28 de dezembro de 2018

“UM RETRATO DE ADOLESCENTES QUE CRESCERAM EM UMA REGIÃO ESQUECIDA E SEM ESPERANÇA DA FRANÇA”. PREVENDO OS COLETES AMARELOS!

(Alex Marshall -The New York Times/Aliás – Estado de S.Paulo, 23) 1. Nicolas Mathieu ganhou o maior prêmio literário da França, o Prêmio Goncourt, por Leurs Enfants Après Eux, um retrato de adolescentes que cresceram em uma região esquecida e sem esperança da França nos anos 90. O romance surpreendeu ao ser anunciado como vencedor, mas já foi comprado pela Other Press para publicação nos Estados Unidos no final de 2019.

2. “Nicolas entende os destituídos, a classe trabalhadora, de uma maneira que a maioria dos escritores não faz”, disse Judith Gurewich, editora da Other Press, em uma entrevista por telefone. O livro teria ressonância com os leitores não franceses, disse ela, porque cada país tem áreas deixadas para trás pela desindustrialização, onde as pessoas estão com raiva. “É também uma das obras mais poderosas que li em anos”, acrescentou.

3. O vencedor – escolhido por 10 membros da Academia Goncourt, uma sociedade literária francesa – recebe um prêmio simbólico de 10 euros, ou cerca de US $ 11, mas o prêmio geralmente resulta em um enorme aumento nas vendas. O prêmio foi concedido desde 1903 no restaurante Drouant, em Paris, com os vencedores anteriores, incluindo Marcel Proust, Michel Houellebecq e, em 2017, Éric Vuillard. Mathieu ganhou o prêmio por uma votação de 6 a 4. “É um momento de vertigem”, disse Mathieu, de 40 anos, em entrevista por telefone. “A escrita é uma atividade solitária e, de repente, estou no centro das atenções.”

4. “É muito perturbador, mas é bom para o livro”, acrescentou. “Estou feliz que encontre seu público”. Their Children After Them, como será chamado em inglês, é o segundo romance de Mathieu, focado em um grupo de adolescentes que vivem em um vale no leste da França que já viu dias melhores. Os altos-fornos locais acabam de fechar; os adolescentes agora atiram pedras nos prédios vazios, em vez de esperar que trabalhem lá dentro.

5. O romance acompanha os adolescentes em quatro verões, com os seus altos – como um primeiro amor – e seus muitos contratempos, enquanto eles tentam escapar da área. O livro de Mathieu foi aclamado na França por esclarecer uma parte esquecida do país. “Ao se concentrar nas margens da sociedade, Nicolas Mathieu vê o que os pensadores da literatura reconfortante não percebem”, disse o diário francês Le Figaro.

6. “Esse é um livro muito importante. Os personagens de Mathieu ficam conosco durante muito tempo depois que já viramos as últimas páginas”, escreveu a jornalista Alexandra Schwartzbrod, no Libération, um jornal diário com tendências à esquerda, acrescentando que o livro “nos dá as chaves para compreender melhor a extensão da atual rejeição de nossas elites políticas e econômicas.”

7. A premiação vem em uma época de crescente frustração na França, com os esforços empreendidos pelo presidente Emmanuel Macron para alavancar a economia, o que parece estar favorecendo as camadas mais ricas da sociedade francesa. Diversas decisões políticas equivocadas vêm reforçando essa visão. Macron foi recentemente flagrado em um vídeo dizendo a um jardineiro desempregado em Paris que ele deveria se esforçar mais para encontrar trabalho. “Emmanuel Macron deveria ler esse livro”, afirmou Paule Constant, um dos jurados do prêmio Goncourt, afirmou o jornal Le Figaro.

8. “Eu queria dizer o que é crescer em um mundo que está acabado, com uma herança que você não quer, em um lugar onde você está muito longe da cidade grande”, disse Mathieu. “Eu queria falar por essas pessoas, não para julgar, mas para entender.” Ele não é o único autor francês que recebeu aclamação nacional e atenção internacional por escrever sobre a juventude da classe trabalhadora.

