31 de julho de 2018

LULA E A TRANSFERÊNCIA DE VOTOS!

1. As análises sobre a campanha presidencial de 2018 -neste momento- sinalizam dúvidas sobre o fôlego de Ciro Gomes, não garantem que Bolsonaro sustente-se no atual patamar, avaliam o impacto do Blocão no crescimento de Alckmin, e especulam sobre o patamar do candidato do PT -digamos Haddad- com apoio e transferência de votos de Lula.

2. A transferência de votos de um líder político a um candidato que apoie não é direta nem garantida. Depende da taxa de rejeição/aprovação do líder, do “efeito esponja” (capacidade de absorção do candidato), do campo de seus adversários, etc.

3. No auge de sua popularidade, Lula abraçou Dilma -sua ministra e portanto colada fisicamente a ele no Palácio do Planalto- e saiu pelo Brasil afora com ela no colo, apresentando-a como sua candidata. Entre fim de 2009 e início das convenções, Dilma cresceu 10 pontos -de um pouco menos de 30% a um pouco menos de 40%. No final do primeiro turno, Dilma teve 35% dos votos sobre o total do eleitorado -que é o que se pode comparar com dados das pesquisas de intenção de voto. No segundo turno, Dilma teve 41% sobre o total do eleitorado.

4. As pesquisas eleitorais atuais com o nome de Haddad dão a ele algo como uns 3% ou 4%. Quando se diz que ele é candidato de Lula, Haddad passa a uns 10% a 12%. Em campanha, com ampla exposição do apoio de Lula, Haddad deve ter este patamar de votos ampliado. A especulação é de quanto será esta agregação.

5. Pesquisas dizem que Lula teria 30% das intenções de voto, hoje. Mas dizem também que tem quase 50% de rejeição. Portanto, seu apoio aberto a Haddad carregará os dois impulsos: para cima e para baixo. O vetor resultante não é fácil de projetar, hoje. Se for impulsionado para perto dos 20%, a probabilidade de ir ao segundo turno é grande. Abaixo disso, ao contrário.

6. Em 30 de janeiro de 2018, o Ex-Blog postou uma nota a respeito dos estudos do professor David Samuel da Universidade de Minnesota com base a dados de uma série até 2002. Este trabalho foi publicado no Brasil pela revista Opinião Pública Vol. X, outubro de 2004 paginas 221 a 241 e procurava responder a pergunta “o que levaria um eleitor a votar no PT”.

7. (Ex-Blog, 31/01/2018)  “A partir das regressões sobre diversos temas que poderiam estar relacionados com o voto no PT, Samuels chega a conclusões, na época, surpreendentes. Hoje se pode afirmar que a precisão de suas conclusões é impressionante. Segue uma lista de situações que não levam ao petismo. “A classe socioeconômica não está diretamente relacionada ao petismo. Categorias sociais como – raça, gênero, religião e idade – não apresentam relação com o petismo. Não é verdade que os católicos sejam mais petistas e que os evangélicos menos. A variável raça também não mostra relação significativa.”

8. “O atrativo do PT de reduzir a desigualdade socioeconômica não se reflete nos resultados de regressão. O desejo de maior influência do governo na economia e maior regulamentação desta, bem como o apoio ao nacionalismo econômico não estão associados ao petismo. Brasileiros que se opõem às práticas clientelistas e ao rouba-mas-faz não apresentam maior probabilidade de serem petistas. Os brasileiros que apoiam a liberdade de expressão política e que têm ideias menos hierárquicas da sociedade também não mostram maior probabilidade de serem petistas.”

9. “A variável mais importante que surge em termos do impacto sobre ser petista é a opinião sobre Lula. O resultado aqui mostrado indica que a predição aumenta quase 65% para um brasileiro que dá nota 10 a Lula numa escala de 0 a 10, em comparação com quem dá nota 5 na mesma escala”. “A importância para o petismo da popularidade de Lula tem implicações substanciais para o futuro do PT. Ele continua a ser o único líder petista que pode atrair um número de adeptos bem maior do que o partido.”. “O partido não está inteiramente livre de sua conexão a um único líder político. Os resultados deste estudo têm implicações adicionais para o futuro do petismo.”

10. O quadro atual -com Lula preso- e o PT se amesquinhando partidariamente, ao concentrar sua política e especialmente sua política eleitoral, apenas não situação de Lula, comprova o estudo de David Samuel – 15 anos depois. Não há PT: há Lula. A campanha tenta criar a Ilusão de que Lula poderá ser solto e candidato. Isso ajuda muito a impulsão de Haddad ou qualquer outro candidato do PT.

11. Mas no momento em que ficar evidenciado que Lula não será candidato, o impacto sobre a candidatura do PT será inevitável. Em campanha, o eleitor não votará num fantasma. Portanto, a curva de crescimento de Haddad como candidato de Lula tenderá a ser estancada ou mesmo invertida no momento da decisão final do TSE/STF/STJ, estimado para início de setembro.

12. Esse cenário projetado deve ser levado em conta pelos demais candidatos -e seus assessores- que perderão tempo ao fazer -hoje- uma regra de três simples, projetando o potencial de votos de Haddad, ou outro. Quem viver, verá.

30 de julho de 2018

ESTADO DE S.PAULO ENTREVISTA  CHRISTOPHER GARMAN, DIRETOR PARA AS AMÉRICAS DA CONSULTORIA DE RISCO POLÍTICO “EURASIA”!

Estado de SP: O mercado reagiu bem à notícia de apoio do Centrão ao Alckmin. Esse apoio partidário e o consequente tempo de TV podem alavancar sua candidatura?

Eurasia: Conseguir o apoio foi importante para ele, mas foi menos no sentido de alavancar e mais no de evitar um passo para trás. A campanha do Alckmin corria sério perigo. Estávamos enxergando uma crise de confiança entre os partidos que tradicionalmente seriam parceiros de Alckmin, que viam ele patinando nas pesquisas. Eles também estavam olhando Jair Bolsonaro e reconhecendo que era uma candidatura que dificilmente dava para trabalhar, dado que há promessa de cortar ministérios e nomear generais para gabinetes. Aí os partidos flertaram com Ciro. Se o Centrão tivesse ido com o Ciro ou rachado, teria criado uma dinâmica muito perversa de que a classe política tinha uma falta de confiança na campanha dele (Alckmin). Na medida em que Alckmin reverteu o quadro, evitou uma deterioração da qual a campanha esteve muito próxima. Agora, o tempo de TV o mantém no jogo.

ESP: E quais serão os desafios?

Eurasia: São dois desafios: Jair Bolsonaro (PSL) e Álvaro Dias (Podemos). Bolsonaro está na frente do Alckmin no Estado de São Paulo e o Álvaro Dias tem apoio no Sul. A pergunta é: tempo de TV é suficiente para derrubar Bolsonaro? Achamos que não. O perfil do Alckmin é difícil nessa disputa. Há um desencanto com lideranças políticas. O tema de corrupção virou muito importante. Mesmo que Alckmin se saia bem no quesito de experiência administrativa, ele se sai mal por ser visto como político tradicional. Mais importante que tempo de TV é quais candidatos se encaixam com o perfil da demanda. Hoje, Bolsonaro parece se encaixar.

ESP: A Eurasia dava 25% de chance de um reformista vencer as eleições. Esse apoio do Centrão muda a probabilidade?

Eurasia: Acho que não. A gente até havia diminuído essa probabilidade de 25% para 20% na expectativa de que Alckmin não teria apoio do Centrão. Hoje estamos com 20%, mas viés de alta.

ESP: Como fica o panorama para os outros candidatos?

Eurasia: Quem mais perde é o Ciro. Ele está numa posição muito vulnerável, porque tem base de apoio no Nordeste e, quando a candidatura do PT entrar em jogo, é o que tem mais a perder, porque está surfando nos eleitores do Lula. A chance que ele tinha era compensar essa vulnerabilidade com tempo de TV dos partidos do Centrão. Ele perdeu essa oportunidade.

ESP: Há informações de que, na negociação com Alckmin, uma alternativa para o financiamento de sindicatos chegou a ser demandada pelo Centrão. A reforma trabalhista está ameaçada?

Eurasia: Alguns ajustes devem ser feitos, mas acho difícil ter uma maioria no Congresso para rever os principais pontos. Os
partidos de centro apoiaram a reforma. Se Alckmin for eleito, as principais vertentes da reforma devem ficar de pé.

ESP: A Eurasia aposta que as reformas vão continuar independentemente de quem ganhar. Isso vale também para o PT? O sr. já comentou que, se Lula indicar um nome, essa pessoa pode crescer rapidamente.

Eurasia: Mesmo com a candidatura do PT, se vingar, deve avançar alguma reforma. Lideranças do partido criticam a reforma desse governo, mas o custo de oportunidade de não fazer a reforma da Previdência é muito grande. No governo Dilma Rousseff, o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa já estava formando uma proposta de reforma. De lá para cá, a situação fiscal se deteriorou ainda mais. Na nossa visão, o PT, chegando ao poder, vai colocar uma reforma na mesa, não tão ambiciosa como seria uma do Alckmin. A dificuldade do PT é que entraria um ambiente mais polarizado. Então a capacidade de construir uma coalizão no Congresso fica difícil. O que achamos é que o que está em jogo não é se vamos ter
uma reforma, mas quão ampla ela será.

ESP: No caso de vitória do Bolsonaro, essa dificuldade no Congresso também pode ocorrer, não?

Eurasia: A diferença é se o PT entraria com uma reforma mais modesta de cara. O Bolsonaro talvez viesse com uma mais ambiciosa, mas a dificuldade é que ele entraria com uma reação mais conflituosa com o Congresso. O caminho seria mais tortuoso e polêmico, mas, mesmo assim, algum tipo de acordo acaba saindo.

ESP: Como deverão ser abordados temas como reforma previdenciária e ajuste fiscal na campanha?

Eurasia: O único candidato que detalhou a proposta da reforma da Previdência é o Ciro. Mas a narrativa política de conciliar uma reforma com a população contra a classe política é um ganho que o governo Temer está dando para os candidatos. Encontrou-se a narrativa da reforma, com um discurso de justiça social. Na campanha, talvez não haja detalhes de proposta, mas todos vão bater no combate aos privilégios.

27 de julho de 2018

FOLHA DE S.PAULO (26) ENTREVISTA RODRIGO MAIA, PRESIDENTE DA CÂMARA DE DEPUTADOS!

Folha de SP: O centrão ficou dividido entre Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). O que desequilibrou o jogo em favor do tucano?
Rodrigo Maia: Foi ficando claro que uma agenda convergente entre Ciro e o campo mais à direita era difícil e com pouca capacidade de compreensão por parte da nossa base. Com Geraldo, as questões ideológicas convergiam sem necessidade de explicação, somado ao fato de que Ciro poderia dividir o grupo.

FSP: O sr. defendia apoiar Ciro, mas precisou aceitar o acordo com Alckmin. Sente-se derrotado?
RM: Não, ao contrário. Sempre disse que, para mim, o natural era apoiar Geraldo, mas, na conversa com Ciro, me coloquei como ator desse novo processo político, do diálogo, da capacidade de construir uma agenda de conciliação em campos opostos. O que prevaleceu é que a aliança com Geraldo geraria mais conforto aos partidos. Foi a decisão correta. Não sou daqueles que considera que as construções políticas gerem vitoriosos ou derrotados.

FSP: O sr. fala de nova política, mas o centrão tem dirigentes investigados, é base de Michel Temer, foi da órbita do PT, e se uniu ao PSDB, que governa São Paulo há mais de 20 anos. Não é contraditório?
RM: Acho que Geraldo, mesmo sendo da velha geração, já compreendeu que vai ter que incorporar um novo momento. Ele precisa construir uma frente muito maior que qualquer um dos partidos que estão na coligação, uma frente na qual o PSDB não seja hegemônico, na qual saiba dividir os espaços de poder nas eleições estaduais. O primeiro grande desafio de Alckmin é liderar um processo no qual o PSDB vai precisar entender que outras forças hoje têm poder maior do que tinham quando o PSDB foi governo [1995 a 2002] e oposição [2003 a 2016].

FSP: Quais cargos na campanha e num eventual governo o centrão negociou para fechar com Alckmin?
RM: As demandas foram focadas no processo eleitoral, em nenhum momento tratamos de governo. Mas tem que entender que participar do governo não é problema, o problema são as escolhas. Tem que construir, claro, uma nova relação dos partidos com o governo. A disputa política na eleição é disputa de poder. Tem muito mito em relação aos partidos do centrão, mas a verdade é que as únicas negociações foram essas.

FSP: Não negociaram nem cargo de coordenação na campanha?
RM: Qual o problema de querer participar? Colocamos que achamos que podemos ajudar na campanha.

FSP: DEM, PP, PRB e Solidariedade não conseguiam chegar a um consenso e o bloco quase rachou. Qual o papel de Valdemar Costa Neto, do PR, para unificá-los?
RM: Valdemar tinha posição pró-Bolsonaro (PSL) e, depois que veio para o bloco, disse que a tendência do PR era preferir Geraldo. Como havia uma divisão, quase ao meio, entre Ciro e Alckmin, a aposta dele ajudou a consolidar o apoio ao PSDB.

FSP: O PR foi o último partido a aderir ao bloco e indicou Josué Alencar (PR-MG) como vice. Por que teve prioridade?
RM: Não teve prioridade. O Josué é o nome que traz consenso a todos os partidos.

FSP: Josué sinalizou que pode não aceitar o posto. Quem será o vice deAlckmin neste caso?
RM: Estou confiante e esperarei até o último minuto, que é 5 de agosto [data limite para o registro das chapas]. Acredito que Josué ajuda muito a chapa por ser mineiro e representar uma aliança importante com segmentos do setor produtivo. Se não for ele, Alckmin tem que sentar com os partidos e escolher um nome do PP, PR, Solidariedade ou PRB.

FSP: Por que o sr. não inclui o seu partido, o DEM?
RM: Porque o DEM hoje tem a presidência da Câmara. Para manter a gente unido, todos têm que ter a oportunidade de participar da chapa majoritária.

FSP: O DEM não indicará o vice se não for Josué?
RM: O DEM não está pleiteando a vice.

FSP: O sr. negociou para ter apoio do PSDB e do bloco numa possível reeleição à presidência da Câmara?
RM: A disputa para a presidência da Câmara só é revelada depois da eleição presidencial e da composição de forças no Parlamento. É óbvio que, se esse campo sair vitorioso —e eu for eleito deputado— meu nome será lembrado e é forte.

