela campanha sanitarista – com times de inspetores atuando nas cidades para combater o Aedes e buscando alianças com lideranças locais – para fortalecer a presença do Estado país afora.  “A saúde pavimentou o caminho para o Estado varguista exercer sua autoridade nos mais longínquos rincões do Brasil”, ressalta Magalhães.

14. Cobaias humanas e erros de percurs.  A primeira metade do século 20 vê uma série de avanços no conhecimento sobre a febre amarela. Em 1900, finalmente se comprovou o que o epidemiologista cubano Carlos Finlay já defendia havia 20 anos: a febre amarela é transmitida por mosquitos. Em Havana, iniciou-se a primeira campanha de combate à doença pelo ataque ao vetor, que seria reproduzida no Rio por Oswaldo Cruz.  No início dos anos 1930, descobriu-se que homens e mosquitos não são os únicos que carregam o vírus; estes também vivem, na forma silvestre da doença, em diversas espécies de macacos, seu hospedeiro natural nas florestas. Assim, mesmo quando eliminada das cidades, a doença tem “reservatórios naturais” de vírus na selva, e nunca poderia ser erradicada totalmente.

15. Em 1937, depois de anos de pesquisas e incontáveis testes com diferentes cepas do vírus da febre amarela, finalmente é descoberta uma vacina.  Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz e da Fundação Rockefeller chegaram a uma versão considerada adequada à imunização de grandes contingentes populacionais, e a vacina começou a ser produzida em larga escala no campus do Instituto Oswaldo Cruz.  Logo se procedeu à vacinação em massa em áreas rurais de Minas Gerais e na cidade do Rio de Janeiro – embora a vacina ainda estivesse “em fase de observação e experiência”, como afirmou à época o influente chefe do escritório da Fundação Rockefeller para a América do Sul, Fred Soper.

16. No livro Febre amarela, a doença e a vacina – uma história inacabada, o historiador Jaime Benchimol lembra que a pressa gerou protestos. Na época, o renomado entomologista Ângelo Moreira da Costa Lima, do Instituto Oswaldo Cruz, acusou a Fundação Rockefeller de estar usando o povo brasileiro como “cobaia de grave comprovação experimental”, enquanto nos EUA a decisão fora de protelar o início da vacinação.  “Tais acusações tiveram pouco eco, mas pelos padrões de hoje a vacinação jamais teria acontecido (com essa velocidade). Eles chegaram à vacina em 1937 e começaram a aplicar em contingentes consideráveis de gente. Foram afoitos”, considera o historiador.

27 de março de 2017

USO EQUIVOCADO DAS REDES SOCIAIS EM CAMPANHAS ELEITORAIS!

1. No Painel da Folha de SP, Vera Magalhães destacou, na época, o planejamento do PSDB para uso das redes sociais na campanha presidencial de 2014. Diz assim: O comando da campanha de Aécio Neves (PSDB) ao Palácio do Planalto montou uma força-tarefa para formar 9 mil militantes em todo o Brasil para atuar nas redes sociais a favor da candidatura do tucano. Até o fim de maio, serão 300 sessões de treinamento. Os militantes são orientados a difundir noticiário positivo de Aécio e críticas ao governo Dilma Rousseff. O PSDB bancará os custos com salas e equipamento. O PT fará evento semelhante, em abril, em São José dos Campos (SP). Segundo um dirigente tucano, a maior parte dos militantes é jovem e quase todos são voluntários. Reservadamente, o partido admite pagar uma ajuda de custo para incentivar a adesão ao programa.

2. Este EX-BLOG, em notas anteriores, sublinhou que os “turistas” nas redes sociais, acionados por interesse eleitoral, vendidos por agências que se dizem especializadas em marketing na internet, tem muito pouca ou nenhuma eficácia. As notas postadas nas redes têm um potencial efetivo de multiplicação quando são de iniciativa daqueles que já estão nas redes e, portanto, conhecem a sua rotina e avançaram em circunferências interativas de atenção.

3. Muito mais ainda. A lógica das redes parte da iniciativa dos indivíduos e não de máquinas partidárias ou organizações específicas. Quando essas são identificadas, a credibilidade dos repasses desmorona. E, principalmente, quando se trata de ação política orquestrada e verticalizada. Imagine notícias pasteurizadas e distribuídas para postagem dos 9 mil “contratados”.

4. Há um vetor correto na proposta: não fazer campanha explícita do candidato, mas multiplicar ideias que produzam convergência espontânea e sinergia com as ideias do candidato – a favor dele e contra seus adversários.

5. O que se deve fazer, e já deveriam ter feito há muito tempo, é identificar os militantes e simpatizantes que já estão nas redes, cotidiana e sistematicamente, e buscar com eles criar canais de informações que estes multiplicariam ou não, ajustando da forma que entenderem seus textos. O estímulo central não pode nunca tirar o caráter espontâneo das iniciativas individuais. Lembre-se que uma só pessoa na rede pode ter um multiplicador maior que os 9 mil. Identificar essas pessoas –militantes/simpatizante teria um valor agregado potencial milhares de vezes maior.

6. A publicidade na internet nos ensina isso. Empresas pagam para postar seus banners nos tipos de comunicação em rede de pessoas que já partem de um volume sensível de acessos.

24 de março de 2017

A PREVIDÊNCIA E A FEDERAÇÃO!

1. A decisão do presidente Temer de excluir da reforma da previdência os servidores dos governos estaduais e municipais, não foi um recuo ou um ganho dos críticos da reforma. Ao contrário: foi uma afirmação da integridade constitucional da reforma da previdência.

2. O Brasil é uma República Federativa, como afirma o artigo 1 da Constituição: formada pela união de Estados, Municípios e do Distrito Federal. A inclusão na lei de reforma previdenciária da previsão de que seu alcance atingiria também os servidores estaduais e municipais seria uma grave inconstitucionalidade.

3. Cabe a cada ente federado -e no caso do Brasil não só os Estados mas também os municípios- decidir sobre suas próprias instituições em suas constituições estaduais e suas leis orgânicas municipais e regulamentar na legislação complementar ou ordinária.

4. O fato de 3 Estados e alguns Municípios enfrentarem grave crise fiscal, não permite que, para dar cobertura as negociações desses Estados e Municípios com o Governo Federal, se atropele o caráter federativo de nossa Constituição.

5. O que os críticos da lei de reforma da previdência deveriam avaliar é quanto dos gastos da “previdência” não são gastos previdenciários, mas assistenciais. Os gastos são previdenciários sempre que tenha havido uma contribuição contínua, dando origem a um direito.

6. Não havendo essa contribuição, não se tratará de gasto previdenciário, mas de gasto assistencial.  E, sendo assim, deve ser contabilizado no orçamento fiscal e não previdenciário.

7. Isso não muda em nada o valor do déficit público global, apenas ordena o que cabe ao orçamento fiscal e o que cabe ao orçamento previdenciário.

23 de março de 2017

HOLANDA: O ÚLTIMO CAPÍTULO DA DEBACLE SOCIALDEMOCRATA/SOCIALISTA NA EUROPA!

1. Os jornais La Nacion (AR-Luisa Coradini) e El País (ES-Josep Ramoneda), em avaliações das últimas eleições na Holanda, mostraram um quadro muito diferente das manchetes da imprensa. A imprensa destacou a derrota do populismo xenófobo de direita. Afinal, era esse o temor europeu que viesse a obter a primeira maioria.

2. Ramoneda pergunta: Alívio ou insensatez? E lista as manchetes da imprensa europeia: “Holanda derrota o populismo e a xenofobia”, “Holanda se mobiliza contra o ascenso do populista Wilders”, “Holanda votou e a Europa pode respirar tranquila”, “Holanda freia o auge do populismo xenófobo”, “Holanda dá as costas ao populismo e a xenofobia e Europa respira”.

3. Se houve uma boa notícia na eleição foi uma participação recorde de 86%. Wilders, em nenhuma pesquisa, apareceu como líder e alternativa de governo. Wilders ficou abaixo de suas expectativas. Mas avançou 5 cadeiras num parlamento de 150, e elegeu 20 deputados. O primeiro ministro Rutte, líder da direita, venceu as eleições elegendo 33 deputados, mas perdeu 8 cadeiras.

4. Os socialistas, que tinham 38 deputados, desintegraram e elegeram 9. A direita tem conseguido que as campanhas eleitorais girem em torno de sua agenda, afirma Ramoneda, e a esquerda deixa de lado seus erros na gestão das crises e sobre as reformas necessárias para recuperar a coesão social e as expectativas sobre o futuro. Frear a extrema direita e garantir a vitória de uma direita mais liberal no econômico e mais conservadora no ideológico não justifica esse triunfalismo.

5. Luisa Corradini, no La Nacion, diz que “políticos e analistas obcecados pelo possível avanço da extrema direita não se deram conta dos resultados efetivos das eleições na Holanda: a socialdemocracia europeia, que foi uma das forças políticas dominantes do século XX, está em perigo de morte.”