9. Escritores como Didier Eribon e Édouard Louis também foram elogiados por seu trabalho. Louis, que passou a ter sucesso global, chamou a atenção para O Fim de Eddy, sobre crescer gay em uma região pós-industrial do norte da França. É um livro cheio de violência e desespero. Mathieu cresceu em uma pequena cidade no leste da França. Ele também testemunhou os impactos da desindustrialização.

10. O romance não é baseado em sua própria infância, ele disse: “Mas eu conheço esse lugar”. Ele foi influenciado por autores americanos como John Steinbeck e Larry Brown, acrescentou, e esperava que isso fosse óbvio para qualquer leitor. “Seus Filhos Depois Deles” não está tentando fornecer uma solução para os problemas da região, acrescentou Mathieu. “Não é pessimista ou otimista. Eu acho que é realista”, disse ele. “Minha parte é escrever com precisão sobre este mundo e as pessoas que crescem naquele lugar”, acrescentou. “Eles têm muitos problemas, mas têm um pouco de liberdade e podem continuar tentando ter sucesso.”

11. Vencedor da mais recente edição do prêmio Goncourt, o francês Nicolas Mathieu previu os ‘coletes amarelos’ ao retratar o lado oculto do país.

27 de dezembro de 2018

“RUMOS DA ARRECADAÇÃO DE ROYALTIES DO PRÉ-SAL NO RIO DE JANEIRO”!

(Jornal dos Economistas – Corecon – novembro, 2018) 1. Diante da importância dos royalties do petróleo para a arrecadação do Rio de Janeiro – 11% em média nos últimos 5 anos, procuramos apontar como as atuais modificações na cotação do barril de petróleo e na política comercial do setor podem representar uma mudança de perspectiva para o orçamento do ERJ, em 2019. Todos os valores apresentados foram de acionados segundo o IPCA-E de Agosto de 2018.

2. No período de 2012 a 2016, a receita oriunda da exploração de petróleo no Rio teve uma queda de 68%, muito devido à queda do preço do barril do petróleo e às incertezas relacionadas à Petrobrás. Por outro lado, com o retorno da tendência de alta no preço, que saltou de US$ 30/barril em 2016 para US$ 77/barril em 2018, foi possível observar sinais de melhora no setor de petróleo. Em 2017, por exemplo, as receitas de royalties tiveram uma expansão de, aproximadamente, 98% em relação ao exercício anterior, o que trouxe de volta o otimismo para a economia fluminense.

3. A expansão dessa receita também se deve ao aumento da exploração do pré-sal. Após quatro anos de paralisação, em 2017, o Brasil voltou a realizar leilões de partilha das áreas de exploração, que, apesar de aumentarem a quantidade de barris produzidos no país, direcionam parte do lucro e salários para fora do país. Segundo a Agência Nacional de Petróleo, duas rodadas de partilhas ocorreram em 2018 e outras duas estão previstas para 2019, o que sustenta a Rumos da arrecadação de Royalties do pré-sal no Rio de Janeiro estimativa de um aumento ainda maior da produção de pré-sal nos próximos anos.

4. As consequências do aumento do preço do barril de petróleo e da intensificação da produção podem ser vistas.  Observa-se que, em 2018, apesar da previsão na Lei Orçamentária Anual (LOA) ter sido R$ 7,8 bilhões, a receita alcançou a marca de R$ 9,3 bilhões já ao final de setembro. Tal trajetória ascendente terá continuidade de acordo com o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2019, que indica um total de R$ 14 bilhões para o ano que vem.

5. Ainda assim, a previsão[1] pode estar subestimada, visto que a taxa de câmbio é incerta e há indícios que riscos de oferta na Venezuela e no Irã podem fazer o preço do barril subir ainda mais[2]. Somando somente os royalties e participações especiais[3] do pré-sal, são previstos R$ 8,4 bilhões provenientes exclusivamente desses campos, enquanto no exercício atual arrecadou-se R$ 1,9 bilhão até o momento desta análise.

6. O avanço no desenvolvimento dos campos de produção beneficia significativamente cidades como Maricá e Niterói e impulsiona de forma mais moderada a receita nas cidades do Rio de Janeiro, Saquarema e Angra dos Reis. Apesar do movimento positivo para as contas estaduais, não se deve esquecer a natureza volátil da receita do petróleo, que torna seu impacto na economia fluminense incerto.