FSP: Se Alckmin perder a eleição, o sr. conseguirá se reeleger ao comando da Casa mesmo na oposição?
RM: Fui eleito presidente na primeira vez [em 2016] numa circunstância em que poucos acreditavam. Eu não era o candidato do governo. Na segunda vez, o governo tinha dois candidatos, um era eu. Tive apoio de partidos da base e da oposição. O que vai se construir no futuro passa pela eleição. Por isso é importante que se crie uma frente que deixe claro que não é uma eleição do Geraldo, do PSDB, é uma eleição do Geraldo em cima de um programa claro.

FSP: O sr. não desistiu oficialmente da pré-candidatura ao Planalto. Quer fazer isso agora?
RM: Não. Vou escrever uma carta [Maia está em Miami enquanto Temer estiver fora do país], para ser lida nesta quinta (26) pelo presidente do DEM, ACM Neto, agradecendo e colocando minha posição.

26 de julho de 2018

O QUE DIZEM AS QUATRO ÚLTIMAS PESQUISAS PRESIDENCIAIS DO DATAFOLHA!

1. Um ponto que é consensual em pesquisas é que as tendências nunca se medem em uma só pesquisa. Os institutos repetem sempre que uma pesquisa é apenas uma fotografia daquele momento.

2. Por isso, é fundamental que os partidos e os candidatos, a partir da pré-campanha, façam pesquisas em série e em prazos menores na medida em que se vai entrando em campanha. Na campanha -decisiva- propriamente, nos últimos 30 dias, é comum o uso do monitoramento diário, ou tracking. Nesse caso, as pesquisas diárias devem ser agregadas em médias móveis, de 3 ou 4 dias, de forma a ampliar o tamanho da amostra e, assim, reduzir a margem de erro e visualizar melhor as tendências.

3. O instituto Datafolha, que viu sua credibilidade crescer nos últimos anos, divulga com periodicidade suas pesquisas políticas e eleitorais, o que permite uma análise da série e suas tendências. O Datafolha faz pesquisas em pontos de fluxo, e assim se exige uma base amostral maior.

4. Destacamos aqui as 4 últimas pesquisas presidenciais, a começar por novembro de 2017, indo até junho de 2018. Para avaliar tendências, separamos em 2 blocos. Primeiro apenas com o deputado Jair Bolsonaro, que vem liderando as pesquisas desde o ano passado. Nesta série, se vê que a candidatura de Bolsonaro se encontra estacionada, com leve tendência declinante a partir de 2017. Não é uma boa notícia para ele, pois se esperava que os números de liderança produzissem um fator de agregação por seu “favoritismo”.

5. Estas 4 últimas pesquisas mostram um teto para Bolsonaro de 20%. Na campanha, com menor tempo de exposição, não se pode ainda projetar um crescimento para Bolsonaro. Vejamos os resultados para Bolsonaro destas últimas 4 pesquisas do Datafolha.

*Pesquisa de 29 e 30/11/2017*: Jair Bolsonaro 21% / *Pesquisa de 29 e 30/01/2018*: Jair Bolsonaro 18% / *Pesquisa de 11 a 13/04/2018*: Jair Bolsonaro 17% /  *Pesquisa de 06 e 07/06/2018*: Jair Bolsonaro 19.

6. No segundo bloco, destacamos nestas pesquisas Datafolha o resultado para o segundo turno contra Geraldo Alckmin e Ciro Gomes, candidatos de maior estrutura entre os demais. Os resultados confirmam que a liderança de Bolsonaro ainda é frágil, na medida em que sua ampla liderança no primeiro turno não se confirma no segundo turno, num sinal de tendência de rejeição.

7. Nos dois casos -Alckmin e Ciro- essas pesquisas mostram empate no segundo turno. As taxas de crescimento de Ciro e Alckmin, que no primeiro turno flutuavam em torno dos 10%, é de cerca de 3 vezes maior no segundo, e de Bolsonaro é de cerca de 50% maior. Vejamos os números.

2º Turno.

a) Com Alckmin. *Pesquisa de 29 e 30/01/2018*: Geraldo Alckmin 35% e Jair Bolsonaro 33% / *Pesquisa de 11 a 13/04/2018*: Geraldo Alckmin 33% e Jair Bolsonaro 32% / *Pesquisa de 06 e 07/06/2018*: Geraldo Alckmin 33% e Jair Bolsonaro 33%.

b) Com Ciro Gomes. *Pesquisa de 11 a 13/04/2018*: Ciro Gomes 35% e Jair Bolsonaro 35% / *Pesquisa de06 e 07/06/2018*: Ciro Gomes 36% e Jair Bolsonaro 34%.

8. Agora, com as convenções e conhecido o campo eleitoral, inclusive as coligações, deve-se ir completando esta tabela e acompanhando se mantém estas tendências ou se há alterações e quais, e em que direções.

25 de julho de 2018

CAMPANHA PRESIDENCIAL: TEMPO DE TV? OU TEMPO DE EXPOSIÇÃO? VANTAGENS E DESVANTAGENS!

1. A constituição do “Blocão” e em seguida o apoio à candidatura de Alckmin levou aos analistas, a imprensa e aos políticos deduzirem que a vantagem seria o tempo de TV que agregam.

2. Não deixa de ser. Mas é muito mais que isso. Os candidatos a deputado federal, estadual, senadores e governadores são obrigados a incluir nas suas propagandas o nome do candidato a presidente que será tanto maior quanto mais seu nome agregar aos demais candidatos de suas chapas.

3. Dessa forma, o nome do candidato a presidente aparecerá na TV nas suas inserções e nas dos candidatos a governador, senadores, deputados federais e estaduais. Na medida em que o Blocão de Alckmin tem muito mais candidatos, seu nome aparecerá muito mais vezes.

4. O tempo nas Rádios repete o tempo da TV dos candidatos a presidente. E, da mesma forma, embora com exposição menor, dos nomes dos candidatos a presidente. Supondo a maior capacidade financeira da candidatura de Alckmin, o espalhamento das inserções na TV (se a emissão não for centralizada) e muito mais ainda nas rádios pela entrega das “fitas”.

5. Mas vai muito além de tudo disso. Há a propaganda gráfica via panfletos e placas. O número de candidatos a governadores, senadores, deputados federais e estaduais na chapa Alckmin/Blocão é muito muito maior. É de interesse do candidato a presidente e dos candidatos a governador rodarem panfletos e placas destacando seus nomes além dos nomes dos demais.

6. Portanto, agregando ao tempo de TV e Rádio, a quantidade de panfletos e placas, a exposição do nome de Alckmin será muito, muito maior que as de seus adversários. Ao poder de espalhamento, deve-se imaginar que a estrutura de vereadores e prefeitos multiplica e foca muito melhor. Na candidatura Alckmin/Blocão há 1.222 prefeitos e 13.710 vereadores.

7. E a mídia espontânea, ou seja, o noticiário, os debates centralizados ou descentralizados, mais ou menos capilarizados, servem a todos os candidatos a presidente. Mas servem mais àqueles candidatos com maior destaque nas pesquisas e, por isso mesmo, mais visados pelo noticiário, mais citados nos noticiários e dentro dos debates.

8. Poder-se-ia dizer que há citações positivas e negativas de todos os lados. É verdade, mas os candidatos com uma base mais ampla de apoio e uma exposição maior, certamente levam vantagem.

9. Mas será a própria campanha e o impacto da comunicação e das mensagens dos candidatos que reduzirão, manterão ou ampliarão a vantagem ou desvantagem do tempo de exposição dos candidatos.

10. Resta, portanto, as Redes Sociais para compensar os tempos de exposição.

24 de julho de 2018

“GRUPO CONTROLE”, VOLATILIDADE DO VOTO, “NÃO VOTO”, “VOTO FIXO”, “VOTO ÚTIL” E “BLOCÃO”!

1. Em entrevista ao Valor, o professor estatístico (aposentado) da Unicamp, Paulo Guimarães, falou de um método aplicado nas pesquisas desde o GPP e pelo instituto Guimarães, que preside. Batizaram de “Grupo Controle”. Quando realizam pesquisas eleitorais, buscam destacar uns 2% da amostra pesquisada com a melhor proporcionalidade espacial e por gênero possível. Depois das entrevistas cara a cara, perguntam a alguns entrevistados se aceitariam dar seus telefones e responder a poucas perguntas em uns 7, 15 dias ou mais, conforme a distância para a eleição.

2. A proporção daqueles que no contato telefônico seguido à pesquisa mudam seu voto nunca foi desprezível. Mas agora tem sido muito maior que em outras eleições. Naquela entrevista, Guimarães citou alguns números e exemplificou dizendo que nos últimos -Grupo Controle- uns 20 eleitores do candidato X tinham mudado seu voto e que era uma tendência. Um assessor desse candidato reagiu ingenuamente. Com o Grupo Controle, alguns desistem de seu voto, mas eleitores de outros candidatos também mudaram seu voto.

3. Com isso, a % de intenções de voto na próxima pesquisa pode ser parecida com a pesquisa anterior. Esse método permite mensurar a taxa de volatilidade do voto, neste e naquele candidato. E com uma breve pergunta seguinte “Por quê?”, se pode inferir as razões. Dessa forma, o uso desse método permite o candidato ajustar sua comunicação.

4. Pesquisas pré-eleitorais em 2018 têm mostrado uma volatilidade muito maior que em outras eleições. E mais ainda, tem apontado para a imprevisibilidade do Não Voto (brancos, nulos, abstenção), confirmada nas eleições estaduais e municipais que ocorreram recentemente. Vários analistas afirmam que o Não Voto em 2018 estará na faixa dos 40% ou mais. Outros afirmam que o calor da eleição corrigirá esta tendência.

5. A volatilidade dos eleitores ideológicos e religiosos e corporativos é naturalmente, muito menor: é o Voto Fixo. Mas isto não quer dizer que o Voto seja Fixo num mesmo candidato. Ele pode variar entre candidatos de um mesmo perfil de valores. Ou seja, o Voto Útil do eleitor que decide seu voto no final pragmaticamente indo para o candidato de seu perfil de voto, com mais chances de vencer. As pesquisas procuram avaliar isto com a pergunta final: “Quem você acha que vencerá esta eleição?”. A comparação entre a pergunta inicial e a final ajudará a avaliar a tendência do Voto Útil.

6. Na pré-campanha e na primeira parte da campanha, os candidatos devem procurar ampliar a proporção de seus Votos Fixos, dar flexibilidade a seu discurso para captar o Voto Útil, e criar uma expectativa otimista de vitória.

7.  Nesta pré-campanha-2018, a volatilidade de Alckmin e Ciro era maior. O Voto Fixo em Alckmin era reduzido assim como em Ciro. Com isso, risco do eleitor sair do candidato que marcou na pesquisa em direção ao Não Voto é muito grande. E além disso o fator Lula colando a comunicação de Haddad nele faz este crescer de uns 2% para 10%. Isso reduz o Não Voto e a intenção de voto em seu candidato com um perfil assemelhado, digamos, mais a esquerda/corporativa.

8. Esses comentários permitem entender a importância nessa eleição do movimento do chamado “Blocão”. Transformar este movimento do “Blocão” em voto de clientela, é no mínimo ingenuidade. O primeiro impacto da decisão do Blocão apoiar Alckmin foi múltiplo. Aumentará seu Voto Fixo, reduzirá a volatilidade de seu eleitor em direção ao Não Voto ou a outro candidato como Bolsonaro, e vai gerar expectativa de vitória muito maior que antes.

9. Bem, começa a campanha e seguem as pesquisas e os estudos relativos, especialmente através do método do Grupo Controle. Acompanhemos.

23 de julho de 2018

MAIORIA NO PARLAMENTO PASSOU A SER FUNDAMENTAL PARA A DEMOCRACIA NA AMÉRICA LATINA! A IMPORTÂNCIA DO “BLOCÃO” EM 2018! 

1. Paradoxalmente, a iniciativa de FHC e Menem de aproveitarem uma maioria parlamentar eventual para mudar a regra eleitoral que os elegeu e, através de uma emenda constitucional, introduzir a reeleição em seu próprio período de governo afetou progressivamente a democracia em toda América Latina.

2. Após a primeira eleição de Chávez na Venezuela, sua enorme popularidade e em função de sua ansiedade e experiência golpista anterior, Fidel Castro o aconselhou a não liderar um golpe de estado. Muito melhor, e que geraria estabilidade e o legitimaria, seria um golpe constitucional, construindo uma ampla maioria parlamentar.

3. Assim fez Chávez, convocando eleições para uma Assembleia Constituinte. Com enorme maioria, alterou como quis a Constituição, o que permitiu a reeleição em seu próprio período de governo, a exemplo de FHC e Menem. E na linha de Menem, foi mais longe, mudando a composição da Corte Suprema.

4. Daí para frente vieram os demais, com exceção do Uruguai, da Colômbia e do México. A fórmula estava dada: com ampla maioria, mudar a Constituição e abrir a reeleição. Mais tarde a reeleição indefinida. Ortega, na Nicarágua, foi mais longe e questionou no STF de lá -em que tinha maioria- o princípio da liberdade para ser reeleito indefinidamente. Deu no que deu.

5. Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Venezuela, Honduras, Nicarágua… No Brasil, é importante lembrar, Lula e o PT se assanharam para aprovar uma emenda constitucional permitindo a reeleição indefinida. Lula tinha maioria parlamentar para muitas coisas, mas não para isso. Recebeu o recado que não valia a pena nem tentar.

6. Aberto o processo pré-eleitoral de 2018 no Brasil, aquela possibilidade de mudar a Constituição para reeleição indefinida foi assobiada nos ouvidos dos candidatos que lideravam as pesquisas eleitorais, ambos com perfil autoritário. Além, claro, de Lula, que diretamente -conseguindo maioria no STF- ou indiretamente elegendo um candidato seu.

7. Essa hipótese, somada à impopularidade do governo, passou a ser vista como uma hipótese e alertou as lideranças políticas com maior experiência e os analistas e economistas sêniores, aqui e alhures. A economia parou, a bolsa despencou, o dólar explodiu. A greve dos caminhoneiros estimulou essa visão autoritária. O governo se ajoelhou. Em seguida, foi tentada uma greve dos petroleiros com a CUT na frente. O custo político e econômico se fez sentir.