6. Corradini chama de “estrepitoso fracasso da esquerda moderada holandesa”. Passou de 28% dos deputados para 5,7%. Os socialdemocratas participavam do governo em coalizão com os conservadores do primeiro ministro Mark Rutte. A soma desses dois partidos, que controlavam a metade do parlamento, agora ficou com pouco mais que 25%.

7. Corradini lembra que não é um caso único na Europa. “Ano passado a esquerda moderada –socialdemocrata- europeia perdeu 12 das 18 eleições nacionais, assim como os plebiscitos/referendos na Itália e na Grã-Bretanha. “É toda a socialdemocracia que se desmorona”, afirmou Laurent Bouvet, da Fundação Jean-Jaurès. Um ciclo inaugurado pelo Pasok da Grécia, que em poucos anos passou de 44% para 5%.

8. O analista Jean-Claude Guillebaud explica e diz que “nos anos 1970 e 1980 a socialdemocracia encarnava a única alternativa crível aos regimes comunistas. Mas quando estes desapareceram, seus grandes projetos de economia regulada e Estado do Bem Estar se haviam esgotado”. No início da década passada, a esquerda moderada buscou integrar-se à onda liberal e assim deixou de ter a iniciativa e para muitos adaptou-se e traiu seus compromissos”.

22 de março de 2017

A CRISE DO RIO, ALÉM DE SER A MAIOR DO PAÍS, AINDA NÃO DÁ SINAIS DE RECUPERAÇÃO!

1. As informações divulgadas na semana passada, que trouxeram sinais de alívio para a economia e a crise brasileiras, não se confirmaram para o Rio de Janeiro. A primeira delas foi a criação de empregos com carteira assinada.

2. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) informou que, em fevereiro, depois de 22 meses, foram criadas no país –liquidamente- 35.612 vagas formais, ou seja, 35.612 empregados com carteira a mais que os que perderam o emprego. Esse, certamente, é um indicador de recuperação da economia.

3. Mas o Estado do Rio de Janeiro foi exceção. No Rio de Janeiro houve mais desempregados que empregados com carteira. O déficit no Rio foi de 8.200 empregos perdidos com carteira.

4. O Índice de Gini, que mostra a concentração de renda, é provavelmente a pior situação de desigualdade de renda do Rio desde sempre. O Rio sempre foi a primeira –até o século XX- economia do país ou a segunda a partir daí. Com isso, sua renda por habitante e a desigualdade de renda sempre o situou entre as 5 regiões com melhor distribuição de renda.

5. O Índice de Gini, ou de concentração de renda, entre 0 e 1 – indica que quanto mais próximo de zero menor é a desigualdade. Numa tabulação feita pelo IETS (ver Gois – Globo, 16/03), na média nacional, o Índice de Gini alcançou a média nacional de 0,51 em 2015. Enquanto isso, o Índice de Gini do Rio ficou pior que a média nacional, atingindo 0,53.

6. A crise fiscal do RJ e os desencontros da Prefeitura da Capital eliminaram os gastos com investimentos que têm um grande multiplicador sobre o emprego no curto prazo e sobre a economia em médio prazo. Ficaram só as rolagens de custeio.

7. Os problemas com as licitações no litoral do Rio de novos poços do pré-sal estão fazendo S.Paulo aumentar significativamente sua participação na extração de petróleo e o Rio diminuir.

8. O fechamento do Maracanã, levando clássicos para Brasília, leva também uma significativa receita com serviços de entretenimento e muito mais com seu multiplicador do gasto envolvido por torcedores, imprensa…

9. E, se não bastasse, surgem os problemas com a febre amarela. A OMS focalizou municípios do Rio, pedindo que os viajantes tenham tomado vacina contra febre amarela fora da capital e, com isso, atingiu a região dos Lagos e a região Serrana, afetando as economias destas regiões com turismo interno.

21 de março de 2017

SISTEMA ELEITORAL, CAUSAS E EFEITOS!

1. A solução de qualquer problema –especialmente um grave como o sistema eleitoral brasileiro- deve começar pelo diagnóstico e equacionamento das causas. Quase todas as informações divulgadas pela imprensa a respeito da relação entre empresários, funcionários e políticos, seus valores, e eventuais desvios, passam pelo processo eleitoral.

2. Processo eleitoral, vale dizer, as eleições de “hoje e de amanhã”. O sistema eleitoral brasileiro –do voto proporcional aberto- em que o eleitor vota em quem desejar e pessoalmente, e onde os votos são agrupados por partido ou coligação e se elegem os mais votados, é único no mundo. E explica o custo das campanhas.

3. Esse sistema –como é natural- exige um financiamento eleitoral que potencialize as possibilidades dos candidatos. Citemos três: a propaganda, a dispersão dos votos e os apoios dentro do próprio meio político. A propaganda para massificar um nome/número. A dispersão dos votos para um candidato ter voto fora de suas bases eleitorais. E os apoios dentro do próprio meio político vinculam uma eleição a outra com apoio de vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, vice-versamente. E, claro, apoio dentro das máquinas dos governos.

4. A recente proibição de propaganda nas ruas, a diminuição do tempo de TV e a mudança na legislação eleitoral proibindo financiamento por parte de empresas reduziram muito a oferta de recursos para as campanhas eleitorais – “de hoje e de amanhã”.

5. Mas não reduziram a demanda de recursos implícita no sistema eleitoral de voto proporcional aberto. Com isso, aumentou a pressão para o uso das máquinas governamentais. Os recursos financeiros diretos diminuíram e, como compensação, há que se usar os recursos “não-financeiros” e “não registrados” do uso das máquinas, vinculando as ações dos governos a outros governos e, assim, a políticos.

6. Mas se o financiamento político-eleitoral é efeito do sistema eleitoral, o fundamental será mudar o sistema eleitoral de forma a que a demanda de recursos seja não apenas menor, mas orgânica. E para complicar, os politólogos falam que o pior de tudo é que o atual sistema eleitoral gera mandatos de baixa representatividade.

7. O politólogo Jairo Nicolau, especialista em sistemas eleitorais, um tempo atrás, listou todos os exemplos e hipóteses, mundo afora, mostrando que quase sempre são conflitivos em seus propósitos. O voto distrital aumenta a representatividade local, mas não a ideológica ou partidária. O voto no partido reduz drástica e organicamente os custos das campanhas para os candidatos, mas no atual estágio partidário brasileiro cria a sensação de que o eleitor não sabe em quem está votando.

8. O voto distrital, com distritos uninominais, reforça a representatividade local, mas muito mais com distritos menores de uns 40 mil eleitores, como no Reino Unido e muito menos com distritos maiores de uns 600 mil eleitores, como nos EUA. A adoção do voto distrital misto alemão, que tem apoio na academia e na imprensa, combina a representatividade local com a partidária. O distritão elimina os que não têm voto “nem partido” e se elegem com os votos dos outros. Mas enfraquece o voto partidário, o que, hoje, no Brasil quase não existe.

9. O que cabe à comissão parlamentar que estuda um novo sistema eleitoral é avaliar as causas para adotar um sistema eleitoral que amplie a representatividade, abra as portas para o fortalecimento dos partidos e tenha como efeito um financiamento eleitoral orgânico. Não é tarefa simples, mas é necessária.

20 de março de 2017

A COMUNICAÇÃO SADOMASOQUISTA DO GOVERNO CRIVELLA!

1. Não se sabe qual o canal de entrevistas e vazamentos de medidas que o prefeito Crivella está adotando. O fato é que anúncios, entrevistas e vazamentos têm produzido uma enorme insegurança na população e nos servidores. Uma vez veio até o desmentido logo em seguida. Mas, na quase totalidade, não.

2. Medidas hipotéticas são anunciadas sem prévio estudo e sem explicações. O presidente do fundo previdenciário municipal, no discurso de posse, sem nenhum estudo prévio e oferecendo dados equivocados, anunciou que a prefeitura passaria a cobrar 11% dos aposentados e pensionistas como contribuição. Não satisfeito, dias depois, informou que iria acabar com a paridade entre servidores ativos e inativos (aposentados e pensionistas).

3. Isso deflagrou um pânico nos servidores ativos e inativos. Abriu o palanque para críticas gerais entre os afetados e os não afetados.

4. E nova comunicação generalizou o pânico. O IPTU seria revisto. Viria um aumento de cerca de 10% e os redutores aplicados aí, por 1997, especialmente em bairros da zona norte e zona oeste, seriam cancelados e assim como milhares de isenções. Com isso, levou o pânico a toda a população e a todos os bairros. A informação veio acompanhada de comentários genéricos que nem novos são.

5. Ampliando o sadismo da comunicação, foi anunciado nos corredores da prefeitura que o adicional noturno de algumas categorias, especialmente da Saúde, seria cortado em 80% já que haveria problemas jurídicos a respeito. Novo pânico. Mas se fosse só por isso, bastaria corrigir os termos do ato que deu origem, e como a responsabilidade não foi dos servidores, não caberia a eles nenhuma devolução.

6. Usando como pretexto a queda de receita, foi apresentado um projeto de lei supostamente para reduzir a hipotética queda do ISS. O texto do projeto de lei –sem nenhuma justificativa, dados e fatos- produziu uma reação unânime da Câmara Municipal. O líder do governo disse que ele também havia sido surpreendido. Esse projeto de lei reduziria em 60% –de 5% para 2%- o ISS dos cartões de crédito, vilões dos juros de 500%.

7. Simultaneamente, foi publicado um decreto permitindo a compensação do ISS devido de empresas da área de saúde por prestação de serviços para a saúde municipal. Independente das dúvidas sobre a constitucionalidade deste ato por decreto, ele ainda inclui os NÃO devedores nessa hipótese de compensação.

8. Foi pré-anunciada a elevação do ITBI de 2% para 3%, num momento de crise do mercado imobiliário. Um aumento de 50%. Mas esse aumento teria que vir por lei municipal. A Câmara Municipal foi informada pelos jornais, aliás como todos esses anúncios e vazamentos acima.

9. O secretário de transportes anunciou que pensa em cobrar pedágio da Linha Vermelha. Outra vez sem qualquer estudo e, nesse caso, alcançando, além dos cariocas, a população da Baixada Fluminense e os que viajam para Petrópolis-Juiz de Fora e em direção a S.Paulo que, 20 minutos depois, terão que pagar pedágio nas rodovias. Crivella desmentiu.

10. Não cabe ainda cobrar eficácia da gestão Crivella. Ainda não completou 90 dias. E organizou um governo disperso que, na grande maioria, precisa de tempo para “abrir as gavetas” e ganhar coordenação e unidade.

11. Com a exceção do pedágio na Linha Vermelha, o silêncio do prefeito Crivella nos demais anúncios e vazamentos coonesta o que vem sendo divulgado. Se as medidas listadas que geram pânico são sádicas, pois nem mesmo efetivadas na sua grande maioria, por outro lado uma descomunicação do prefeito tem sentido masoquista, pois produz um enorme desgaste sem que ainda se saiba o porquê ou se serão ou se haverá maioria na Câmara Municipal para aprová-las.

17 de março de 2017

DESPROTEGIDA, A ROTA AMAZÔNICA DA COCAÍNA CRESCE A CADA ANO!

(BBC/El Pais, 06) 1.  Uma linha tortuosa de 1.632 km desenhada por rios em uma área praticamente inabitada na floresta amazônica. Esse é o cenário da tríplice fronteira brasileira com os maiores produtores de cocaína do mundo: Peru e Colômbia. Com armamento pesado e lanchas potentes, narcotraficantes dos dois países enfrentam poucos obstáculos no transporte de armas e drogas para Tabatinga (AM), no lado brasileiro. A cidade, onde a pobreza e a falta de infraestrutura são flagrantes, é descrita por moradores da região como “quintal da FDN”. A sigla se refere à facção criminosa Família do Norte, que ficou conhecida mundialmente nos primeiros dias de 2017, quando dezenas de homens foram decapitados e esquartejados em presídios de Manaus.

2. A origem dos massacres nas prisões, segundo autoridades, é justamente a disputa pelo controle dessa rota amazônica da coca. Argumentando falta de verbas e incentivo do governo, as forças de segurança da região dizem não conseguir controlar o vaivém do mercado ilegal na fronteira. “Com os recursos que temos hoje em Tabatinga, é impossível controlar a fronteira”, disse à BBC Brasil um agente da Polícia Federal, mirando a imensidão do rio Solimões do único posto fluvial das forças de segurança na região. “Hoje a gente tem uma lancha aqui motor 200. A FDN está investindo aí em motor 350. Fica complicado, né?”, diz. “Tinha que ter um helicóptero para policiar. O que temos aqui são 18 policiais. Às vezes pega (os criminosos), às vezes, não.” A sensação entre os homens do Exército, responsáveis pelo controle da fronteira, não é diferente. “Nós não temos condição hoje, com os efetivos que trabalham nesta região e em toda a Amazônia, de cobrir todos estes espaços”, diz o coronel Júlio César Belaguarda Nagy de Oliveira, comandante do 8º Batalhão de Infantaria de Selva, responsável por vigiar a tripla divisa.

3. Também sem helicópteros, com apenas 36 barcos à disposição – a maioria deles com potência semelhante aos dos pescadores e ribeirinhos da região -, ele é responsável pelo controle da fronteira com os dois países, onde centenas de novos caminhos abertos por igarapés e pequenos rios surgem com as chuvas na época das cheias. “É claro que alguma coisa passa. Muitos desses marginais desviam e conseguem evitar a passagem pelos nossos pelotões”, diz Nagy. Desprotegida, a rota cresce a cada ano. Só em Manaus, principal destino dos entorpecentes que entram pela fronteira, o volume de drogas apreendidas cresceu nada menos que 1.324% entre 2011 e 2015, segundo a Secretaria de Segurança do Estado.  ‘Falta material humano’. Procurado, o Ministério da Justiça não respondeu por que não há helicópteros na região, nem comentou a falta de policiamento registrada pela reportagem.

4. “Gestões são feitas diuturnamente para inibir e reprimir o crime e também subsidiar políticas para fortalecer o enfrentamento ao crime, especialmente na fronteira”, disse a pasta, por meio de nota. “A PF realiza em média cerca de 40 operações especiais por ano, que são especialmente para atingir organizações criminosas. Cerca de 300 pessoas são detidas por ano.” O ministério disse ainda que “tem priorizado a lotação dos novos policiais nas regiões de fronteira”, sem informar, entretanto, quantos homens serão deslocados para a área, nem quando. Procurado diversas vezes por telefone e e-mail, o Exército não respondeu a nenhuma das perguntas enviadas pela reportagem. No fim de janeiro, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciou a realização de uma série de encontros e reuniões com ministros de Defesa de países vizinhos, com a principal intenção de tratar da segurança nas fronteiras. Mas, desde então, nenhuma iniciativa concreta foi anunciada.

5. Em entrevista em seu gabinete em Manaus, o procurador-geral de Justiça do Estado, Pedro Bezerra, reconheceu os problemas.  “Falta muito material humano e condições para esses soldados que dedicam sua vida para evitar esse tráfico. Condições para que possam atuar de forma eficiente, como materiais, lanchas, armamento, treinamento”, disse. O procurador concorda com o agente da Polícia Federal e diz que o tráfico de drogas tem mais dinheiro e equipamentos. “Como eles (os traficantes) têm poder em termos de dinheiro, eles compram lanchas, hidroaviões. Nós temos limitações financeiras a nível de Estado e dependemos de uma certa burocracia.” Ele prossegue, sem otimismo. “Então, infelizmente as coisas se resolvem pela vontade do material humano de que nós dispomos. Estes agentes que fazem esse tipo de operação arriscando as próprias vidas”.

6. A fragilidade da vigilância na fronteira brasileira na Amazônia não ocorre apenas nos rios. Nos três dias de fevereiro em que esteve em Tabatinga, a BBC Brasil testemunhou centenas de pessoas entrando e saindo do país com malas e sacolas sem qualquer revista.  Logo na primeira noite, um homem foi assassinado bem próximo de onde estava a reportagem da BBC Brasil, a poucos passos do marco da fronteira entre Tabatinga e Letícia, na Colômbia. “Acontece por volta de uma vez por semana. São acertos de contas”, explicou um agente do Exército, apontando para o homem caído sobre uma mesa de bar, baleado há menos de cinco minutos por um homem em uma motocicleta. As motos são o principal meio de circulação no local, que não tem transporte público. Sobre elas, grupos de até quatro pessoas circulam livremente, sem capacete, carregando mochilas e malas. A área de fronteira com a Colômbia é delimitada apenas por uma placa. Não existe ali nenhum posto de revista ou fiscalização. Durante a visita, o único patrulhamento registrado ocorreu durante uma atividade de demonstração do Exército para a reportagem. A fronteira com o Peru, delimitada pelo rio Solimões, também não tem fiscalização.

7. Pessoas vindo da ilha peruana Santa Rosa entram e saem no Brasil por meio de pequenos barcos que atracam em um porto na base policial. As autoridades locais dizem que seria “impossível” fiscalizar todo mundo. “Muita gente trabalha de um lado e vive do outro ou faz compras do mês em um dos dois países vizinhos. A circulação de pessoas é gigantesca, seria impraticável”, alega o coronel Nagy, do Exército. No único aeroporto de Tabatinga, que tem um voo diário para Manaus, a grande maioria das bagagens embarcadas não passa por raio-X. Esta brecha de segurança se repete, além da fronteira, na maior parte das cidades do Brasil. Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a fiscalização das malas é obrigatória apenas em voos internacionais. No caso de voos domésticos, ela seria feita em alguns aeroportos do país.