8. Com este cenário desenhado, os candidatos de perfil autoritário foram subindo a escada das declarações descontroladas. Rasgaram a fantasia. O chamado “blocão”, ainda sem unidade suficiente e com parte dele conversando com todos os candidatos, foi amadurecendo a necessidade de construir uma unidade de forma a garantir uma maioria parlamentar que bloqueasse aventuras como se vê na América Latina.

9. Alguns analistas, comentaristas, opinadores, acadêmicos e da imprensa -e até editoriais- avaliaram o “blocão” apenas na ótica clientelista, como se tudo fosse obter uma maioria para obter benefícios.

10. O “blocão” democrático construiu sua unidade e apontou para Alckmin, em função da responsabilidade de se criar, desde já, uma muralha à qualquer nova aventura constitucional.

11. Decisão tomada, o alívio foi geral. Aqueles que já estavam flertando com os líderes das pesquisas, para se aproximar do futuro governo, refluíram porque havia alternativa. A bolsa e o dólar despencaram. Já se podia olhar para frente com otimismo em relação à política, à economia e principalmente em relação à democracia.

20 de julho de 2018

RIO:  MILICIANOS E TRAFICANTES! CV E PCC! 

(Luis Adorno – UOL, 09) 1. O avanço de milícias em comunidades do Rio de Janeiro enfraqueceu o Comando Vermelho, a principal facção criminosa fluminense, e já faz com que esses grupos paramilitares compostos por ex-policiais e agentes do estado sejam considerados o maior problema de violência no estado, segundo investigações do Ministério Público fluminense.

2. O promotor de Justiça Luiz Antônio Ayres, que combate há 20 anos as milícias no Rio, pontua que os milicianos estão em franca expansão no estado. A estratégia é se aliar a facções menores de traficantes e atrair ex-integrantes do CV para seus grupos, apontam as investigações. “Aqui no Rio de Janeiro, nós temos um problema maior do que o tráfico de drogas que é a milícia. Mais sério, maior, com cada vez mais poder, bélico e político”, afirmou ao UOL o promotor Ayres.

3. “Hoje, o CV não tenta retomar áreas da milícia. Essa tomada da milícia, à frente do CV, é vista de forma latente este ano, mas isso vem ocorrendo desde 2016”, complementou. Nos últimos dez anos, segundo Ayres, a milícia tomou quase todas as comunidades que eram do Comando Vermelho na área de Santa Cruz, na zona oeste carioca. Ele avalia que “o CV está incrivelmente enfraquecido”.

4. “A [facção] TCP (Terceiro Comando Puro), por exemplo, está fazendo alianças com a milícia em troca de proteção. A milícia tem uma capacidade financeira maior do que o CV. Estão arregimentando pessoas que eram do CV”, afirmou.

5. Para Ayres, é possível que CV esteja tentando se reorganizar em outros estados, mas ele diz não acreditar que a facção fluminense esteja com influência efetiva em outros países. Além de arregimentar traficantes, os milicianos –que exploram atividades como transporte irregular de vans, grilagem de terrenos e contrabando de mercadorias– não abandonam a venda de entorpecentes.

6. “Estimativa recente é de que as milícias estariam movimentando R$ 240 milhões por ano com todas as suas atividades ilícitas”, diz o promotor. Na última quinta-feira (5), a Polícia Civil do Rio realizou uma operação contra a milícia Liga da Justiça, considerada a maior do estado, acusada de faturar R$ 1,5 milhão por mês somente com a venda de cigarros contrabandeados do Paraguai.

7. Em audiência pública na Câmara dos Deputados na última quarta-feira (4), o ministro da Defesa, General Joaquim Silva e Luna, relatou preocupação com as duas maiores facções criminosas do país –o CV e o PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo. “PCC e Comando Vermelho são facções internacionais. Estão se organizando de maneira muito forte. As fronteiras são motivos de preocupação e de ações das Forças Armadas e forças de segurança pública”, afirmou a deputados.

8. Um dia depois, o comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, afirmou que as duas facções estão “cada vez mais fortes” e que teme, inclusive, que o Brasil se equipare ao México ou à Colômbia de 20 anos atrás, com cartéis de drogas bem estabelecidos.

9. A desembargadora Ivana David, que investiga o crime organizado em São Paulo há mais de 20 anos, diz acreditar que esse reconhecimento por parte do governo federal é um avanço. “Já tem prova de ligações internacionais. Nós temos líderes do PCC que moram na Bolívia, na Colômbia, no Paraguai, e que continuam praticando o tráfico, de lá. Com comandados aqui no Brasil e, inclusive, dentro do sistema prisional”, afirmou.

10. Segundo as promotorias de São Paulo e do Rio, no entanto, há diferenças entre as duas facções. O CV não tem histórico de organização internacional. O PCC, sim. “A atuação transnacional, a organização empresarial, o PCC já tem. É uma pré-máfia. O que eu acho para se estabelecer como máfia é que, ainda, o PCC não conseguiu realizar a lavagem de capitais. Ainda há apreensões de dinheiro enterrado e escondido”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado) de Presidente Venceslau, onde está presa a cúpula da facção.

11. A socióloga Camila Nunes Dias, professora da UFABC (Universidade Federal do ABC) e colaboradora do NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo), aponta outras diferenças entre as duas facções. Segundo ela, os grupos têm característica de atuação diferentes. “Tem uma confusão que geralmente envolve essas perspectivas da polícia. Uma coisa é ter membros do PCC que têm negócios próprios. O CV não aparece muito porque não atua como coletivo, isso desde o Fernandinho Beira-Mar. Ele tem o negócio dele e fornece drogas para morros do CV”, diz. “Não vejo como pré-máfia. Pertencer ao PCC ajuda esses indivíduos a tomar decisões mais importantes. Ter esses indivíduos também fortalece o PCC”, explica a pesquisadora.

19 de julho de 2018

VALOR (18) ENTREVISTA O ESTATÍSTICO PAULO GUIMARÃES, QUE FAZ PESQUISAS ELEITORAIS HÁ 29 ANOS! 

1. Com 29 anos de atuação em campanhas eleitorais de todos os partidos, do Psol e PT ao PSDB e DEM, o estatístico Paulo Guimarães afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem potencial para elevar para 20% a 22% as intenções de voto do candidato do PT, seja Fernando Haddad ou Jaques Wagner, e que isso pode colocar a sigla no segundo turno da eleição presidencial.

2. Mas a transferência de votos não superará esse percentual e dependerá das condições de Lula, que está preso, fazer campanha. Se conseguir, quem mais perderá votos será Ciro Gomes (PDT).

3. Guru do ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia (DEM), que ele ajudou a eleger numa eleição que muitos davam como perdida – aparecia em terceiro no dia anterior ao primeiro turno -, “Paulinho” é responsável pela pesquisa encomendada pelo DEM para orientar os partidos do “Centrão” na busca pelo presidenciável mais competitivo. Para ele, nesse cenário fragmentado, a ida ao segundo turno está aberta a todos os candidatos, até João Amoêdo (Novo), mas a união dessas siglas será decisiva.

4. O deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) já é dono do discurso anti-PT e está inflado pelo erro dos adversários em bater em Lula. O caminho para crescer, aponta, é ser reconhecido como o opositor do governo Temer. Hoje ninguém ocupa esse espaço, nem o PT. “Tem aí 42% dos votos voando a espera de alguém”, diz.

5. Bolsonaro, afirma o professor aposentado da Unicamp, que trabalhou na campanha de Aécio Neves (PSDB) em 2014, é vítima do mesmo movimento que derrubou Marina Silva (Rede) naquela eleição: a suposta estabilidade ou crescimento nas pesquisas esconde um percentual elevado de eleitores que pensaram em votar nele e desistiram. O brasileiro primeiro diz que vai votar em alguém para depois prestar atenção nas ideias. “Ele vê uma mulher bonita e diz: é essa. Mas depois percebe que tem mau hálito e vai atrás de outra. Esse movimento é constante na eleição”.

6. Mais conhecido no meio político pelas inúmeras campanhas que fez no GPP, no Rio, “Paulinho” fundou com o filho em 2017 uma empresa nova, o Instituto Guimarães. A sede é em Campinas, mas ele viaja o país para dar consultoria a candidatos e, numa parada em Brasília na quinta-feira passada, conversou com o Valor. Além de campanhas estaduais já acertadas, ele estuda os convites para fazer as pesquisas e estratégia de uma candidatura presidencial, mas ainda não fechou com ninguém. A exemplo dos partidos, está esperando o cenário clarear.

Valor: O cenário na esquerda está mais favorável para quem ir ao segundo turno: Ciro ou o PT?

Paulo Guimarães: É mais difícil para o Ciro. Não se trata de direita/esquerda. É que, dentro da imagem positiva do Lula, daqueles que simpatizam com ele, quem tem mais voto é o Ciro. Se o Lula participa ativamente da campanha, ele vai tirar de quem tem mais voto ali e transferir para o candidato dele. Temos milhares de pesquisas que comprovam isso. O apoio de uma pessoa transfere 50% dos votos dela para outra, se for para o mesmo cargo. O Lula empresta algo em torno de 20% a 22% para o candidato do PT, seja o Haddad ou Jaques Wagner. Isso com o Lula atuante. O difícil é saber qual o tamanho dessa atuação pela condição que ele se encontra hoje.

Valor: Vídeos e bilhetes não são suficientes para transferir os votos?

Paulo Guimarães: Teria que medir, não gosto de chutar. Mas o Lula participando de palanque é uma coisa, com pessoas de porta-voz é outra. Um bilhete do Lula, se eu ler, não terá efeito nenhum. Se for de parceiro dele já vão acreditar, mas terá outra conotação, outro tom de voz, e isso é importante na campanha.

Valor: A esquerda é quem mais se beneficia da rejeição ao governo?

Paulo Guimarães: Aí discordo um pouquinho de quase todo mundo. Na eleição em Brasília, pega o [governador Rodrigo] Rollemberg, que é tido como de esquerda, e o [senador] Reguffe, que também é. Ambos estão no mesmo campo, mas o Reguffe é oposição ao Rollemberg. A pesquisa define claramente qual é o campo vencedor de uma eleição, se a situação ou a oposição. Em 2018, o campo vencedor para ir ao segundo turno é a oposição.

Valor: Então é o Lula?

Guimarães: Posso garantir que nem o Lula, nem Bolsonaro, nem os outros 15 ou 16 pré-candidatos, são opositores ao Temer. Para ser opositor a sua intenção de voto, dentro dos que têm avaliação ruim ou péssima do governo, tem que ser maior que a sua média. E ninguém se posiciona aí. Hoje é espaço desocupado e é onde tem 42% do eleitorado sem candidato, voando. E isso coloca qualquer um no segundo turno.

Valor: O combate as reformas do governo Temer, como faz a oposição, não é suficiente para ser visto como opositor? Como se posicionar aí?

Guimarães: Os outros 40% do ruim/péssimo do Temer já tem algum candidato, mas é o campo com mais votos soltos. É fácil? Aí é com os marqueteiros. Eles têm um problema para resolver: o Temer não é candidato, e ele tem que ter candidato para ficar personificado o governo. Não posso ser opositor a uma pessoa que não é candidata, é muito frágil.

“Pesquisas mostram que Bolsonaro já perdeu pessoas que pensaram em votar nele e já não pensam mais”

Valor: Esse candidato é o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), mas ele tenta se distanciar do Temer e se aproximar do Lula, de quem foi presidente do Banco Central. Pode dar certo?

Guimarães: Não, não é assim. O que tem força é o Lula falar “o Paulinho é meu candidato”. Com o [José] Serra para prefeito de São Paulo em 2004 já passamos por isso. Dentro da imagem positiva do Alckmin, que era governador, quem ganhava era a [então prefeita] Marta Suplicy. Quando o Alckmin falou “peraí, meu candidato é o Serra”, acabou com a Marta, destruiu a Marta. É assim que funciona. Não adianta eu falar “sou amigo do Lula também” porque na hora que o Lula disser “é mentira, ele não é meu amigo”, desmorona.

Valor: O voto anti-PT também não é capaz de levar ao 2º turno?

Guimarães: Esse é o outro campo desta eleição, o de oposição ao Lula. Mas que já tem dono. Se você é candidato e começar a falar mal do Lula, da Dilma e do PT, o eleitor vai falar: o Bolsonaro tem razão. E o Bolsonaro vai ultrapassar o teto pessoal dele, que é de 15%, 16%. Ele já aparece em algumas pesquisas públicas com 19%, 20%. Já está acima do teto. Os outros candidatos estão, indiretamente, ajudando ele.

Valor: Alckmin ou outros candidatos de direita não se beneficiam?

Guimarães: Depois que o [ex-presidente Fernando] Collor começa a caçar marajá, você não pode falar isso. Se fala, o eleitor pensa: então o Collor está certo. Aí eu dou gás para o Collor. Mas essa é uma eleição aberta. Uma eleição fechada é quando, como está ocorrendo com um Estado do Nordeste hoje, os cinco candidatos somados têm 138% de potencial de voto. Alguém só vai crescer em cima de alguém. Hoje, se pegar a eleição presidencial, mesmo com 17, 19 candidatos, o potencial de voto dá 62%. Não precisa ninguém roubar voto de ninguém, só fazer o trabalho direitinho, que é contra o Temer. A estratégia está montada, para quem quiser, de graça (risos).

Valor: Se o Bolsonaro já é dono desse eleitorado anti-PT, ele está, então, no segundo turno?

Guimarães: Se os 17%, 20%, que o Bolsonaro tem hoje serão suficientes só o tempo vai dizer porque está muito fragmentado. Em 2002 o Serra passou para o segundo turno com 18% [dos votos totais, 24% dos válidos]. Já na última eleição, a Marina, com 21% [dos votos válidos], não foi. Mas as pesquisas mostram que o Bolsonaro já perdeu muitas pessoas que pensaram em votar nele e já não pensam mais.

Valor: Como assim?

Guimarães: É o que se identifica com o grupo controle. Você pega três mil eleitores de um candidato e acompanha como se comportam durante a campanha. O Bolsonaro vem perdendo 20% dos eleitores a cada mês. Se tem 100 eleitores, perde 20 a cada mês. Mas não tem aparecido nas pesquisas quantitativas porque ele ganha outros 20%. É um movimento que ocorre com todos os candidatos, mas com mais intensidade com quem está na frente. Primeiro vem a onda de votar em alguém, vou votar no Bolsonaro, depois começo a prestar atenção no que ele fala. E aquilo pode não me atrair, desisto e não volto mais a pensar em votar naquele candidato.

Valor: Mas ele continua na frente, está ganhando outros eleitores.

Guimarães: A taxa de saída se mantém e pode acelerar com a campanha na TV – só dá para saber fazendo pesquisa quando de fato começar. O problema de quem está na frente é que o eleitorado que pode se interessar acaba primeiro para ele. Ele perde e ganha, perde e ganha, perde e ganha, aí acaba o eleitorado, não tem mais ninguém para entrar, e ele perde, perde, perde. Foi o que ocorreu com a Marina Silva em 2014, com o Celso Russomanno em 2012, com o Ciro em 2002 e com a Cidinha Campos em 1992. A Marina, nós trabalhamos na campanha do Aécio, perdia 30% dos eleitores a cada oito dias. Mas ganhava 40%, por isso parecia que ela crescia. O voto dela era 75% desejo de mudança, o eleitor não identificava nela outras competências pessoais que rendem voto. Diziam que ela era legal, simpática, evangélica, mas nada disso dá voto. Quando a campanha explorou na TV uma régua do tempo mostrando que, em grande parte da vida, ela estava com a Dilma, que não era mudança, intensificou esse movimento. Ela perdeu 30% em oito dias e ganhou 40%, perdeu 30% e ganhou 18% (porque não tinha mais eleitorado para ganhar). Aí perdeu 30% e não ganhou nada, perdeu 30% e ficou de fora do segundo turno. A dúvida é se isso atinge o Bolsonaro no meio da campanha ou às vésperas do fim.

Valor: O movimento dos partidos do “Centrão” para se unir em torno de um candidato é decisivo?

Guimarães: É decisivo. E eu ainda aposto que, se eles não fizerem campanha “pró-bolsonaro”, de bater no Lula, colocarão candidato no segundo turno. Provavelmente contra o candidato do Lula – ainda é cedo em função de como o Lula estará na eleição.

Valor: O Ciro também negocia com esses partidos. Ele ganha ou perde ao fazer um discurso de esquerda, mas compor com siglas com ideias conservadoras?

Guimarães: O Ciro perderá grande parte dos seus eleitores hoje desde que o Lula consiga fazer campanha. Mas o centro pode compensar isso, o Ciro fica com imagem muito maior. [A contradição] Aí é pro marketing resolver. Se o Ciro se une com conservadores e faz discurso completamente liberal, criará um choque. Quando você fala em unir partidos, tem que unir ideias também. As divergências quem tem que colocar é o adversário. O adversário vai falar dos meus problemas, eu vou falar das minhas virtudes, não posso me desculpar de nenhum pecado e entrar na agenda dos inimigos. Isso está provado há milhares de anos, desde a Grécia.

Valor: Mas dá para ignorar um problema e vencer a eleição?

Guimarães: Você tem que ignorar e destacar seus pontos fortes. Por exemplo: acabei com os alagamentos em Ribeirão Preto. Foi o grande tema que fez a [ex-prefeita] Dárcy Veras se reeleger. E na contramão tinha saúde, que era muito boa quando ela entrou e ficou muito ruim, os adversários batiam muito. Foi uma guerra: ela não falou de saúde e eles não falaram de alagamentos.

“Lula transfere de 20% a 22% para o candidato do PT, seja o Haddad ou Wagner, mas depende de conseguir fazer campanha”

Valor: Políticos comentam que, pelas pesquisas, o PSDB é o partido mais rejeitado, mais até que o MDB de Temer. Por que?

Guimarães: É mesmo o PSDB. O grande protagonista da última eleição foi o Aécio e o que aconteceu depois… contaminou. O Aécio é meu amigo. É muito pior você abraçar e depois alguém mostrar que [não é assim]. Depois que você se torna o arauto da moralidade, você não pode nem esquecer de pagar refil de refrigerante, fazer xixi fora do penico, que será execrado. O [Paulo] Maluf pode, o eleitor pensa “já sei que ele é bandido, mas fez um monte de coisa”. Agora o Aécio disse que roubar é pecado, não pode. Se não fosse aquela gravação [da JBS], ele ia ganhar hoje no primeiro turno. Um mês depois da eleição fizemos pesquisa, o Aécio tinha 15% a mais do que a Dilma.

Valor: Essa rejeição alta tira o Alckmin de fora do segundo turno?

Guimarães: O ódio não é tão grande a ponto de tirar do segundo turno numa eleição tão fragmentada. Ser uma pessoa de 20% vai para o segundo turno, todos, absolutamente todos, tem chance, até o Amoêdo. Claro que quem tem mais rejeição, evidente, tem mais dificuldade. Mas ninguém tem rejeição que inviabilize a ida ao segundo turno porque ninguém tem mais de 80% de rejeição. Aliás, só o Temer.

Valor: Mas aí, no segundo turno, quem tem 70% de rejeição perde.

Guimarães: Não se for contra outro com rejeição de 70%….

Valor: A dificuldade do Alckmin crescer nas pesquisas é essa?

Guimarães: Dentro da imagem positiva do Alckmin, daqueles que simpatizam com ele e onde ele tem potencial para obter 60% dos votos – esse é um percentual histórico, que vale em todas as eleições-, hoje tem outros candidatos com voto ali e que vão perder espaço durante a campanha. O Álvaro Dias (Pode) e o Ciro estão em campanha há mais tempo. Aquele que é candidato muito antes de mim estará ganhando dentro da minha imagem positiva, o que é absolutamente impossível na hora o voto. Isso aconteceu com o Alckmin em 2008, quando o [Gilberto] Kassab disputou a reeleição [para a Prefeitura de São Paulo]. O Alckmin tinha 40% de seus votos dentro dos que avaliavam a gestão do Kassab como ótima ou boa e 40% dentro da imagem positiva da Marta. Quando a campanha começou e o Kassab mostrou o que fez, o Alckmin perdeu esses 40% para ele. Ficou momentaneamente como candidato de oposição, mas a oposição era a Marta. Ele perdeu os outros 40% e saiu no 1º turno. O Ciro terá dificuldades porque ele é muito forte na imagem positiva dos outros candidatos. Terá que compensar isso crescendo sua própria imagem positiva, angariando apoios ou sendo o opositor do Temer.

Valor: O candidato do governo deve estar fora do segundo turno. Ser opositor ao Temer ainda será decisivo nessa etapa?

Guimarães: Aí será embate de atributos porque não terá mais o Temer. Quem quer que seja terá que mostrar que é o melhor para resolver os preditores, aqueles problemas que movem o voto.

Valor: Como assim?

Guimarães: Na eleição passada, a economia respondia por mais de 60% da decisão de voto. Um tema que vários candidatos abordaram, a segurança, respondia por menos de 1%. Os candidatos estavam perdendo tempo. Ninguém acredita que ele vai resolver esse problema.

Valor: Não é a segurança pública que tem dado votos ao Bolsonaro?

Guimarães: Não. O voto dele está no ódio ao Lula. Antigamente a gente ajudou a perder muita eleição. Chegava e perguntava: qual é o principal problema? A pessoa falava as estradas. Só que as estradas lá são problema há 50 anos, as pessoas não vão acreditar que você conseguirá resolver. Não dá voto. É como a segurança no Rio, nem o exército conseguiu, se você prometer resolver vai virar meme, chacota. O que move o voto é uma coisa que estava ruim e melhorou, como o Lula com o Bolsa Família, ou algo que estava bom e ficou ruim, como a economia com a Dilma.

Valor: E qual é o principal preditor desta eleição? A Lava-Jato?

Guimarães: É a mesma história da estrada: o que estava ruim e continua ruim não move o voto. A Lava-Jato não acabou com a corrupção. Um preditor de voto é quando alguém que atribui importância maior a esse tema vota diferente dos demais. E não encontramos essa diferença.

Valor: Nem se um dos procuradores da Lava-Jato ou o juiz Sergio Moro declararem apoio a alguém?

Guimarães: Nenhum cliente pediu para medir… não vou chutar. Mas o Moro e a Lava-Jato não são unanimidade.

Valor: E qual é então o preditor?

Guimarães: O principal ainda são os temas ligados a economia.

Valor: As pesquisas mostram o mais alto índice de votos em branco e nulos em anos nesta eleição. Tem reversão ou são votos perdidos?

Guimarães: Tem. Muita gente está se espelhando nas eleições de Tocantins e Amazonas, mas eu trabalhei nelas, não pode projetar para a eleição de agora. Era mandato tampão, não tinha deputado, senador, presidente, era descasada do cenário nacional. O índice ficará um pouquinho acima do histórico. A eleição da Dilma com o Aécio teve 26% de não voto, não será nada muito diferente disso. E as redes sociais têm chamado a atenção para que o maior número de nulos está sempre entre os que desaprovam o governo. Se essas pessoas não votarem, só estão ajudando governos ruins a se perpetuarem.

Valor: A Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para proibir divulgação de pesquisas por telefone na eleição. Concorda que devem ser vetadas?

Guimarães: Pesquisa por telefone não funciona, é enquete. Quase 10% da população não tem telefone e parcela importante não atende. Se eu não conseguir fazer com que os não respondentes falem, parte significativa da amostra fica de fora, não tem validade estatística. A pessoa pode defender o quanto quiser a pesquisa por telefone e acho que tem mercado para todo mundo, não deve proibir, mas melhor pesquisa é a residencial, não adianta. Só que é a mais cara.

18 de julho de 2018

“A RELAÇÃO ENTRE NOVAS E VELHAS MÍDIAS ESTÁ MELHORANDO O JORNALISMO LATINO-AMERICANO”!

(The Economist – Estado de S.Paulo, 17) 1. Durante os distúrbios na Nicarágua, o presidente Daniel Ortega tentou uma tática que já havia funcionado antes. Em León, reduto do governo, brutamontes leais a seu regime tentaram colocar estudantes universitários em um ônibus para Manágua para ajudar a suprimir os protestos. Os estudantes se recusaram. Eles tinham visto vídeos da polícia batendo em manifestantes e não queriam participar. A resistência, relatada em sites de notícias independentes, inspirou mais protestos. Depois que Ortega foi eleito, em 2006, ele vendeu metade dos canais estatais de radiodifusão, colocou seus filhos no comando da outra metade e deixou sua mulher (que também é vice-presidente) apresentarse por 20 minutos ao dia na TV nacional. Mas páginas nas mídias sociais estão cobrindo os protestos, enquanto canais mais estabelecidos, como o 100% Noticias, pararam de se autocensurar. “As pessoas não estão mais interessadas em notícias fornecidas pelo regime”, diz Carlos Fernando Chamorro, dono do Confidencial, um jornal independente.

2. Em muitos países latino-americanos, a mídia tradicional fez um trabalho razoável de responsabilizar os governos. Jornais de Brasil, Argentina, Peru e Guatemala investigaram a corrupção e ajudaram a derrubar presidentes e ministros. Na Colômbia, a Semana, uma revista de notícias, tem uma longa tradição de denunciar abusos das forças de segurança. Muitos jornalistas, especialmente em províncias distantes, foram assassinados por seu trabalho, muitas vezes por traficantes de drogas ou outros poderosos locais. Mas os mercados de mídia da América Latina tendem a ser pequenos e dominados por magnatas com outros negócios, que prezam o bom relacionamento com os governos. Eles estão sendo abalados pela mídia digital. “Sem a necessidade de comprar ou alugar máquinas de impressão, os editores digitais podem começar apenas com o trabalho duro”, diz Janine Warner, da SembraMedia, uma ONG que ajuda jornalistas latino-americanos a se tornarem empreendedores. Seu diretório lista mais de 770 sites em 19 países que “atendem ao interesse público” e não dependem de uma única corporação ou partido pela receita.

3. Nas ditaduras elas são as únicas vozes independentes dos meios de comunicação. Na Venezuela, o Efecto Cocuyo (“Efeito Vagalume”) relata fatos que o regime tenta esconder, incluindo contagens de homicídios e a taxa de câmbio do mercado negro. Em Cuba, empresas iniciantes como El Estornudo (“O Espirro”) e o Periodismo de Barrio, embora cautelosos em questionar a legitimidade do regime, trazem relatos críticos sobre o país. Em lugares mais livres, os iniciantes estão desafiando o oligopólio tanto quanto o oficialismo. De acordo com a Unesco, na maior parte da América Latina, uma única empresa controla cerca de metade do mercado em cada categoria de mídia. No Chile, duas empresas de jornais, El Mercurio e Copesa, têm mais de 90% dos leitores. Na Colômbia, três conglomerados têm quase 60% da audiência impressa, de rádio e internet. No México, o governo de Enrique Peña Nieto, cujo mandato termina em dezembro, manteve os jornais e as emissoras de TV tranquilos, comprando muitos anúncios. Concentração e viés provocam desconfiança.

4. Apenas um quarto dos latino-americanos acha que os meios de comunicação são independentes de interesses poderosos, de acordo com pesquisas do Latinobarômetro. A nova geração de jornalistas produziu alguns “furos” impressionantes. Repórteres do site Aristegui Noticias descobriram alguns dos maiores escândalos do governo de Peña Nieto, incluindo a compra de uma mansão por sua mulher com a ajuda de um empreiteiro. Em abril de 2015, o site informou que a polícia federal havia matado 16 civis em Apatzingán, cidade no centro do México. O jornal Universal teria se recusado a publicar a matéria. Chequeado tornou-se o primeiro site de checagem de fatos da América Latina, que deixa embaraçadas tanto a esquerda quanto a direita. Segundo ele, a campanha de Mauricio Macri, atual presidente da Argentina, recebeu contribuições de empresas que haviam conquistado contratos com o governo em Buenos Aires, enquanto ele era prefeito.

5. O site também revelou que as empresas de construção no centro da investigação de corrupção da Lava Jato, no Brasil, ganharam pelo menos US$ 9,6 bilhões em contratos supervalorizados na Argentina durante os governos de Cristina Kirchner e de seu marido, Néstor Kirchner. Em 2015, o Chequeado foi a primeira empresa de comunicação na América Latina a conferir os fatos de um debate sobre as eleições presidenciais em tempo real. “Nossa meta é aumentar o custo de uma mentira”, diz sua fundadora, Laura Zommer. No Brasil, a maioria das revelações da Lava Jato foi dada aos principais jornais pelos promotores. Novos meios de comunicação se concentram em temas negligenciados. O Jota disseca o Judiciário. O Nexo é especializado em jornalismo explicativo com gráficos e cronogramas. A Agência Pública, que se concentra em direitos humanos, revelou abuso de jovens negros nas favelas pela polícia e um acordo secreto entre o governo e empresas de mineração para reter a compensação às famílias de 17 pessoas que morreram depois que uma represa se rompeu, em 2015.