8. “Faltam vagas de trabalho nos municípios, estrutura de saneamento básico, ruas pavimentadas, enfim, condições para que essa população tenha uma vida normal”, disse. Ele conta que, pela falta de oportunidades de estudo, muitos jovens não tem alternativa de renda a não ser o tráfico. “(Eles) participam desse tráfico ilegal de drogas e armas para ter uma condição de subsistência de vida”, diz. “Jovens com pouca condição de estudo enxergam nesse transporte a chance de ganhar 1, 2, 4, 5 mil reais, Este transporte é uma oportunidade fácil e rápida de ganho financeiro.” O comandante do Exército colombiano em Letícia, coronel Nelson Roberto Carvajal Reyes, confirma as dificuldades e diz que, atualmente, membros da Família do Norte cruzam a fronteira para negociar exclusividade nos negócios. Em sua área de atuação opera uma das frentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) que não aceitaram o acordo de paz em andamento com o governo do país. “A demanda por cocaína e maconha no Brasil cresceu. Então, cartéis como a Família do Norte estão tentando se aproximar de cartéis colombianos para ganhar hegemonia nesta rota.”

9. Ele explica que a rota passa também por Suriname e Guiana, de onde vai para a Europa e os Estados Unidos. Nas águas que banham a tríplice fronteira, autoridades já encontraram drogas escondidas na barriga de peixes, como o tambaqui, ou presas em fundos de barcos. Muitas vezes, as mercadorias passam boiando pelo rio para serem buscadas do outro lado, sem chamar atenção do Exército. “Os traficantes são muito criativos e se reinventam sempre”, diz o comandante colombiano. Para 80 kg de cocaína, as mulas, como são chamados os homens que fazem a travessia, ganham em torno de 2 milhões de pesos colombianos (ou R$ 2 mil). Na outra ponta, a mercadoria chega a ser vendida por preços 20 vezes maiores. Pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade do Ceará e especialista em segurança na fronteira, o professor Luiz Fabio Silva Paiva diz que a política de “guerra contra as drogas” na região é falha e não consegue reduzir o tráfico dessas substâncias.

10. “O mundo do crime se alimenta das contradições de uma política de controle que não controla, que não consegue compreender que as drogas são um problema de saúde pública e não uma questão policial”, diz.

16 de março de 2017

OS JORNAIS COMO PLATAFORMA PARA AS REDES SOCIAIS!

1. Décadas atrás, uma matéria num jornal ou revista que interessava a um político ou um grupo político, tinha que ser recortada e mostrada ou, na melhor hipótese, o interessado comprava vários jornais. Os políticos tinham seus jornais de forma a tratar uma matéria –críticas, denúncias, elogios…- multiplicando pela própria distribuição da edição de seu jornal ou comprando espaços nesse ou naquele jornal. Esse caminho –muito usado- era e é de baixa credibilidade.

2. Antes, os grandes jornais não precisavam se preocupar com o uso que seria feito das matérias publicadas. Afinal, o multiplicador era a própria edição e tiragem do jornal. O multiplicador –uso ou abuso- externo era de pequeno ou nenhum impacto. Depois, o multiplicador aumentou com o uso da xerox ou a transformação de uma certa matéria de jornal em panfleto. Aumentou, mas a edição original e a sua tiragem continuavam sendo, de longe, o principal multiplicador.

3. Antes, uma matéria de jornal ou revista lida ou vista pelos leitores era ampliada pelos leitores múltiplos. Quantas pessoas liam o que interessava dos jornais e revistas comprados por outros? Revistas na sala de espera dos escritórios e consultórios são outro exemplo. A leitura dos jornais pendurados nas bancas de jornais multiplicavam apenas o que saía na capa, e para um público localizado.

4. A internet e as redes sociais mudaram radicalmente essa proporção entre matérias publicadas em jornais ou revistas e a sua multiplicação. Uma matéria de interesse político, uma vez reproduzida nas redes sociais, passa a ter um alcance muito maior que a tiragem do jornal ou revista que lhe deu origem.

5. Uma pequena notícia em página interna sem destaque, desde que seja de interesse político, pode gerar uma quantidade de leitores maior que a tiragem da edição original, através do multiplicador das redes sociais. Nesse sentido, os multiplicadores das matérias nas redes sociais são editores –reeditores- dos próprios jornais.

6. Os blogs de jornalistas são exemplos disso. Multiplicam, fora da edição formal do jornal, notícias que podem circular mais que a tiragem de origem.

7. O famoso editor do Nouvel Observateur dizia, anos atrás, que os Editoriais dos jornais eram a consciência de culpa dos noticiários dos próprios jornais. Se antes era assim, hoje o multiplicador das notícias pelas redes sociais tiraram do controle dos editores o que, do conteúdo publicado, terá maior ou menor impacto de opinião pública.

8. Se é assim, o controle interno de conteúdo nos jornais tende a ser crescentemente maior. Quando se diz que os jornais devem cada vez mais ter matérias de opinião, na prática isso significa não pulverizar o noticiário com a independência dos repórteres, porque perderiam o controle do multiplicador e até antagonizando com a linha editorial.

9. Num seminário recente, um debatedor dizia que os jornais estão se transformando em plataformas para as redes sociais. Será?

15 de março de 2017

A “BASE ALIADA” E A “OPOSIÇÃO” PARA AS REFORMAS DA PREVIDÊNCIA E TRABALHISTA! BRASIL E PORTUGAL!

1. As reformas da previdência social e da legislação trabalhista tramitam debaixo de retóricas e fogos de artifício. Alguns, que estão fora do jogo do poder com bancadas mínimas como o PSOL (3 deputados) têm liberdade total para falar e votar. Mas aqueles que, com candidato próprio ou coligados, têm aspiração de estar no poder com a eleição de 2018, tratam o assunto com cuidado ou cinicamente.

2. (Coluna do Moreno – Globo, 11) “Em pleno vapor, rumo a 2018, conversando com Deus e todo mundo, Lula registra um fato desanimador: Só não estou gostando de uma coisa: você conversa com economistas de direita e de esquerda e eles dizem a mesma coisa que a receita é essa mesma que está aí.” Obs.: Desanimado ou Cínico?

3. Quem tem pretensão e aspiração de poder em 2018 –de governo ou de oposição- torce para o Congresso aprovar aquelas reformas. Com isso, o desgaste cairia sobre o governo atual, que faria o dever de casa e limparia o terreno para o próximo presidente governar bem e afirmar-se com popularidade.

4. O exemplo que a esquerda tem usado é o de Portugal. O primeiro-ministro Passos Coelho (PSD) recebeu Portugal do Partido Socialista destroçado, com desemprego na casa dos 20%, com dívida pública num patamar recorde, PIB desintegrado, alta inflação… Foi acusado de governar sob intervenção do FMI. Seus níveis de impopularidade foram recordes.

5. Passos Coelho, do PSD, fez o dever de casa, recuperou a economia, o desemprego caiu, o PIB subiu, a dívida pública foi equacionada, a inflação veio para níveis exigidos pelo BCE…. O reconhecimento por seu governo foi crescendo ao aproximar-se a eleição. Finalmente, ele e seu partido, o PSD, venceram as eleições, mas com maioria simples. Um ano depois, o PSD, com Marcelo Rebelo de Souza, venceu a presidência por maioria absoluta.

6. Antes, sem maioria absoluta, o PSD de Passos Coelho perdeu o governo. A esquerda anti-euro, num acesso de oportunismo, se somou ao PS europeísta e formou maioria absoluta e passou a governar. Com o dever de casa feito, o governo do PS de Antonio Costa viu sua popularidade crescendo. Nesse momento –março de 2017- pesquisa da Eurosondagem dá ao PS 38,3% e ao PSD 28,8%, uma diferença de 9,5 pontos.

7. As visitas recentes do PT a Portugal se deparam com esses números e com as análises de líderes do PS. E receberam a receita: fazer oposição à vontade, mas não deixar que as medidas de rigor fiscal e financeiro deixem de ser aprovadas. E depois –em cima do desgaste do governo- vencer as eleições e governar com o dever de casa feito.

8. Moral da história: a oposição de fato, da dita esquerda brasileira, às medidas previdenciárias e trabalhistas será inversamente proporcional à probabilidade de vitória que Lula tenha em 2018. E vice-versa.

14 de março de 2017

ELEIÇÕES (15/03) NA HOLANDA: CRESCE O POPULISMO DE DIREITA!

1. “O Geert” é Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade (sigla em holandês: PVV), atualmente o terceiro maior no país. A tempestade política anunciada por Wilders domina o debate político e a campanha para as legislativas. Anti-Islã, anti-Europa, pró-valores nacionais, anti-refugiados e pró-referendo: Wilders é um populista de direita. E, embora ele se tenha distanciado da etiqueta de “extrema-direita” e a comunicação social holandesa prefira o termo “populista”, a verdade é que Wilders colabora diretamente com Marine Le Pen, líder da Frente Nacional francesa, Frauke Petry, da Alternativa para a Alemanha, e Matteo Salvini, da Liga Norte italiana. Juntos querem uma “primavera patriótica” na Europa, na esteira do ‘Brexit’ e da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

2. Com eleições este ano na Holanda, França e Alemanha, o resultado do próximo dia 15 é visto como previsão das chances de Le Pen e Petry. Numa sondagem recente da empresa Prendid, o PVV vai tornar-se o maior partido no Parlamento, com 31 dos 150 lugares. Outros estudos de opinião colocam Wilders em segundo lugar, depois do VVD, o partido liberal-conservador do primeiro-ministro, Mark Rutte.

3. De qualquer das maneiras, o sentimento anti-Islã e anti-Europa é forte na Holanda, país de 17 milhões de habitantes e cerca de um milhão de muçulmanos, sobretudo nas grandes cidades. Embora o país tenha saído da crise econômica de há quatro anos, sobretudo devido à indústria criativa, digital e financeira, há um grupo cada vez maior de pessoas que se sentem excluídas dos benefícios da globalização. É esse grupo que se sente atraído pela política do “retorno aos valores nacionais” e que olha com desconfiança para os partidos tradicionais. Wilders tem sabido, como nenhum outro, canalizar este descontentamento.

4. Quem é o “Mozart de Venlo”, como é apelidado carinhosamente, por causa dos cabelos aloirados? Nascido no Sul do país, em Venlo, na província de Limburgo — baluarte do catolicismo, do Carnaval e da boa comida —, Wilders entrou para a política em 1990, como assessor do VVD. Em 1998 foi eleito deputado pelo mesmo partido, hoje seu rival. Foram os anos das chamadas “coligações roxas”, isto é, que aliavam o vermelho do trabalhista PvdA ao azul do VVD (e, por vezes, o verde-escuro democrata-cristão e o verde-claro dos liberais). Esses governos introduziram legislação progressista, entre outros no campo da eutanásia e do casamento homossexual.

5. Foram também, todavia, os anos do descontentamento crescente de grandes camadas da população holandesa, que se sentem marginalizadas pelas elites políticas tradicionais. Depois dos atentados cometidos pela Al-Qaeda a 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, o sentimento anti-islâmico começou a ganhar terreno no país. “O Islã é uma cultura retrógrada.” Foi com este slogan que o sociólogo Pim Fortuyn, em muitos sentidos precursor de Wilders, conseguiu uma ascensão meteórica na vida política holandesa, poucos meses depois da queda das Torres Gémeas em Nova Iorque. Além de crítico do Islã, Fortuyn não poupava as elites políticas do país, que teriam perdido o contato com a sociedade e o homem comum.

6. Pouco habituados ao fenômeno do populismo, os líderes de partidos como o PvdA, o VVD e o D66 (liberais progressistas) não hesitaram em estabelecer paralelos entre o fascismo e o movimento político de Fortuyn. Nunca o debate político e a campanha eleitoral tinham assumido um tom tão duro e radical como na primavera de 2002. A 14 de março, durante o lançamento em Haia do seu último livro, Fortuyn levou uma bola na cara. A 6 de maio, durante a campanha eleitoral, foi alvejado com cinco balas e morreu, vítima de um atentado cometido por um ecologista radical. Postumamente, conseguiu 26 dos 150 lugares no Parlamento, nas eleições de 15 de maio de 2002.

7. Desde o atentado terrorista no Museu Judaico de Bruxelas, em 2014, em que um islamita radical matou quatro pessoas, vários locais judaicos na cidade têm proteção especial, nos dias da semana pela polícia, no sabat por militares.  A vigilância constante também é uma realidade para Wilders: desde o assassínio do cineasta Theo van Gogh por um terrorista islamista, em 2004, o líder do PVV está na lista negra de organizações ligadas à Al-Qaeda e tem proteção pessoal permanente.  Em casa, o telejornal não dá a tempestade como notícia de abertura. Outra notícia, a de uma fuga na organização responsável pela segurança pessoal de Wilders, é mais importante. Um dos polícias da equipe que investigava a segurança dos lugares visitados por Wilders falou em privado com amigos sobre lugares onde Wilders estava.

8. O policial era de origem marroquina. Uma situação inaceitável para o líder do PVV, que cancelou todos os encontros públicos até haver mais certeza sobre a sua segurança pessoal. Como também limitou o número de debates pela televisão a um mínimo — fará apenas dois debates até às eleições —, a campanha de Wilders será, por força, uma campanha de Twitter. É uma coisa que tem em comum com o recém-eleito Presidente dos Estados Unidos: Wilders é um viciado das mensagens de 140 caracteres. No início de 2004, Wilders ainda representava o partido liberal-conservador VVD no Parlamento; no fim desse ano, já saíra para lançar um movimento político independente. Hoje, diz que o VVD é “um partido mafioso que engana e intimida as pessoas”. O que aconteceu para causar tão grande reviravolta?

9. A ruptura com o VVD aconteceu quando Wilders começou a opor-se à tolerância religiosa do partido e, sobretudo, por causa de uma diferença de opinião sobre a eventual integração da Turquia na União Europeia. Wilders saiu do VVD, mas não abandonou o seu lugar de deputado. Passou a independente e, desde 2006, tornou-se líder do PVV. Para evitar a má experiência do movimento político de Pim Fortuyn, que se desfez depois da morte do seu líder, o PVV é uma associação com um único membro relevante: Geert Wilders. Tentativas de “democratizar” o partido por dentro, feitas algumas vezes por deputados do PVV, resultaram sempre na respectiva expulsão do grupo parlamentar.

10. A hora mais feliz da carreira política de Wilders foi a vitória nas eleições parlamentares de maio de 2010. O PVV subiu de 9 para 24 lugares, num hemiciclo de 150. Wilders apoiou um governo minoritário de coligação entre o VVD e o democrata-cristão CDA, sem fazer parte desse Executivo. Foi então que Rutte sucedeu a Jan Peter Balkenende, do CDA, como primeiro-ministro. Na altura, a colaboração gerou grande controvérsia, sobretudo nas fileiras do CDA. Só após um congresso partidário com debates emotivos, de intensidade pouco comum na Holanda, os democratas-cristãos deram aval a um governo apoiado pelos populistas de Wilders. Foi, contudo, sol de pouca dura. No que tocava ao apoio ao projeto europeu, o PVV não apoiou o Executivo (por exemplo, na votação do alargamento do Fundo Europeu de Estabilização Europeia para possibilitar ajuda financeira à Grécia).

11. Dois anos depois de assinar o acordo com o VVD e o CDA, o PVV retirou o seu apoio, por não concordar com medidas de austeridade propostas pelo Governo. Para o PVV, as medidas eram opostas à agenda econômico-social de Wilders, de cariz socialdemocrata. Para os partidos governantes, a “traição” de Wilders é razão para excluir qualquer futura colaboração com o partido populista. O isolamento político, contudo, não o enfraqueceu: nas eleições legislativas de 2013, o PVV ficou com número igual de deputados. Amsterdam Ocidental é a zona onde vive a maioria da população de origem marroquina e turca. É aqui que a primeira geração de imigrantes — muitos já na idade da aposentadoria, outros no desemprego — passa os dias nas casas de chá. A Westermoskee, uma mesquita nova e orgulho da comunidade turca, brilha em todo seu esplendor. Não muito longe, outra mesquita, marroquina e mais modesta, está instalada numa antiga igreja. Na rua, encontramos o jovem estudante Hasan, cujos pais vieram de Marrocos no século passado. “Sinto-me cada vez menos bem-vindo na Holanda”, diz. “Sobretudo depois de Wilders dizer que quer menos marroquinos no país.”

12. Hasan refere-se a um incidente que levou o líder do PVV a tribunal, sob acusação de insulto coletivo, discurso de ódio e discriminação. Em março de 2014, durante um encontro político num café em Haia, para celebrar uma vitória eleitoral local, Wilders perguntou ao público presente: “Querem mais ou querem menos marroquinos?” O público respondeu, com entusiasmo: “Menos, menos!”. Ao que Wilders reagiu: “Então vamos tratar disso”. O incidente foi notícia de primeira página em vários jornais europeus. Choveram denúncias de discriminação e, em dezembro do ano passado, o tribunal considerou Wilders culpado de insulto coletivo e discriminação, sem aplicar uma pena. Wilders comentou no Twitter que o tribunal era “uma farsa”.