6. Os iniciantes estão produzindo mudanças. Quando o site Animal Político acusou o ex-governador de Veracruz de desviar milhões de dólares para empresas fantasmas, ele fugiu do México. Depois de uma perseguição de seis meses em pelo menos três continentes, ele foi capturado na Guatemala e aguarda julgamento. As publicações digitais também participaram de uma grande reforma na Argentina. Foi em grande parte graças a seus esforços que um projeto de lei para descriminalizar o aborto foi aprovado no mês passado pela Câmara dos Deputados. Os “furos” renderam elogios, incluindo uma participação em um prêmio Pulitzer para a Aristegui Noticias e a Connectas, da Colômbia, por seu papel nas reportagens sobre os Panama Papers, que revelaram a evasão fiscal de pessoas poderosas em todo o mundo. Também renderam represálias. Entre os 14 jornalistas assassinados no México, no ano passado, quase todos trabalhavam para estabelecimentos independentes. Segundo quase metade das 100 editoras pesquisadas pela SembraMedia, membros de suas equipes sofreram ameaças ou chantagens, e mais da metade perdeu publicidade.

7. Mas os iniciantes são financeiramente vulneráveis. Pouco mais de um quarto dos sites pesquisados pela SembraMedia faturou mais de US$ 100 mil em 2016 e metade perdeu dinheiro. Idealistas em relação ao jornalismo, muitos sites ignoram os resultados financeiros. Poucos acompanham quantos leitores possuem ou coletam informações demográficas que os ajudariam a obter publicidade.  Os mais bem-sucedidos tentam conciliar o idealismo com a necessidade de pagar contas. Alguns complementam a receita de publicidade com outras receitas, como subvenções. O Chequeado, que mais do que triplicou seu orçamento desde 2013 para US$ 770 mil, é exigente com os anunciantes, mas recebe dinheiro de ONGs estrangeiras e governos. La Silla Vacía, a terceira fonte de notícias mais influente da Colômbia, de acordo com pesquisa recente, recebe 57% de sua receita de doações e 28% de publicidade e patrocínios. O restante vem do financiamento coletivo (crowd-funding) e de uma plataforma na qual os acadêmicos podem publicar trabalhos acadêmicos. Jornalistas do El Faro, em El Salvador, fundado há 20 anos, recentemente começaram a usar ferramentas como o Google Analytics para entender e expandir seu público. Em dezembro, Natalia Viana, que fundou a Agência Pública há sete anos com um grupo de outras mulheres, reuniu sua equipe para escrever o primeiro plano estratégico do empreendimento.

8. À medida que os novatos amadurecem, os antigos meios de comunicação estão se tornando cada vez mais parecidos com eles. Parte da receita do Chequeado vem da oferta de cursos de treinamento em verificação de fatos para redações em toda a América Latina. Três sites de checagem de fatos começaram no Brasil nos últimos dois anos, incluindo o Truco, que faz parte da Agência Pública. Seu trabalho, por sua vez, levou gigantes como Globo e O Estado de S. Paulo a criar equipes de checagem de fatos.  A velha e a nova mídia estão colaborando também. Investigações conjuntas e acordos de distribuição tornaram-se comuns. Jornalistas fazem vaivém entre os dois. A Agência Pública, que publica todas as suas reportagens em colaboração com outros grupos de mídia, recebe uma dúzia de reimpressões em média em blogs e jornais como Folha de S. Paulo e Guardian. Essa fertilização cruzada está melhorando o jornalismo latino-americano, mesmo na Nicarágua. O entusiasmo demonstrado por sites independentes forçou as grandes empresas a “começar a fazer jornalismo ou se arriscar a perder espectadores”, diz Chamorro. As empresas iniciantes podem ser pequenas, mas seu impacto é considerável.

9. A relação entre novas e velhas mídias está melhorando o jornalismo latino-americano.

17 de julho de 2018

ONU: PRODUÇÃO E CONSUMO GLOBAL DE DROGAS BATEM RECORDE! 87 TONELADAS DE OPIOIDES APREENDIDOS EM 2016!

(Fernanda Mena – Folha de S.Paulo, 15) 1. O mundo nunca produziu tanta cocaína nem tanto ópio quanto hoje. As pessoas nunca fizeram tanto uso não medicinal de remédios com prescrição, em especial os opioides, cujo abuso levou à morte de mais de 63 mil pessoas nos EUA em 2016. E, pela primeira vez, subiu o número de pessoas com mais de 50 anos que usam e abusam de substâncias psicotrópicas.

2. Esse quadro, tão grave quanto complexo, foi exposto pelo Relatório Mundial de Drogas 2018 do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (Unodc), lançado na mesma semana que o Monitor de Políticas de Drogas das Américas, plataforma interativa que explora as mudanças do setor nos países do continente, seus mecanismos e impactos.

3. “As Américas estão liderando as inovações em políticas de drogas em vários sentidos, ainda que muitos países tenham similaridades nas abordagens mais convencionais”, diz Ana Paula Pellegrino, pesquisadora do Instituto Igarapé, responsável pelo projeto. Para ela, a inovação mais marcante são os mercados legais e regulados de maconha para uso recreativo no Canadá, no Uruguai e em nove estados americanos —que, no entanto, são pouco explorados no documento da ONU.

4. O relatório se concentra na produção de substâncias psicotrópicas consideradas ilegais, em quantidades apreendidas e no perfil de usuários. Registrou aumento de consumidores de drogas com mais de 50 anos, algo inédito desde que a ONU criou essas métricas e que se deve a dois fatores. Primeiro, ao fato de as gerações que cresceram num ambiente em que drogas eram populares estarem envelhecendo. Seria esse o caso dos chamados baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964, que consumiram mais drogas em sua juventude do que as gerações anteriores, e dos quais muitos podem ter mantido o hábito na maturidade.

5. O segundo fator é que muitas pessoas mais velhas estariam buscando nessas substâncias ilícitas o alívio para dores e outros problemas. Isso explicaria por que as drogas mais consumidas nesta faixa etária são os opioides, os analgésicos e a maconha. Nos EUA, por exemplo, o número de consumidores de drogas com mais de 50 anos subiu de 3,6 milhões em 2006 para 10,8 milhões em 2016 —um aumento de 200%.

6. Com isso, o número de mortes por abuso de drogas nessa faixa etária também cresceu. Em 2000, 27% eram pessoas com mais de 50 anos. Em 2015, 39%. “Esse crescimento implica em fortes mudanças do ponto de vista da saúde pública e da orientação dos médicos, que muitas vezes prescrevem medicamentos analgésicos que contêm opioides sem se dar conta que seu uso pode gerar dependência”, avalia o psiquiatra Arthur Guerra, especialista em dependência química.

7. O aumento do uso não medicinal de remédios vendidos sob prescrição estaria ligado a essa prática. Para ter uma ideia, a quantidade de medicamentos opioides apreendidos em 2016 (87 toneladas) foi praticamente a mesma quantidade de heroína confiscada naquele ano (91 toneladas). Para Guerra, o tráfico dessas substâncias é muito mais fácil porque sua produção é legalizada. É o caso do fentanil, opioide cujo uso explodiu nos EUA e migrou para a Europa, e do tramadol, outro opioide farmacêutico que se alastra pelo Norte da África e pelo Oriente Médio.

8; Segundo o psiquiatra, as empresas produtoras desses remédios “serão acionadas em algum momento” pelos problemas de saúde pública que eles têm causado.

9. No extremo oposto da pirâmide etária também há problemas. O consumo de maconha entre adolescentes de 15 e 16 anos foi mais prevalente do que na população de 15 a 64 anos —5,6% deles consumiram maconha em 2016, ante 3,9% na população em geral. “Sabe-se que o dano provocado pela maconha é maior em pessoas cujo cérebro e o sistema nervoso ainda estão em desenvolvimento”, explica Gabriel Elias, coordenador de relações institucionais da Plataforma Brasileira de Política de Drogas.

10. “A regulação responsável dessa substância poderia diminuir esse uso precoce, já que a proibição torna o acesso igualitário para todas as faixas etárias.”

16 de julho de 2018

“CAIS DO VALONGO, NO PORTO DO RIO, SEM PROTEÇÃO E SEM RECURSOS”!

(Sonia Rabello, 12) Qual será o destino do chamado Cais do Valongo, declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO, localizado no Porto do Rio?

Na gangorra do vai e vem da absoluta falta de planejamento da Prefeitura do Rio, desde a gestão anterior, ninguém pode afiançar coisa alguma sobre o futuro desta área. Desde que o Cais do Valongo foi revelado, por conta das primeiras escavações das obras do projeto “Porto Maravilha”,

Há uma queda de braço entre “faturar”, internacionalmente, este excepcional patrimônio cultural, atribuindo-lhe o título honorífico de patrimônio mundial pela UNESCO, e, por outro lado, não deixar que este sítio arqueológico “atrapalhe” a previsão de ocupação de macro intensidade edilícia da área, densidade esta já vendida ao fundo imobiliária criado pelo Governo Federal via CAIXA.

Dois pontos merecem destaque, uma vez que o sítio do Cais do Valongo voltou a mídia.

1. A ausência de recursos, não só para agenciar e melhorar o próprio sítio e sua compreensão pelo público, como também para viabilizar a guarda e museificação dos objetos arquelógicos achados na área do Porto do Rio, local de  significado expressivo da memória da nossa tradição negra.

2. O outro aspecto, este importantíssimo, é que o dossiê brasileiro encaminhado à UNESCO afirma que o sítio patrimônio mundial está protegido porque é um sítio arqueológico tutelado pela  lei brasileira de arqueologia – lei 3924/1961 (p.123 do dossiê)* Ledo engano. Esta lei protege sítios arqueológicos pré-históricos tão somente para serem escavados, pesquisados e, posteriormente, poderem ser eventualmente ocupados.

Hoje, a proteção do sítio arqueológico do Valongo é quase inexistente. Isto porque todos sabiam, desde o início, da dificuldade que seria estabelecer uma verdadeira área de entorno/ambiência do sítio arqueológico caso houvesse sua real proteção pelo tombamento.

Havendo tombamento – o que protegeria de fato e de direito o Sítio Arqueológico do Valongo – haveria de se estabelecer uma área de entorno de sua visibilidade. Daí porque nem o dossiê, nem o IPHAN e nem a Prefeitura, (esta através do órgão de proteção do patrimônio cultural, o IRPH), moveram uma palha para tombar o sítio arqueológico.

E é por isso que o Sítio Arqueológico do Valongo continua desprotegido, apesar do espetáculo internacional de sua inscrição como patrimônio mundial! É como somos: irresponsáveis…

13 de julho de 2018

DIPLOMADO EM COMUNICAÇÃO POLÍTICA! SEGUNDA PARTE!

Universidade de Montevideo e Fundação Konrad Adenauer – Relatório de Antônio Mariano, presidente da Juventude Democratas – Rio de Janeiro.

4. Comunicação de Crise (Luciano Elizalde)

–       Comunicação de crise é ter uma boa equipe bem preparada tanto academicamente, como profissionalmente. Estão a todo instante treinando situações e conjunturas de crise, de modo a não perderem tempo na hora de reagir.

–       Crise é algo que foge ao nosso controle, em um momento inesperado, fora de qualquer manual.

–       É um momento aberto, sem previsão de fim e sempre imprevisível e improvável. É a hora buscar consenso para baixar a incerteza causada pela abertura.

–       Início do planejamento de uma crise: definição conjunta do problema, entender as características da organização e calcular expectativas e resultados. A partir daí, recrutar uma equipe, delegar funções dentro desta equipe, representar as situações complexas e unificar critérios e linhas de discurso.

–       A não unificação de critérios aporta a crise e você está sempre dentro, participando e vivendo a crise, nunca do lado de fora.

–       Apesar da crise ser um momento de descontrole e do imprevisível, é importante que cada organização tenha seu próprio protocolo de gerenciamento de crise.

–       Tempo da crise: 1) das redes (imediato e contínuo – necessidade de monitoramento constante e pressão mudando a cada instante), 2) da imprensa (rápida, mas não imediata – monitoramento constante, atenção permanente, necessidade de respostas prontas e estrutura temporal) e  3) justiça (bem mais lento – resultados legais).

–       Crise afetou a reputação ou a imagem? São duas coisas totalmente diferentes.

–       O motor e catalisador da crise é a imprensa.

–       O jornalismo sempre vai desconfiar da comunicação política e institucional, porque é seu trabalho fazer isso e buscar outras fontes e visões sobre a questão apresentada. Se nos irritamos com isso, é porque não entendemos o verdadeiro papel do jornalismo.

–       O melhor respaldo é o que é tomado como fonte posteriormente. E para a comunicação de crise é preciso muito respaldo.

–       Comunicação é tudo aquilo que pode mudar decisões. É um processo de negociação de longo prazo e por isso é difícil de prever. Na comunicação tentamos condicionar as decisões que serão tomadas.

–       A crise é produzida por um desequilíbrio nas relações de poder. O desequilíbrio se ativa por conta do dissenso público e/ou privado de certos jogadores e observadores.

–       Crise de julgamento. Situação social em que se julga e como resultado deste processo, muda a posição relativa do poder.

–       Crise de necessidade: Como uma experiência de necessidade não satisfeita sobre um recurso controlado por um certo jogador.

–       Crise de percepção. Como resultado da modificação da reputação e da imagem de certos jogadores.

–       Tempo: ter cenários para contar com mais tempo. Emoções e estresse: treinar-se para atuar “com distanciamento” temporal. Ações: controlar as soluções e opções. Poder: manter e fortalecer as relações de poder.

–       ANTES: 1) sem história: diagnóstico, cenários, treinamentos e protocolos; 2) com “história”: diagnóstico, fincar pé em cenários, treinamentos e protocolos.

–       DURANTE: 1) início: “enforcar-se” ou “re-enforcarse” em uma estratégica; 2) meio: gerenciar a crise cuidando de não produzir outras crises; 3) final: manter a estratégia.

5.  Media Training (Patricia Schroeder)

–       Entender o sistema de meio, compreender os critérios de “noticiabilidade” e preparar a mensagem.

–       Os meios de comunicação são empresas sujeitas às leis do mercado. Competem com outros meios e devem buscar a rentabilidade, subsistir e desenvolver-se.

–       Nos meios existem conflitos internos: a área administrativa se preocupa com custos e rentabilidade; a área comercial também se interesse pelos aspectos empresariais e; a edição/produção quer saber das notícias.

–       Critérios de “noticiabilidade”: novidade, originalidade, imprevisibilidade, ineditismo, evolução futura dos acontecimentos, proximidade geográfica, magnitude pela quantidade de pessoas, hierarquia dos personagens.

–        Elementos para um estratégia com os meios de comunicação: definir quem é o responsável final pelo tema, é necessário unificar o discursos (ter um porta voz), sustentar a verdade na transparência e com ideias força, conhecer e diferenciar os públicos, a informação interna deve fluir, é preciso desenhar um mapa de meios.

–       Como se preparar para a entrevista: preparar o tema com três mensagens, pensar e ensaiar as perguntas mais difíceis, escute-se e veja-se, praticar antes, preparar perguntas obvias e previsíveis (o que houve? Quem era o responsável? O que se espera para o futuro?).

–       O jornalista é apenas um intermediário, quem realmente importa é o público que irá receber a sua mensagem.

6. Comunicação de Governo (Mario Riorda)

–       Comunicação de governo (CG) é a mais a largo prazo de todos os tipos de comunicação política que existe. Transcende qualquer período.

–       Comunicação de riscos é feita para mudar hábitos e pode ser trabalhada junto com a comunicação de governo. Ex: qualquer campanha de prevenção feita por um governo, é uma comunicação de risco.

–       CG é criar legitimidade e isso demanda muito tempo.

–       Cada vez que aparece um fato político, necessariamente aparece um fato comunicacional.

–       Não existe separação entre a comunicação e a política, quem não sabe de um, não pode fazer um bom trabalho para o outro.

–       “Hiper personalização” é o conceito onde as pessoas ficam na frente das instituições. Exemplo disso é que partidos e coligações já não ganham mais campanhas eleitorais, mas sim os líderes, as pessoas.

–       No governo, o controle da estratégia da comunicação é muito menor do que na comunicação eleitoral.

–       As médias de avaliação dos governos na América Latina tem sido de 35% e de 60% de reprovação, salvo algumas exceções específicas.

–       Ira, bronca e ódio são três sentimentos que resumem perfeitamente o sentimento da população com relação aos políticos e governos.

–       A política é um grande caldeirão de elementos misturados e, por isso, não há apenas um erro que demonstre a descrença nela, mas é possível apontar dois principais: 1) a gestão das expectativas da população, os governos acham que as decisões são binárias, entre SIM ou NÃO, esquecendo que as pessoas querem muito mais do que isso e; 2) as crises e os ciclos econômicos dos últimos anos, que sempre afetam qualquer governo.

–       Segundo Latino barômetro, os problemas de 20 anos atrás são exatamente os mesmos: falta de trabalho, pobreza estrutural e corrupção (esta última cada vez mais evidente).

–       Ter estilo de governo é importante, mas quando ele se sobrepõe a fazer a verdadeira política, o bom governo acaba.

–       O conceito de múltiplas agendas é algo que veio para ficar. Por exemplo: na mesma manhã, na Argentina, foi aprovada a despenalização do aborto pela Câmara dos Deputados, houve o início da Copa do Mundo e, por fim, a corrida bancaria mais importante dos últimos anos. Ou seja, não existe mais a ideia de que um agenda vai se sobrepor a outra na mídia e – muito menos – nas redes sociais.

–       A média de mudança das manchetes dos principais jornais do mundo é maior do que os trending topics do Twitter.

–       A “hiper personalização” é um fenômeno internacional e que vem sendo mais presente nos governos parlamentares da Europa. Não é algo exclusivo da América Latina.

–       O único país da América Latina que não rompeu com o seu sistema partidário foi o Uruguai.

–       Em análise realizada nas 63 áreas com mais de um milhão de habitantes na América Latina (exceto Cuba e Haiti), verificou-se que 35% das equipes cuidavam apenas da comunicação do governo local, enquanto 62,5% cuidavam tanto da comunicação governamental como do próprio prefeito. “Simbiose”.

–       Uma área de comunicação no mesmo nível que outras pastas (p. Ex. Secretaria de comunicação de uma Prefeitura/Governo) é bom porque gera um mesmo nível de hierarquia e de importância para o setor. Por outro lado, é péssimo porque não gera transversalidade do tema entre as demais pastas. Chamado “governo analógico”.

–       No “governo digital”, a área responsável pela comunicação é independente, das demais áreas, respondendo apenas ao governante. Isso garante transversalidade em todo o governo.

12 de julho de 2018

DIPLOMADO EM COMUNICAÇÃO  POLÍTICA! PRIMEIRA PARTE!

Universidade de Montevideo e Fundação Konrad Adenauer – Relatório de Antônio Mariano, presidente da Juventude Democratas – Rio de Janeiro – 25/06 a 02/07- 10 horas de aula por dia.

1. Comunicação Política e Opinião Pública (Belén Amadeo)

– 3 máximas da comunicação: 1) tudo comunica, 2) se eu não comunico, alguém o fará por mim e, 3) a mensagem é do receptor e não do emissor.

–       Opinião pública é formada pela soma de três fatores: a classe política, os cidadãos e os meios de comunicação.

–       Se você tem perfeita noção do que quer transmitir e também sabe o que o adversário quer dizer, é possível construir um consenso, caso seja necessário. Ambos os lados devem estar em sintonia para construir juntos.

–       Comunicação governamental e comunicação eleitoral são dois tipos de comunicação política completamente distintos.

–       A comunicação muda de país a país, uma campanha da Guatemala não será exitosa no Uruguai, por exemplo, dada a cultura política diferente. Para ter sucesso, é preciso entender os sistemas eleitorais, de governo e de partidos de cada país.

–       Características da opinião pública: 1) polissêmica, 2) interdisciplinária e 3) dependente do contexto histórico e cultural.

–       A primeira vez que foi cunhado o termo, foi no ano de 1750 pelo ministro de finanças do rei da França, quando disse que era preciso “prestar contas à opinião pública”.

–       Todas as definições de opinião pública são válidas, visto que é um conceito mutável, equívoco e seu estudo nos aporta múltiplas definições.

–       Quatro momentos da opinião pública: 1) Pré-moderno (quando a opinião não era pública, o povo não era um ente, não havia o conceito de nação – época de Maquiavel); 2) Moderno (criação de espaços públicos genuínos, de trocas comerciais e informações; início de pensamentos liberais; maiorias e minorias); 3) Científico (a partir do século 19, com a sociedade como objeto de análise e ente comum; até a década de 1930, prevalecia uma opinião mais qualitativa, até que as pesquisas quantitativas começaram a aparecer nesta época); 4) Midiático (a partir do final da década de 1970, com a massificação da televisão).

–       Para os jovens atuais não tem diferença entre vida real e vida virtual, para eles é tudo uma única coisa. E se queremos trabalhar com comunicação, devemos ter isso em mente e saber que essa nova geração lida com o poder de uma maneira totalmente diferente da qual estamos acostumados.

–       Os políticos atuais não vão ter sucesso com a nova geração, porque sequer sabem para que servem as redes sociais.

–       Definição de cultura política (1960): conjunto de orientações políticas de uma comunidade nacional ou subnacional; ter componentes cognitivos, afetivos e de avaliação, que incluem conhecimentos e crenças sobre a realidade política, os sentimentos políticos e os compromissos com os valores políticos.

–       O conteúdo da cultura política é o resultado da socialização primária, da educação, da exposição aos meios e das experiências adultas das atuações governamentais, sociais e econômicas.

–       A cultura política afeta a atuação governamental e a estrutura política condicionando-as, ainda que não determinando-as porque sua relação flui em ambas direções.

–       4 gerações: baby boomers, analógicos, filhos da segunda guerra mundial e nascidos entre 1946 e 1964; geração X, imigrantes digitais, juventude dos anos 1980 e nascidos entre 1965 e 1979; geração Y, nativo digital, millenials e nascido entre 1980 e 2000 e; geração Z, nativo digital, geração internet e nascidos a partir de 2001.

–       A identidade saiu das instituições e foi para os indivíduos.

–       O que acontece quando há eleições a cada dois anos? A legitimidade de origem se renova constantemente e isso altera tanto as relações de poder como a sua comunicação.

–       Elementos que devem ser considerados: marco institucional, relações de poder, história recente, cultura política e mapa de meios de comunicação de massa.

–       Definição de populismo é contestada dentro da literatura política e vai depender sempre do contexto histórico e cultural de cada país.

–       Qual é o tipo de democracia na América Latina? Segundo diversos estudos, é possível chegar a seguinte conclusão: 1) poder personalista; 2) descrença nos partidos políticos; 3) fãs e seguidores antes de interlocutores e cidadãos e; 4) é construída via meios de comunicação e pesquisas de opinião.

–       Meios de comunicação são instituições, ou seja, transcendem as pessoas – e transmitem conteúdos simbólicos.

–       Impacto da TV na política: midiatização, audiovisualização, espetacularização, personalização e marketinização.

–       Conceito de cidadão supõe uma pessoa politicamente mobilizado e/ou inquieto. Diferente de um espectador, que apenas senta e observa, esperando para ver o que vai acontecer.

–       Os meios de comunicação impõe a sua lógica de entretenimento na construção da realidade política.

–       Mujica: reality show; Cristina: novela; Chávez: talk show. Cada presidente tem seu próprio jeito de fazer política midiática.

–       Os meios de comunicação se constituem em atores, cenários e dispositivos fundamentais para a política.

–       Amplificam a comunicação política, mas tiram a profundidade, argumento e densidade. Ganham estética e impacto.

–       Os políticos ou amam, ou odeiam os meios de comunicação, mas acreditam neles e dão legitimidade.

–       Auge e consolidação dos meios de comunicação, declive do discursos racional – o debate entre iguais e tempos maiores. Governar é um ato de estar em uma cena midiática, mais do que tomar decisões frente aos grandes problemas.

–   Sistemas eleitoral, de governo e de partidos condicionam a comunicação de governo.

–       A equipe de comunicação oficial faz a gestão em tempos de constantes campanhas, ainda que não seja um sistema de campanha permanente.

–       Há uma sensação de interação, mas se conserva a lógica de comunicação unidirecional.

–  “Extimidad”, todos os protagonistas de uma comunicação governamental que cada vez se centra mais nos homens e menos na gestão – e o que buscam com histórias é aumentar a avaliação da gestão.

–       Cuidado para não ter uma história extremamente personalista. Governo é gestão, e também deve executar e comunicar. As pessoas querem ver GESTÃO. O destinatário da gestão e da comunicação devem ser os cidadãos.

–       Oposição não mostra gestão, mas apenas projetos concretos e tangíveis. Nunca algo megalomaníaco, para não iludir e confundir a sociedade.

–     A comunicação de posicionamento para um indivíduo que está dentro de um partido manchado não adianta muito. É quase certo que vá perder.

–       Seu pior inimigo está dentro do partido e nunca no outro, mas é dele que você vai precisar de apoio na hora da eleição, então é preciso saber medir o humor político do momento para ver até que ponto a briga com ele pode ir, sem perder o apoio posterior da população.

–       Tipos de comunicação: 1) eleitoral (com dinheiro, agilidade, acidez, glamour), 2) governamental (estratégica, comunicação de feitos, crescendo nos últimos 15 anos), 3) de posicionamento (ante sala da comunicação eleitoral, para apresentação do candidato, mas é preciso que seja feita com um atributo associado ao candidato, com muita pesquisa e planejamento prévio – meses e até anos) e 4) de oposição (comunicação mais reativa ao que o governo diz, de preferência estando em um cargo legislativo ou em um subnacional menor, para poder apresentar projetos mais concretos e com maior facilidade).

2. Estratégias Audiovisuais em Campanhas (Elisa Lieber)

–       A midiatização da política + a preferencia dos eleitores pelo visual em lugar do argumento, coloca a videopolítica no centro da atividade proselitista. Videopolítica é o domínio da imagem e das ferramentas da comunicação audiovisual.

–      As imagens constituem, na verdade, representações políticas simplificas e esquematizadas.

–       Quando a identificação com um partido perde importância, surge a necessidade de buscar atalhos alternativos.

–       Fatores que incidem na videopolítica: conteúdo, comunicação verbal (o que e como falamos), comunicação não verbal, diferentes tipos de emissões e jornalistas e a posição no cenário (fundo, vestimenta, detalhes, etc).

–       Os conteúdos: o resumo, o debate, prepara as respostas que devem ser dadas em público, chaves centrais da mensagem, como condensar o discurso?, responder o que é perguntado, preparar-se para lançar manchetes, media training específicos para conteúdos.

–       Comunicação verbal: valorização do uso de frases eficazes, engenhosas, provocativas, da réplica. Frequentemente damos mais valor a um tom mais leve e anedótico.

–       Frases relativamente breves para que se entenda melhor; reduzir a variedade de vocabulário para ser massivo; gesticular sem ser exagerado; enfatizar algumas palavras chave; falar devagar; dar ritmo nas respostas; trabalhar o tempo a seu favor; a importância da espontaneidade em tempos de redes.

–       Comunicação não verbal: a dificuldade de exercer um controle sobre a própria mensagem audiovisual, devido a importante papel que joga a comunicação não verbal, e que pode modificar consideravelmente a mensagem, apesar de todos os esforços feitos para balancear.

–       Ter cuidado com a postura e com os movimentos das mãos; não mover-se na cadeira; ser o mais natural possível; muitas vezes os telespectadores não lembram do conteúdo de uma entrevista, mas a firmeza, o entusiasmo e ter sido amigável.

2.1. Estratégias Audiovisuais em Campanhas (Elisa Lieber)

–       O jornalista vai sempre colocar a câmera na altura dos olhos, mas nunca deixe que te filme de cima.

–       Perguntas que devemos fazer antes de ir a um programa: qual é o programa que estou indo?, qual o horário de gravação e de exibição?, aonde será feita a entrevista?, será o único entrevistado?, quem é o jornalista entrevistador?, quais temas serão abordados?, existe algum evento extra?

–       Entrevistas ao vivo apenas se você tiver 100% de certeza de que está 100% preparado para responder.

–       Nos debates: preparar as regras e a forma – quando mais interrupção, mais divertido; quem começa?, limites de tempo?, interrupção?, onde ficam?, decoração (fundo, púlpito, etc)?, edição dos planos?

–       Story-telling: conte a história da sua forma.

–       Quem é o herói, o candidato ou o cidadão? Sempre o cidadão, o candidato é o mentor, o que ajuda, mas nunca o protagonista.