13. O programa político de Wilders não cabe num tweet, mas pouco falta. Uma folha A4 foi suficiente para apresentar os pontos principais, sob o mote “A Holanda de novo nossa”. As promessas mais importantes: “Desislamização da Holanda, fechar as fronteiras a refugiados e imigrantes provenientes de países muçulmanos, proibir o véu islâmico em funções públicas, proibir o Corão”. Quanto à Europa, não deixa dúvidas: “Uma Holanda independente, isto é, sair da UE”. Wilders promete “uma democracia direta, com introdução do referendo vinculativo”. Outros pontos são “seguros de saúde menos caros, rendas mais baixas e menos IRS”.   Incluída no programa está uma estimativa dos custos e rendimentos de cada um dos pontos. As medidas anti-islâmicas, por exemplo, devem render 7200 milhões de euros. A credibilidade destes números é duvidosa, porque o PVV, ao contrário de outros partidos políticos, recusou o habitual cálculo de viabilidade económica do seu programa, executado sempre por uma agência do Ministério da Economia antes da campanha eleitoral. O programa não indica os efeitos económicos ou financeiros de uma eventual saída da UE.

14. Segundo um estudo encomendado pelo PVV em 2014 à agência britânica Capital Economics, a economia holandesa “cresceria substancialmente” em caso de ‘Nexit’ [do nome do país na língua local, “Nederland”], com um rendimento positivo de “quase 10 mil euros” em 20 anos para cada cidadão holandês. Um estudo recente do banco holandês Rabobank chega a uma conclusão radicalmente oposta. A desintegração da UE, ou a saída da Holanda, resultaria numa descida de 10 a 15% do PIB e a uma duplicação da taxa de desemprego. O cenário de um ‘Nexit’ é realista? Se fosse Wilders a decidir, não haveria dúvida: a ruptura com a “Bruxelas totalitária” está na agenda do PVV há muitos anos. Os outros grandes partidos, contudo, são contrários à saída e defendem, no máximo, uma redução dos poderes da UE.

15. A Holanda é um dos países fundadores da Comunidade Económica Europeia e a sua dependência económica da Europa é grande, sobretudo a nível da exportação para a Alemanha. Realidade económica à parte, não seria a primeira vez que o nível de euroceticismo na Holanda surpreende os políticos. Em junho de 2005, o projeto de Constituição Europeia foi rejeitado por 61,5% dos participantes, naquele que foi o primeiro referendo nacional na história do país. A vitória do “não”, com uma margem maior do que a da consulta popular realizada três dias antes em França (onde 54,9% rejeitaram a Constituição europeia), deveu-se em parte à falta de uma campanha pelo “sim”. Os europeístas davam a vitória por certa.

16. Os referendos, na Holanda, são apenas consultivos e não vinculativos. Além disso, só é possível organizar um referendo sobre leis aprovadas recentemente, de maneira que um referendo sobre a saída da UE não é hoje possível. A consulta holandesa sobre o tratado de associação da Ucrânia com a UE, celebrada em abril do ano passado, pode ser vista, à falta de um referendo sobre o ‘Nexit’, como um bom barômetro da popularidade da UE no país. Uma maioria de 61% votou contra (com uma participação de 32%). Pouco antes desse referendo, Nigel Farage, então líder do britânico UKIP (Partido pela Independência do Reino Unido) e principal adepto do ‘Brexit’, visitou a Holanda para participar na campanha do “não”.

17. Segundo Farage, o triunfo do “não” na Holanda seria um “grande apoio” para a campanha do ‘Brexit’. Dois meses depois, as palavras de Farage soaram quase como uma premonição.  A maior surpresa de 2016 para os partidos políticos tradicionais holandeses foi a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais nos Estados Unidos. Wilders reagiu eufórico: “Esta vitória é uma revolução […] O que é possível nos Estados Unidos também poderá acontecer na Holanda”. Por outro lado, há partidos tradicionais que acham que o efeito poderá ser completamente oposto. “Talvez isto sirva para despertar as pessoas”, disse o líder neoliberal, Alexander Pechtold (D66).

18. É provável que as caóticas primeiras semanas do mandato de Trump não tenham ajudado a manter uma boa imagem da revolta populista: foi exatamente durante estas semanas que o partido de Wilders desceu ligeiramente nas sondagens. E há outros “efeitos Trump”: uma desconfiança em relação às sondagens, que falharam no caso americano, e alguma apreensão face à possibilidade de a Rússia ter interesse em manipular as eleições holandesas. Há quem afirme que isso já sucedeu no referendo sobre a Ucrânia.
Governo Wilders?

19. Se o PVV ganhar as eleições, haverá um governo Wilders? É pouco provável. A Holanda, onde a tradição do consenso político é muito forte, tem normalmente governos de coligação, com a participação de dois, três ou até quatro forças políticas. Até agora, todos os grandes partidos tradicionais excluem uma colaboração direta com Wilders. Mas, com quase 30 partidos a participar nas legislativas, existe o perigo de fragmentação do Parlamento. Tanto a esquerda como a direita estão muito divididas, havendo formações temáticas como o Partido dos Animais e o Partido 50+ (em defesa das pensões) que conseguem sempre lugares no Parlamento. Por isso, se bem que pareça irrealista um primeiro-ministro Wilders, um Governo sem o seu apoio também pode revelar-se inviável. Até 15 de março e calma antes da tempestade.

13 de março de 2017

CRIVELLA E O ISS! LEMBREM QUE O ESTADO DO RIO QUEBROU COM A CHUVA DE ISENÇÕES, ANISTIAS E REMISSÕES DE IMPOSTOS!

1. O prefeito do Rio, Marcello Crivella, tem declarado que a situação financeira da prefeitura é grave. Afirmou em entrevista –ratificada por sua secretária de Fazenda- que irá cortar 700 milhões de reais de despesas. E simultaneamente anunciou -ao mesmo tempo que o presidente do Previ-Rio/Funprevi- que irá cobrar contribuição de 11% aos aposentados e pensionistas.

2. Sua secretária de Fazenda, dias atrás, na Câmara Municipal, informou aos vereadores que a queda de arrecadação do ISS é tão grave que, desse jeito, o ISS de Recife ultrapassará o do Rio.

3. Semana passada, o prefeito do Rio, Marcello Crivella, encaminhou dois Projetos de Lei à Câmara Municipal. Um deles reduz o ISS dos CARTÕES DE CRÉDITO de 5% para 2%, ou seja, uma redução de 60%. Logo dos cartões de crédito, que cobram juros de quase 500%. Na justificativa, diz que as empresas dos cartões de crédito têm saído do Rio. Não informa quantas, não informa valor supostamente perdido, não compara com saídas de S. Paulo e nem se isso resolve. Uma cavalar redução do ISS.

4. Em outro Projeto de Lei publicado no mesmo dia (PL 19/2017), Crivella retira da alíquota do ISS de 3% dos serviços de logística relacionados à extração mineral. E faz com que a alíquota passe a abranger todo o setor de petróleo e gás, independente do tomador do serviço ser de fato um consórcio explorador da área. Além disso, estabelece uma nova alíquota de 2% para a implantação de poços marítimos, desde que os prestadores de serviço estejam em bairros como Acari, Barros Filho, Cordovil, Jardim América, Parada de Lucas, Parque Columbia, Pavuna e Vigário Geral. Não informa as empresas beneficiadas que já operam nestes bairros. Lembre-se que as alíquotas de ISS até aqui destes setores são de 5%.

5. Também na quinta-feira publicou o Decreto 42.928 autorizando a compensação de até 70% do ISS devido por empresas da área de saúde – serviços, assistência médica e congêneres (consultas, exames e procedimentos médicos de baixa e média complexidade a serem definidos pela Secretaria de Saúde).

6. O artigo 4 garante a participação de todos os interessados, inclusive daqueles que não possuam dívida tributária (arghh!!!), desde que tenham sido contratados pela tabela SUS. Portanto, nesses últimos casos, não haverá compensações destacadas no caput do decreto.

7. Trata-se, portanto, de uma remissão de dívidas do ISS e de não cobrança do ISS, feitas por decreto, o que é totalmente ilegal. Seria necessário fazê-lo por Projeto de Lei. Além disso, o não pagamento do ISS em efetivo afeta as receitas da Saúde (15%) e da Educação (25%), conforme determina a Constituição, reforçando a necessidade de lei e impedindo fazê-lo por decreto.

8. Lembre-se que quando da aprovação da nova lei do ISS –em função de uma lei complementar federal que ampliou seu escopo em 2003- a Câmara Municipal já havia reduzido a alíquota do ISS dos hospitais, de 5% para 2%.

9. Uma das razões da falência do Estado do Rio foi o excesso de remissões, anistias e isenções de impostos.

10 de março de 2017

O ABSURDO ARROCHO SOBRE APOSENTADOS E PENSIONISTAS DA PREFEITURA DO RIO: SEM BASE E SEM QUALQUER CÁLCULO SÉRIO!

1. O sistema previdenciário, num regime de contribuição como é o caso do sistema brasileiro do INSS, parte do conceito correto que a contribuição durante X anos, gerida e aplicada corretamente pelo empregador -no caso a Prefeitura do Rio- cobrirá as aposentadorias.

2. Além disso, cabe ao gestor –Previ-Rio/Funprevi, no caso da Prefeitura do Rio- identificar fontes adicionais de recursos como, por exemplo, as imobiliárias.