–       Quem realiza sabe o enquadre correto, a iluminação e o som. Sempre conte com um técnico especialista, se quiser um bom resultado.

–       Redes sociais são para mensagens espontâneas. Atuações ficam par a televisão.

–       Cada rede é diferente, em algumas se utilizam memes e gifs, em outras fotos, outras textos, etc. O conteúdo não pode ser homogêneo.

3.  Relações entre os Poderes Públicos (Roberto Starke)

–       A democracia de hoje.

–       A divisão de poderes está em xeque por diversos atores.

–       Acreditar na independência dos três poderes é acreditar em uma utopia.

–       A política vive da heterogeneidade social. A ordem política implica obrigações, proibições e coerções. A política discrimina e divide. Não existe conflito de ideias que não esconda um conflito de pessoas.

–       A política não é universal e vai de mãos dadas com o conflito, mas também é consenso e ambos vão se equilibrando.

–       Política é feita para políticos. São sobreviventes natos, sobrevivem todos os dias.

–    Quem consegue controlar o tempo tem uma habilidade política fora do comum. Prestígio, circunstância e tempo, quando bem combinamos, resultam na possibilidade de sobreviver e adaptar-se permanente e alcançar os objetivos.

–       A democracia é um regime que busca a distribuição de poder na sociedade; tenta um equilíbrio de poder; uma das conquistas deste regime é a distinção entre a sociedade civil e a sociedade política. É um princípio de legitimidade, é um ideal. É um sistema político para resolver problemas de exercício de poder.

–       A democracia deve ser: 1) fundamentalmente uma democracia representativa, 2) primar pelo Estado de Direito, 3) proteger os direitos e as liberdades individuais e coletivas, 4) existe e se fomenta no pluralismo político, sempre respeitando as minorias, 5) com separação e independência entre os três poderes e 6) ser praticada com o sufrágio universal através de eleições livres e respeito às leis.

–       O conceito de Estado Nação tem estado em xeque, a partir do momento que um dos seus conceitos, o território, passa a ser algo totalmente permeável (vide a imigração).

–       Atualmente não são as massas que constituem um desafio para a democracia, mas sim a sua apatia.

–       Promessas não cumpridas da democracia: 1) sociedade pluralista, 2) a revanche de interesses (particular X público), 3) persistência das oligarquias, não se pode derrotar o poder oligárquico, 4) a democracia política e a democracia social – a democracia não tem conseguido ocupar todos os espaços aonde é exercido o poder, 5) o poder invisível, 6) o cidadão não educado e 7) o voto por trocas (clientelismo).

–       Democracia no século 21: fragmentação de poder, descrédito dos partidos políticos, ressurgimento da antipolítica, poderes econômicos tem um dimensão cada vez mais global, a política não termina de criar dimensão frente a economia, local X global e a globalização dos problemas.

–       Igualdade se opõe a liberdade. Valores são contraditórios entre si, o que demonstra que não existe sistema perfeito, mas o sistema que responde as circunstâncias.

–       A democracia não é uma resposta universal, já que tem mais a ver com a cultura política de cada país.

–       Sociedade civil é todo o mundo que não está vinculado a política estatal ou partidária. É a esfera em que os cidadãos se organizam de maneira autônoma e diferenciada tanto do mercado, como do Estado.

–       Ampliar a participação é ampliar o escopo de pessoas passíveis de tomarem decisões e a partir do momento em que isso acontece, perde-se consistência nas decisões tomadas.

–       A partir do momento em que a decisão fica mais próxima da população, mais legítima ela é. Do contrário, há críticas.

–       A sociedade civil pode influenciar, mas não tomar as decisões. Há uma relação formal, mas pouco efetiva, junto a classe política.

–       A sociedade civil hoje é um ator decisivo, visto que o Estado vem perdendo capacidade de tomar decisões e cumprir promessas. Ocorre um vazio entre poder e política.

–       As redes sociais otimizam a capacidade de mobilização e desafio o controle e a vigilância do Estado. No meio disso tudo, aparecem movimentos cada vez mais complexos para a democracia.

–       O poder é a capacidade de impor ou pedir as ações atuais ou futuras de outras pessoas ou grupos. O poder se expressa de quatro formas fundamentais: pela força, pelo código, pela mensagem e pela recompensa.

–       A força é o instrumento mais contundente através da qual se exerce o poder. O código apela para a obrigação moral sem coerção, por imposição social ou costume. A mensagem é a capacidade de persuadir os outros a mudarem ou aumentarem sua percepção sobre os interesses de quem persuade. A recompensa usa benefícios materiais para induzir um comportamento.

–   Existem três tipos de poder: soft power (convencimento e sedução – Obama), hard power (força – Putin) e o sharp power (mistura de ambos, mas exige uma enorme manipulação da informação, de ideias, percepções políticas e processos eleitorais – Merkel e Macron).

–       Sharp power, o poder agudo. O exemplo mais preciso são os meios de comunicação. “O que tem, será dado. O que tem pouco, será retirado, Castells.

–      Lógica dos meios: Somente os que tem informações estão em condições de receber mais informações. Aqueles sem informação ampliam a brecha entre o indivíduo e a realidade.

–       Jornalismo: legitimar a informação e quem converte a informação em comunicação.

–       Que tipo de liderança quer o povo? Conciliadores, menos confronto e mais resolução, respondendo as demandas sociais, éticos e transparentes, menos marketing e mais emoção.

–       Líderes transformadores: surge em períodos de instabilidade, as crises liberam os líderes das correntes tradicionais e o lema é “Vamos mudar a história”.

–       Líderes transacionais: o líder que privilegia o status quo e que é muito efetivo em ambientes prescindíveis. A grande maioria dos líderes são assim.

–   Soft power: inteligência emocional, visão e comunicação. Hard power: capacidade organizacional e a capacidade de articular coalizões políticas e sociais.

–       Fenômeno do populismo: difícil de definir, sinônimo de anti establishment, reflexo do mau humor social, tende a sequestrar o aparelho estatal, se desprende dos intermediários, se respalda em simples organizações e não em partidos, assédio à sociedade civil, discurso de nós X eles é o eixo da comunicação e não responde a uma ideologia.

–       A ideologia é um conjunto de ideias que explicam a realidade a partir de uma única forma.

–    A mobilização da sociedade civil pode dar total legitimidade para um líder populista.

–       O populismo chega ao poder a partir do momento em que põem-se em dúvida as regras, procedimentos e instituições, suspendem ou são alteradas as liberdades civis, desconhece a legitimidade do rival e quando encoraja a violência.

–       A cidadania está indignada e perdeu a confiança dos políticos em geral. As instituições e os partidos tem uma capacidade tardia de resposta e dão a sensação de serem pouco transparentes. A revolução das comunicações tem feito que a população tenha à disposição uma grande quantidade de informação de forma imediata e, ademais, também se converteram em transmissoras de opiniões.

–       Há 20 anos o mundo estava dividido entre “bons” e “maus”. Hoje em dia, quem são os bons e quem são os maus?

11 de julho de 2018

ELEIÇÃO SERÁ DECIDIDA NOS PÊNALTIS!

(Bruno Boghossian – Folha de S.Paulo, 07) 1. A eliminação precoce do Brasil na Copa pode até redirecionar alguns holofotes para a eleição presidencial, mas a disputa deste ano só será resolvida nos acréscimos. Fora dos campos, o quadro político continua indefinido, os partidos prolongam suas articulações e os eleitores permanecem indecisos.

2.  Em 2014, cerca de 15% dos brasileiros chegaram à véspera da abertura das urnas sem um candidato escolhido. Isso significa que 21 milhões de votos foram definidos nas 48 horas que antecederam o primeiro turno. Outros 19% se decidiram apenas duas semanas antes de votar.

3. Tradicionalmente, metade dos eleitores não consegue escolher um candidato de maneira espontânea antes do início da propaganda eleitoral na TV. Este ano, a indefinição deve se prolongar: a legislação mudou e os programas dos presidenciáveis só estrearão em setembro.

4. Os partidos aproveitam a confusão para adiar a definição de suas alianças e conseguir barganhar bons acordos com os candidatos. As siglas que formaram um bloco de negociação liderado por DEM e PP, por exemplo, prometiam definir seus rumos após a participação da seleção brasileira na Copa, mas o martelo ainda pode levar de 10 a 15 dias para ser batido. O grupo tende a fechar com Ciro Gomes (PDT), mas Geraldo Alckmin (PSDB) continua de olho em algumas das legendas.

5. A disputa em ritmo de aquecimento favorece Jair Bolsonaro (PSL). O deputado lidera parte das pesquisas, consolida seu eleitorado e foge da exposição a ataques de rivais. O mesmo vale para o PT, que esconde seu verdadeiro candidato no banco de reservas e insiste no nome de Lula.

6. A eleição só começará a tomar forma quando os petistas lançarem esse substituto —provavelmente Fernando Haddad— e quando as coligações mostrarem se Bolsonaro e Ciro terão acesso a uma fatia razoável de tempo na propaganda eleitoral.

7. O cenário deve continuar nebuloso por mais tempo. Os times ainda nem entraram em campo, e o placar só será definido nos minutos finais.

10 de julho de 2018

“TITE É BIPOLAR”! 

Ex-Blog entrevista um técnico sênior, de larga experiência nacional e internacional.

Ex-Blog: Com sua enorme experiência como treinador de clubes e seleções de futebol, como analisa a performance do técnico Tite na Copa do Mundo de 2018?

Técnico Sênior: Não é uma análise simples e, por isso, preferi não responder com meu nome. Ele se tornou uma unanimidade da mídia e dos comentaristas e foi aclamado, talvez em função disso, pela opinião pública.

EB: Mas se tiver que avaliar Tite como treinador da seleção brasileira nesta Copa do Mundo de 2018, de uma forma -digamos- sintética, como o focalizaria?

TS: Vamos tratar desta Copa do Mundo. Pelo menos, nela, Tite foi BIPOLAR.

EB: Explique.

TS: Para facilitar, vamos ficar com as imagens de Tite, nas transmissões e cobertura da televisão. Nas entrevistas pessoais e nas entrevistas coletivas, Tite respondia como um intelectual, como um cientista do futebol. Falava de forma professoral. Fatiava suas explicações em técnicas da equipe e dos jogadores e psicológicas da equipe e dos jogadores. Aparecia como um verdadeiro doutor de futebol e de psicologia esportiva.

EB: Bem, esse é um aspecto, um polo. Mas você falou em bipolar. Qual o outro polo?

TS: Mas quando entrava em campo e começava a partida, Tite se transformava. Na beira do campo perdia a serenidade das entrevistas. Era como se perdesse o autocontrole. A emoção o levava a correr, gritar, assobiar como se estivesse com um apito na boca. Gritava, gesticulava, apontava de longe para os jogadores como se eles pudessem à distância entender os berros e os gestos. Sua queda depois de um gol do Brasil é exemplo disso.

EB: É isso que você chama de bipolaridade no Tite?

TS: Exatamente. Os jogadores não tinham como entender essa transformação. O psicólogo dos jogadores os tratava paternalmente. Isso certamente os inibia. Nas entrevistas e coletivas, ele dizia que teve uma conversa pessoal de pé do ouvido, com este ou aquele jogador quando justificava seus atos. Então para que dar essa informação à imprensa?

EB: Essa bipolaridade que efeito tinha?

TS: Inevitavelmente produzia confusão nos jogadores. Talvez explique o comportamento oscilante do Neymar, por exemplo.

EB: Que outro exemplo?

TS: As expressões faciais de Gabriel Jesus, na fronteira do sério e do choro, é uma imagem clara disso. O zagueiro David Luiz foi muito criticado em 2014, por seus impulsos, alegrias e choros. Tite, na beira do campo, foi um David Luiz de 2014 em 2018. A seleção não teve capitão fixo. Não precisava, pois Tite “acumulava”.

EB: Compare com os demais técnicos?

TS: Na beira do campo quem mais se aproximou de Tite foi o técnico argentino Sampaoli. Por isso terminou “substituído” de fato pelo jogador Mascherano. Repare a postura dos técnicos vencedores em 2018. O técnico da Croácia, de terno, assistia os jogos sentado em boa parte do tempo. Os técnicos inglês, francês e belga, para apenas citar estes, da mesma forma. Na beira do campo, mostravam postura e tranquilidade.

EB: Vamos tratar de Tite tecnicamente, como tático, como estrategista em campo. O que comentaria?

TS: Nosso acordo para esta entrevista era não tratar destas questões, pois isso depende também de como formulam seus adversários. Mas para não deixar você sem resposta, vamos lá. O técnico do México inverteu a tática que usou contra a Alemanha e partiu no início do jogo contra o Brasil de forma intensamente ofensiva. Demos sorte, pois o México poderia ter feito naquele início do jogo um ou dois gols. O técnico da Bélgica copiou Osório, do México. E deu certo, fazendo dois gols. Tite, contra a Bélgica, deveria ter avaliado a possibilidade de a Bélgica fazer como o México. Resultado: levou dois gols, se perdeu no primeiro tempo e só foi acordar no segundo tempo. E vou ficar por aqui. E no caso de Fernandinho, quem errou foi Tite e não ele.

EB: Algo mais para terminarmos a entrevista?

TS: O Brasil venceu cinco Copas do Mundo. Só em 1958 venceu na Europa, na Suécia. 60 anos atrás. Todas as demais quatro foram vencidas fora da Europa. Tite deveria se alertar para isso.

09 de julho de 2018

2018: A ELEIÇÃO DO VOTO ÚTIL!

1. Entra pesquisa e sai pesquisa, de antigos e novos institutos de pesquisa, e os números pouco flutuam.

2. Bolsonaro mantém seus 20% ou pouco menos, que não mudam há meses. O segundo grupo, da mesma forma: Marina, Ciro Gomes e Alckmin que oscilam entre 7% e 10%, em geral, com Marina na frente, seguida por Ciro Gomes e Alckmin. Alvaro Dias continua estancado em 5%, concentrados no sul.

3. A única novidade é a inclusão do nome de Haddad, do PT, precedido de “candidato do Lula”. Sem isso, ele está no grupo de baixo, com 2%. Com essa inclusão, ele tem quase 10%. Essa transferência não vem dos demais candidatos, mas dos que não marcam nenhum candidato, que passam de cerca de 35% para 30%. Essa informação o eleitor terá progressivamente em campanha.

4. Com isso, o segundo grupo, dos 10%, passa a ter mais um nome: Marina, Ciro Gomes, Haddad e Alckmin.

5. Para este segundo grupo só vale atirar em Bolsonaro se houver a expectativa de que eleitores de Bolsonaro possam passar a serem eleitores de um dos outros do segundo grupo. Essa hipótese é improvável para os eleitores de Haddad e Marina.  Os demais vão contar com a cobertura do noticiário que, pelas características e história de Bolsonaro, devem afetar a intenção de voto em Bolsonaro. Ou já afetaram, dada a sua estabilização em pouco menos de 20%.

6. Haddad terá que contar exclusivamente com o impacto do apoio de Lula, que será cada vez mais aberto. Ou seja, da transferência do Não Voto para ele, ou, muito marginalmente, de Ciro Gomes e Marina.

7. A disputa dentro do segundo grupo explica a maior flexibilidade política/ideológica dos candidatos do segundo grupo -excluindo Haddad- pelo apoio dos partidos e políticos, de centro e centro-direita.

8. A diferença entre estes, do segundo grupo, está dentro do que os institutos chamam de empate técnico. Isso leva todos eles a lutarem pelo “voto útil”, ou seja, “já que o meu preferido tem menos chance, então vou optar por outro”.

9. O voto útil pode ser ajudado pelas pesquisas, na medida em que as diferenças no segundo grupo cresçam. Mas -e de qualquer forma- deve ser induzido pela campanha dos demais. E não se trata de bater no adversário cujo eleitor possa decidir transferir seu voto. Isso, às vezes, fixa mais o voto.

10. A comunicação pelo voto útil deve ser direta, ou seja, sem bater, mostrar que as chances de um candidato são diminutas e, por isso, pragmaticamente, o eleitor deveria fazer o voto útil, mudando a sua intenção de voto.

11. Já sem a Copa do Mundo, as eleições passarão a concentrar a atenção dos eleitores. Aguardemos as pesquisas de agosto.

06 de julho de 2018

NOTA DO DEMOCRATAS À IDC SOBRE A CONJUNTURA BRASILEIRA!

BRASIL:

1. POLÍTICA.

Brasil terá eleições gerais para presidente, governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais em 7 de outubro de 2018. O quadro político geral é de grande rejeição aos políticos. As eleições recentes que ocorreram por afastamento de dois governadores e alguns prefeitos, mostraram uma alta taxa de abstenção + votos brancos e nulos, que somaram mais de 40%. Com isso a imprevisibilidade para outubro é muito grande. A operação “Lava Jato” – versão brasileira da operação “mãos limpas” italiana, continua com prisões de políticos, empresários e doleiros (operadores de câmbio). Lula foi condenado e permanece preso em uma sala da policia federal. Mesmo assim, seu nome continua liderando pesquisas para presidente com 30%, embora a justiça em todas as instâncias decidiu que ele não pode ser candidato a presidente. As pesquisas mostram um deputado (ex-capitão do exército) de extrema direita liderando com 20%. Está em um pequeno partido o que o prejudicará em campanha pelo tempo de TV. Segue Ciro Gomes de centro-esquerda, com 10%, que procura se aproximar do centro, inclusive do Democratas, e chamou um economista liberal para assessorá-lo e suavizar sua imagem. Seguem Marina Silva, 10%, de origem como ecologista, ex-senadora e ex-ministra, ex-candidata a presidente, também de um pequeno partido; e Alckmin, do PSDB, de Cardoso, ex-governador de S.Paulo, que surpreende pela baixa intenção de votos (7%). As coligações de apoio aos candidatos ainda estão em formação. As convenções ocorrerão em agosto. A impopularidade do presidente Temer é recorde, com apoio de menos de 10% dos eleitores.

2. ECONOMIA.

As reformas liberais que vinham sendo aplicadas com sucesso foram interrompidas, especialmente a reforma previdenciária, após denúncia pelo procurador geral contra o presidente, o que mobilizou o Congresso na votação da autorização para seu afastamento. O Congresso negou e o processo volta em janeiro de 2019, quando Temer perder o foro de presidente. A inflação caiu para 3% ao ano, subindo agora um pouco após a greve geral dos caminhoneiros, que parou o país por 15 dias. O PIB cresce lentamente e a previsão para 2018 é que cresça 2%. A taxa de desemprego de 10% vem diminuindo muito lentamente. Uma notícia positiva é que todos os candidatos a presidente têm declarado, através de seus porta-vozes e assessores econômicos, que já no início de 2019 as reformas, especialmente a previdenciária, prosseguirão. Um problema adicional é a crise argentina, que tem afetado a economia brasileira. A economia argentina é frágil por seu pequeno mercado financeiro e poupança preferencial em dólar.

3. JUDICIÁRIO.

Há um enorme empoderamento do poder judiciário, não só pela operação “Lava Jato”, como pelos seus desdobramentos. O Supremo Tribunal Federal tem destaque diário na imprensa, com suas decisões. Passou a ser o poder de fato. Neste momento, se encontra dividido. São 11 ministros distribuídos em 2 câmaras de 5 ministros. A presidente só delibera em plenário completo. Numa câmara há resistência aberta aos excessos da operação “Lava Jato”.

4. DEMOCRATAS.

O Democratas não deve lançar candidato a presidente da República. Sua prioridade é eleger deputados e continuar presidindo a Câmara de Deputados, que tem enorme poder. A Câmara de Deputados é pulverizada. Os dois maiores partidos (PMDB e PT) tem um pouco menos de 15% dos deputados. PSDB 10%. Democratas 8%. São 513 deputados. A imprevisibilidade quanto à próxima eleição é grande. A eleição de Lopes Obrador no México era previsível. O que não era previsível é que seu partido recém criado (Morena) elegesse a maioria relativa de deputados e senadores.

CESAR MAIA

05 de julho de 2018

A CRISE ARGENTINA COMEÇA A SALPICAR NO BRASIL!  

1. (Janaina Figueiredo – Globo Online, 03) Segundo recentes pesquisas divulgadas pela imprensa local, o cenário para o chefe de Estado mudou drasticamente e hoje sua popularidade alcança 37,9%, contra um índice de rejeição que já chega a 59,8%. O inferno astral de Macri só piora. Mas o panorama político tem mudado rapidamente e, faltando mais de um ano para as presidenciais, a preocupação é grande na Casa Rosada. A crise desencadeada pelas demissões em massa na Télam somou-se às instabilidades no mercado cambial (o dólar está perto dos 30 pesos), desaceleração econômica (a projeção de crescimento neste ano caiu de 3% para 1%), perda de cerca de 100 mil empregos nos primeiros meses do ano, tensão com os sindicatos e um debate cada vez mais acirrado em relação ao projeto de lei de legalização do aborto. Para o eleitor médio de Macri (que se opõe ao aborto legal), a Argentina atual não tem nada a ver com o que se esperava de um governo macrista.

2. (Joaquim Morales Solá – La Nacion, 02) La pregunta, entonces, es por qué la economía argentina es tan potencialmente peligrosa. Veamos primero sus carencias. No tiene moneda y su mercado financiero es insignificante. Para los argentinos, la moneda de ahorro, la que verdaderamente importa, es el dólar; el peso es solo una moneda de transacción. ¿Se han equivocado? Nunca. Hasta en los últimos seis meses, después de que la última devaluación fuera mayor que cualquier tasa de interés anterior. De hecho, en el único momento en que los argentinos se sintieron tranquilos fue cuando el peso era convertible con el dólar, y valían lo mismo. El ahorro en dólares es una cultura tan extendida que va del jubilado, cuando puede, hasta el empresario más importante. Por otro lado, el mercado financiero local es demasiado insignificante como para absorber los papeles argentinos que se liquidan en el exterior. Brasil tiene un mercado financiero cinco veces más grande que el argentino. El mercado de Colombia es tres veces más importante que el local. Las cajas de seguridad o los bancos del exterior (aun en tiempos recientes, cuando también caían los bancos en el extranjero) son más seguros que el sistema financiero argentino después de que varias veces los ahorros fueran confiscados. La bancarización, que existe, sirve para los gastos del día a día, no para el ahorro. Para peor, hay abundancia de lo que no debería haber: inflación y déficits fiscal y de cuenta corriente. Hace 67 años, desde 1951, que la Argentina no puede controlar su economía inflacionaria, salvo el breve paréntesis de la convertibilidad menemista. No pudieron ni peronistas ni radicales ni militares. Ninguno. Y el déficit de cuenta corriente describe a un país que gasta más dólares que los que recibe. Los gobiernos son los primeros culpables, pero hay también una parte de la sociedad, la que puede, que prefiere pagar los placeres de la vida en el exterior. Es cierto que aquí hay una notable pérdida de noción de los precios relativos. Cualquier cosa, menos los servicios públicos, cuesta en la Argentina mucho más que en los países más caros del mundo. Está la sociedad, es cierto, pero está también la estructura del país que la empuja a hacer sus gastos en el exterior.

04 de julho de 2018

“OS INTELECTUAIS E A ARANHA” 

(Luiz Werneck Vianna – Professor, Sociólogo PUC-RJ – Estado de S.Paulo, 01) 1. A natureza balsâmica do processo eleitoral é um fato que se impõe à observação de quem se dedica à análise da cena moderna brasileira, momento em que “os de cima” calculam as condições que levem à preservação de suas posições de domínio e “os de baixo”, as oportunidades para terem acesso a mais direitos sociais e políticos. Dado que na nossa sociedade o voto se tornou universal e a democracia política encontrou âncora segura na Carta de 88, elementar que o sucesso eleitoral, diante das profundas desigualdades sociais e das diferenças regionais que nos caracterizam, dependa de uma feliz combinação entre as partes que compõem o tecido social. Pelo voto nenhuma delas ganhará tudo.

2. Se assim é, a negociação reveste-se de elemento-chave na disputa eleitoral em curso e sob esse registro tende a dissipar o clima de cólera e de intolerância com o outro até então dominante. Mais uma vez fica evidente que, entre nós, a forma superior de luta se trava no processo eleitoral – já confirmada no regime militar –, e não pelo recurso à luta armada, conforme lenda urbana ainda circulante em pequenos círculos da esquerda, usando uma expressão do repertório de sarcasmos do ministro Gilmar Mendes.

3. Dessa forma, embora persista a ação de renitentes que nos prometem uma catástrofe iminente, sem nenhum triunfalismo já se pode proclamar em alto e bom som que a crise que ameaçou a nossa democracia se encontra superada, em mais um momento de consagração da nossa Constituição. Com isso não se quer dizer que se tenha pela frente um horizonte aprazível – absolutamente não –, mas que os conflitos e as disputas que nos são próprios vêm encontrando, mesmo que apenas por ensaio e erro, as vias institucionais dos partidos, sindicatos e da vida associativa em geral, num processo com origem na sociedade civil, não no Estado, como resultou, por exemplo, na criação dos sindicatos na era Vargas e do PTB na agonia do regime autoritário de 1937.

4. Aos trancos e barrancos, a sociedade brasileira avança meio às cegas em direção ao moderno. Pode-se sustentar até que esse movimento que vem deixando para trás o peso da nossa tradição de décadas de modernização conservadora, nos termos da obra clássica de Barrington Moore, vem operando mais no terreno da societas rerum do que no da ação intencional dos homens. Com efeito, as mutações demográficas, econômicas e sociais vindas dos impulsos modernizantes vindos do vértice político – tanto os de origem em conjunturas democráticas, como nos tempos do governo JK, quanto os conduzidos por regimes autoritários, como no Estado Novo, de 1937, e no recente regime militar – têm importado numa segura conversão do caos social com que nossa sociedade iniciou sua história para se tornar uma sociedade de composição demográfica racional ao capitalismo, categoria importante no arsenal teórico de um grande autor.

5. Tal mutação está na raiz da profunda crise política com que se abriram as jornadas de junho de 2013, movimento massivo da juventude “contra tudo o que está aí”, sinal forte de risco que os acontecimentos futuros vieram a confirmar, com o impeachment e a chamada Operação Lava Jato, significando, ao fundo, o estado de exaustão das práticas e concepções com que há décadas vínhamos sendo governados.

6. Fixada a observação no movimento das estruturas da societas rerum o cenário é, pois, o de mudança que se faz indicar no terreno dos fatos, como ilustra o conjunto de importantes reformas já introduzidas na vida econômica, a maioria delas de caráter irreversível. Contudo, se o olhar se desloca para o plano das ideias e das concepções do mundo, o curso da mudança, embora tenha havido nas últimas décadas uma altamente significativa expansão do estrato dos intelectuais nas universidades e nas atividades artísticas, definha e apresenta um cenário desalentador de mesmice e de pouca criatividade.

7. Na economia, numa das sociedades mais desiguais do planeta, tivemos de esperar a notável obra de Thomas Piketty, de edição recente, para que a produção dos especialistas se voltasse para esse tema estratégico. Nas ciências sociais, desprendemo-nos da excelsa tradição que vinha de um Gilberto Freyre, de Florestan Fernandes, de Fernando Henrique Cardoso, de Raymundo Faoro, Roberto DaMatta, entre tantos nomes que se dedicaram a interpretar o País, para instalar em seu lugar os estudos identitários, que, embora importantes, certamente não têm a relevância do que foi o mainstream da reflexão disciplinar, tão necessário nesta hora em que se faz imperativa a busca de novos rumos.

8. O dilema perturbador de sempre no estudo das sociedades é o que importa mais para a observação, se a aranha ou a teia que ela tece, tal como na célebre metáfora com que Max Weber retrucou a um colega sobre suas diferenças com a teoria social de Karl Marx. A controvérsia sobre o tema provavelmente persistirá até o fim dos tempos, e esses mesmos gigantes do pensamento sempre oscilaram em suas respostas, ora favorecendo o papel do ator, ora dos fatos com que ele se enreda.

9. A grande transformação que a partir da Revolução de 1930 revolveu os fundamentos da sociedade brasileira, conduzindo-a do estágio agrário em que se encontrava para o urbano-industrial, foi antecedida por um intenso movimento de ideias nas elites intelectuais da época, de que são exemplares a obra de Euclides da Cunha, o tenentismo na juventude militar, a criação do Centro João Vital por intelectuais católicos, a Semana de Arte Moderna, em 1922, e a chegada, nesse mesmo ano, dos trabalhadores à cena política com a fundação do Partido Comunista.

10. O momento propício que experimentamos agora pode frustrar-se se os intelectuais – a aranha da metáfora de Weber – cederem ao ceticismo que ora grassa entre eles, abandonando de vez o exercício dos papéis de vanguarda com que marcaram a nossa trajetória como nação.