3. O novo presidente do Previ-Rio -no momento que assumiu, e sem qualquer conhecimento sério anterior- usou, em seu discurso de posse, o surrado argumento de resolver hipotéticos problemas financeiros arrochando os servidores e, em especial, aposentados e pensionistas.

4. Simultaneamente, foram vazados para a imprensa dados do Previ-Rio/Funprevi, como se se tratasse de uma quitanda. A equação básica divulgada compara as despesas com aposentadoria e pensões e supostas receitas com as contribuições dos servidores ativos, 11%, e do empregador (prefeitura), 22%.

5. Uma leitura equivocada desse balancete parcial mostra um déficit de 2 bilhões de reais.  De fato, mesmo esse balancete parcial, daria um déficit de 1 bilhão de reais. Uma vez sentados nas cadeiras, os novos diretores vão identificar os erros.

6. Mas as contas do Previ-Rio/Funprevi são mais complexas e devem ir muito além disso.  Por exemplo, as receitas com aluguéis de imóveis alugados. Os maiores exemplos são os grandes prédios centrais – Centro Administrativo e Anexo, vendidos pela prefeitura para fazer caixa anos atrás. O fato é que hoje esses aluguéis pagos pela Prefeitura estão completamente defasados, tirando receitas do Previ-Rio/Funprevi. E este é apenas um exemplo.

7. O poder legislativo municipal não recolhe a contribuição de 22% do empregador há muito tempo, numa situação de impasse. Em todos os Estados e Municípios os seus poderes legislativos recolhem a parte do empregador, inclusive o combalido Estado do Rio de Janeiro.

8. As aplicações do caixa do Previ-Rio/Funprevi não podem se guiar pelo interesse da Prefeitura, de seu tesouro. Num sistema previdenciário público, como o brasileiro, os valores atuariais de longuíssimo prazo confundem os incautos.

9. O fundamental é o acompanhamento das reservas líquidas disponíveis em cada momento. Entre 2000 e 2008, essas reservas cresceram sempre, chegando a R$ 2 bilhões. No final de 2016 estavam zeradas

10. A partir de 2010 -surpreendentemente- as reservas líquidas começaram a cair sustentadamente, bimestre a bimestre. A alegação foi o crescimento do número de aposentadorias, o que não foi demonstrado pelas tabelas do fluxo delas. As críticas não foram levadas em conta. Aplicações heterodoxas em empresas comerciais de alimentação tiveram que ser revestidas depois de um prejuízo demonstrado.

11. Mesmo sem as atualizações dos aluguéis e a parcela do empregador do poder legislativo, um balancete aritmético mostraria um déficit nominal em torno de 300 milhões de reais ao final de 2016. O vereador Cesar Maia aprovou uma emenda ao orçamento de 2017 vinculando as receitas da execução de dívida ativa ao Previ-Rio/Funprevi de forma a ir recuperando as reservas líquidas. Foi vetada.

12. Atualizando aluguéis, e o poder legislativo passando a pagar a parte do empregador (e parcelando o não pago mesmo que a longuíssimo prazo), teríamos uma situação completamente diferente da que informa o atual presidente do Previ-Rio/Funprevi.

13. Cabe agregar o imposto de renda de aposentados e pensionistas, que é receita constitucional da Prefeitura.

14. E se demonstraria a falta de necessidade de se passar a cobrar -absurdamente- a contribuição de 11% de aposentados e pensionistas. E lembre-se que, se isso for feito, a Prefeitura teria que pagar 22% relativos aos aposentados/pensionistas.

09 de março de 2017

AS VILAS OLÍMPICAS DA PREFEITURA DO RIO!

1. Uma primeira experiência de Vila Olímpica ocorreu no Morro da Mangueira -durante o governo Sarney- sob estímulo de Alcione e Chiquinho. A partir de 1994, a Prefeitura desenhou e implantou um sistema de Vilas Olímpicas. Nos últimos anos elas vêm enfrentando um processo cíclico. A partir de 2015, voltaram a ser reativadas em base ao modelo original. Nesse início de governo, em 2017, sob alegação de abertura de novas licitações, as Vilas Olímpicas sofreram um novo processo de suspensões e fechamentos.

2. O projeto “Vilas Olímpicas” tem como base a proximidade das comunidades de baixa renda e favelas, a articulação com as escolas e caminhos alternativos para os jovens, retirando a pressão e a atratividade do tráfico sobre os adolescentes e jovens. A progressão dos alunos na rede escolar enfrentava e enfrenta uma resistência, produto do desestímulo dos alunos, em função dos exemplos de seu entorno.

3. Os estudos mostraram que se teria que colar a escola em atividades que apontassem claramente para a mobilidade social aos alunos, de forma a estes terem interesse em permanecer nas escolas. Suas referências claras estavam e estão nos esportes e nas artes onde estão os seus “heróis” e apontam para o sucesso pessoal e econômico.

4. Nesse conceito, a Prefeitura ampliou a rede de quadras esportivas (e não cimentados) nas escolas e criou os programas de clube escolar e oficinas de artes. Mas teria que ir além do muro das escolas, então surgiu o programa de Vilas Olímpicas próximas às comunidades. A integração delas com as escolas é um ponto fulcral, como, aliás, afirmou o atual secretário de educação. Essa proximidade permite as escolas desenvolverem a ideia de Escolas-Parque de Anísio Teixeira.

5. E o programa avançou e as Vilas Olímpicas passaram a focar talentos esportivos e estimular suas integrações como atletas (escolinhas). Incluíram as “Escolinhas de Balé. Adicionaram programas para a Terceira Idade, com grande sucesso. E os programas para Pessoas com Deficiência. O sucesso desses, serviu como lastro na defesa da candidatura do Rio para os Jogos Pan-americanos de 2007 e foi claramente destacado e estimulou o Para-Pan, que ganhou visibilidade internacional.

6. Só em um caso o tráfico na comunidade tentou influenciar as ações da Vila Olímpica: na Maré. E por isso ela foi fechada por três meses até que a comunidade pressionasse no sentido de que aqueles não se metessem mais nas atividades. Um outro caso significativo foi a Vila Olímpica de Padre Miguel. O antigo horto, abandonado e que servia de depósito de corpos, foi transformado em Vila Olímpica. Os jovens de um lado e do outro do antigo horto estavam divididos pela presença dos traficantes. A Vila Olímpica terminou com essa divisão e as atividades incorporavam jovens e adultos sem identificação de “origem”.

7. As Vilas Olímpicas passaram a ser prioridade em regiões por toda a cidade: Mangueira, Santa Cruz, Campo Grande, Padre Miguel (onde começou a carreira da Rosângela dos Santos, velocista, medalha de bronze na olimpíada de Pequim, em 2008, e ouro no Pan de Guadalajara, em 2011), Acari, Mato Alto, Gamboa, Caju, Maré, Vidigal, da Rocinha (do Estado), Complexo do Alemão, Centro, Vila Kennedy, Santo Cristo, Vila Isabel, Ilha do Governador, Encantado…

8. A descontinuidade do sistema de Vilas Olímpicas, através da atratividade do esporte, afeta a mobilidade social e permanência de alunos na rede pública, a inclusão social de crianças e jovens, a inclusão de pessoas da terceira idade, a identificação de talentos esportivos, de pessoas com deficiência, etc. Anos atrás, a terceirização delas recebeu críticas do Tribunal de Contas do Município (TCM), que sugeriu e foram adotados contratos com Faculdades de Educação Física, de preferência próximas às Vilas Olímpicas. Depois entraram as OSs, que encareceram esse processo, parcialmente corrigido pelos cortes no “engordamento”, realizados a partir de 2015.

9. Mereceria do atual prefeito um destaque como prioridade municipal, inclusive por sua estratégia eleitoral, “cuidar das pessoas”, que o importante são as pessoas.

08 de março de 2017

OS RECURSOS DOS DEPUTADOS FEDERAIS AO STF!

1. Logo após a Constituinte de 1988, iniciou-se uma chuva de recursos dos deputados federais ao STF sempre que suas posições eram derrotadas em plenário ou que os governos –dentro de suas competências- tomavam decisões que desagradavam a oposição. Num debate em plenário, em 1990, quando deputados repetiam que iam recorrer ao Supremo, Paulo Delgado –deputado do PT- foi enfático: Desse jeito vocês vão transferir o poder legislativo ao judiciário.

2. E assim foi. Os excessos de recursos ao STF foi alcunhado como judicialização da política. E, naturalmente, o STF, assoberbado desses recursos, terminava por legislar a respeito. Nos últimos dois anos foram ao menos 45 vezes (G1, 07), ou uma ação a cada 15 dias.

3. O PSOL, com 3 deputados federais dos 513, é responsável por 20% dessas ações. Quando questionado a respeito, um deputado do PSOL driblou as razões e afirmou que recorrer ao STF –independente do resultado- era uma forma de “aumentar” a sua bancada ao envolver os ministro do STF e era uma forma de conquistar espaço na imprensa que sua mínima representatividade de 3 deputados não permitia. Ou seja, usar o STF para a para fazer-se maior e ganhar destaque que suas teses não conseguiam.

4. (G1, 07) 4.1. Embora sejam comuns as críticas de parlamentares de que o Poder Judiciário interfere no processo legislativo, deputados e senadores acionaram o Supremo Tribunal Federal (STF) ao menos 45 vezes nos últimos dois anos, com pedidos para que a Corte decida sobre assuntos internos do Congresso Nacional.

4.2. G1 levantou no sistema do STF o número de vezes em que os congressistas entraram com processos desse tipo na atual legislatura, iniciada em 2015. Em média, os deputados e senadores abriram uma ação no Supremo a cada 16 dias questionando decisões tomadas dentro do próprio Congresso.

4.3. Em discurso no dia em que foi reeleito presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) fez críticas à judicialização de questões internas da Casa. Somente contra a candidatura à reeleição dele, foram abertos cinco processos diferentes. “Muito se fala em independência, mas, mais uma vez, o ator principal da nossa eleição foi o Poder Judiciário e, por incrível que pareça, por decisão dos próprios políticos”, disse Maia, no dia 2 de fevereiro. “Todas as nossas decisões acabam sendo levadas ao Judiciário”, completou em tom de crítica.

4.4.  Os apelos feitos à Justiça envolvem diversas áreas: são questionados ritos de votação, funcionamento de comissões, tramitação de projetos, representatividade de partidos, abertura de CPIs, legitimidade do presidente da Casa, entre outros. O Supremo Tribunal Federal é o guardião da Constituição. Com base nesse princípio, os parlamentares formulam as ações com o argumento de que o texto constitucional foi ferido ou interpretado de forma equivocada.

4.5. Em um caso recente, de ação aberta por deputados do PT e do PCdoB para tentar impedir a tramitação da proposta que criou um teto para o gasto público, o relator do processo, ministro Luis Roberto Barroso, usou a própria decisão para tecer uma crítica sutil. “Esta não é uma questão constitucional, mas política, a ser enfrentada com mobilização social e consciência cívica, e não com judicialização”, escreveu na peça jurídica, em outubro do ano passado, ao negar o pedido feito pelos parlamentares.

07 de março de 2017

O DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA DOS ANOS 30, A CIDADE DO SAMBA E OS CARROS ALEGÓRICOS!

1. Os problemas com 2 carros alegóricos no desfile das escolas de samba de 2017 estimulou a memória da dinâmica e das mudanças nos desfiles e nas escolas. Era um problema comum com os carros alegóricos, inclusive com destaques famosos que despencavam. Os carros alegóricos eram armados na própria concentração. O guindaste Carvalhão era um personagem do desfile.

2. Os desfiles como evento surgem nos anos 30, com o prefeito Pedro Ernesto, que “descriminalizou” os grupos de samba e oficializou os desfiles. A inclusão da expressão “escolas” que não existia antes, foi uma maneira de Pedro Ernesto poder subsidiar os grupos de samba que passaram a incluir obrigatoriamente a expressão “Escolas” para receber o subsídio.

3. Os carros alegóricos não faziam parte dos desfiles. Tinham seu próprio desfile na avenida Rio Branco: as Grandes Sociedades.

4. A mudança nos desfiles veio com o Salgueiro, de Fernando Pamplona, Maria Augusta e Joãozinho Trinta, a partir do desfile de Chica da Silva. Os carros eram proibidos de levar pessoas. Eram divisores de alas e pequenos cenários. “Chica da Silva” desfilou no chão com a mesma e rica fantasia que disputou o concurso de fantasias no Theatro Municipal.

5. Pamplona e equipe foram introduzindo, no desfile, modalidades que se apresentavam em outros momentos e lugares durante o carnaval. Com a ida de Joãozinho Trinta para a Beija Flor, ocorreram mudanças mais radicais. O samba enredo, que era sincopado, foi acelerado e passou a ser um samba-marcha. As alas deixaram de ser o espaço dos passistas e adotaram o modelo dos grandes blocos (Cacique de Ramos e Bafo da Onça) e passaram a desfilar de forma compacta.

6. O monta e desmonta das arquibancadas e camarotes criava dificuldade para os desfiles até a construção da Passarela do Samba por Brizola. A privatização da gestão dos desfiles, em 1994, reduziu fortemente as despesas da prefeitura e permitiu introduzir tecnologia especialmente no som. O tradicional “atravessou o samba” na avenida, em que uma ala cantava um trecho e outra outro trecho terminou.

7. Os galpões das escolas espalhados pela área portuária e a produção de fantasias e adereços espalhados na região das comunidades-base das escolas tiravam qualidade na preparação das escolas para o desfile. E veio a proposta por parte da Liesa, em 2002 (inaugurada em 2006), de se reunir as escolas do grupo especial num só espaço com galpões desenhados para a “construção” dos desfiles.

8. As “fábricas” das escolas de samba partiram de 2 conceitos: espaço livre com enorme altura para a construção dos carros alegóricos que antes eram montados na concentração nos desfiles. E toda a confecção de fantasias e adereços passou a ser feita nos andares da “fábrica”. Isso deu ao carnavalesco a possiblidade de visualizar muito melhor seu planejamento e dar a unidade visual ao que pensava.

9. Então, os carros alegóricos –e o próprio desfile- sofreram uma significativa mudança. Os carros alegóricos, que eram cenários das alas, passaram a ser –eles mesmos- uma ala com figurantes em todos os lados. A altura dos carros alegóricos triplicou e a largura passou a ocupar toda a avenida.

10. Carnavalescos como Paulo Barros -que entenderam as mudanças vindas da Cidade do Samba, construção dentro da “fábrica”, unidade visual e a o uso da amplitude dos carros alegóricos- ganharam um forte diferencial.

06 de março de 2017

DESEQUILÍBRIO FEDERATIVO ACENTUARÁ O ANTERIOR NO SUDESTE, NA CRISE E PÓS-CRISE!

1. Os três grandes estados do sudeste –São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais- têm respondido por pelo menos 55% do PIB brasileiro. A atual crise econômica, política e ética pela qual atravessa o Brasil está desequilibrando ainda mais a relação entre os PIBs desses 3 estados, ampliando a participação de São Paulo.

2. São Paulo representava quase 60% do PIB destes 3 estados, e Rio de Janeiro e Minas Gerais somados pouco mais de 40%. A amplitude da crise do Rio de Janeiro, alcançando seu setor mais importante –Petróleo- e sua cadeia produtiva e multiplicador econômico, afeta forte e diretamente seu PIB. E a crescente participação do Pré-Sal na extração de Petróleo tem aumentado significativamente a participação de São Paulo.

3. À crise econômica do Rio de Janeiro se acresce dramaticamente a falência e desintegração do governo estadual e, com isso, derruba o multiplicador fiscal sobre a demanda efetiva e, portanto, sobre o PIB. A crise política no Estado do Rio de Janeiro, resultante da operação Lava-Jato e outras, estará afetando não só as principais lideranças políticas-governamentais como chegando às instituições. Mais uma vez o efeito sobre o PIB estadual será significativo. A queda mais que proporcional do PIB de serviços no Rio de Janeiro é outro indicador, assim como o descontrole na área de segurança pública.

4. A mudança de perfil dos prefeitos do Rio de Janeiro e de São Paulo é outro dado importante. O novo prefeito do Rio, não correspondendo aos tradicionais elementos de identidade da cidade, cria insegurança nos investidores na área de serviços – especialmente. Ao contrário, o novo prefeito de São Paulo, com seu perfil de animador e indutor do setor privado, atrairá capitais desanimados com o Rio. Um sinal disso é o crescimento dos blocos no carnaval de São Paulo.

5. Minas Gerais atravessa sua crise ética com a insegurança e instabilidade da situação do governador. A crise econômica o afeta na média nacional, mas a recuperação pelas características de sua economia não terá o empuxe de outros estados, especialmente de São Paulo. E a crise fiscal o iguala ao Rio de Janeiro e atinge o PIB da mesma forma, com a redução da demanda efetiva relativa.

6. A crise econômica de São Paulo não tem sido acentuada pela crise política e ética na proporção do país, e nem falar do Rio de Janeiro e Minas Gerais. A crise da indústria paulista reduziu seu peso no PIB brasileiro e gerou forte perda de empregos pela situação das empresas. Mas a recuperação econômica brasileira que se inicia alavancará outra vez a indústria de São Paulo com todo o multiplicador de sua cadeia produtiva.

7. A balança comercial brasileira, tanto nas exportações quanto nas importações, já mostra que São Paulo retoma o efeito locomotiva. Esse conjunto de situações aponta claramente para um desequilibro econômico e político contra o Rio de Janeiro e a favor de São Paulo.

8. É provável que os quase 60% de São Paulo neste triângulo, em poucos anos, avance para 65%.