7. O Rio ainda segue regras de aplicação que priorizam a despesa com o Rioprevidência, como tentativa de aliviar o déficit do fundo. Segundo a PLOA 2019, dos R$ 14,1 bilhões previstos, R$ 11,8 serão destinados ao Rioprevidência, ou seja, 84% da arrecadação. Do pouco que sobra, cerca de R$ 700 milhões serão destinados ao pagamento de dívidas com a União, deixando uma pequena parcela para o Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (FECAM), que atende a necessidade financeira de programas ambientais e de desenvolvimento urbano.

8. Sustenta-se, assim, uma relação de dependência arriscada e dificulta-se o investimento desta receita em infraestrutura e setores produtivos.

[1] PLOA 2019 – “A receita dos royalties e participação
especial foi estimada em função da produção prevista pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, da taxa de câmbio média e do preço internacional do barril previsto para 2019, valores abaixo do que estão sendo negociados atualmente no mercado internacional”.
[2] https://oglobo.globo.com/economia/petroleo-pode-voltar-us-100-barril-em2019-diz-bank-of-america-22671062 – Visitado em 10/10/2018
[3] Participações especiais são compensações financeiras, com alíquotas progressivas, devidas pelos concessionários de exploração e produção de petróleo ou gás natural para campos de grande volume de produção.

26 de dezembro de 2018

CRESCE O POPULISMO, MAS TAMBÉM A REAÇÃO AO POPULISMO NA EUROPA E NOS EUA!

(Fareed Zakaria – The Washington Post/Estado de S.Paulo, 24) 1. Emmanuel Macron tem sido a grande esperança para quem teme que a política global seja dominada pelo populismo, pelo nacionalismo e pelo racismo. Na campanha presidencial no ano passado, Macron conseguiu mobilizar a França em torno de uma mensagem de reforma e multilateralismo, permanecendo firmemente devotado à União Europeia e a outras alianças e instituições internacionais. No mês passado, ele reuniu 65 líderes mundiais para um grande encontro dedicado à governança global.

2. Macron aguentou as humilhações causadas pelos protestos dos “coletes amarelos”. Foi forçado a recuar em algumas de suas reformas e adotar novos subsídios para reduzir o orçamento, numa tentativa de apaziguar as multidões. Há a confusão no Reino Unido, que continua tentando (e fracassando) concluir o Brexit. A Itália enfrenta problemas orçamentais. Hungria e Polônia tentam adotar uma democracia não liberal. Tudo isso contribui para uma imagem deprimente da Europa e do Ocidente.

3. Mas as coisas estão realmente tão sombrias? Como aponta Matthew Karnitschnig, do Politico, o apoio à UE está em seu auge em décadas. E em um exame mais detalhado, enquanto as forças do populismo continuam a crescer em alguns lugares, a história dos últimos meses tem sido principalmente de retrocesso. Considerem a Polônia e a Hungria, os exemplos perfeitos do movimento populista-nacionalista. Na Polônia, os esforços para reformar a Suprema Corte do país provocaram imensos protestos nacionais, e o supremo tribunal da Europa ordenou que a medida fosse revertida. Na segunda-feira, Varsóvia acatou às disposições.

4. Na Hungria, os últimos passos autoritários do primeiro-ministro Viktor Orbán – mudando a lei trabalhista e a autoridade judicial – também desencadearam protestos generalizados, unindo como nunca antes as forças de oposição. A rebelião de rua representa uma oposição generalizada ao partido no poder, que previsivelmente usou gás lacrimogêneo contra os mais pacíficos manifestantes, condenou-os como anticristãos e acusou George Soros de organizar todo o caso.

5. Na França, falar em uma saída de Macron é prematuro. Sim, as pesquisas mostram que sua popularidade está diminuindo, mas os eleitores ainda o preferem à extrema direita, representada por Marine Le Pen, por ampla margem. Ele tem um mandato de cinco anos, seu partido controla a legislatura e a maioria dos analistas concorda que suas reformas são inevitáveis se a França quiser competir por investimentos e gerar crescimento. Ele pode ficar restrito a um único mandato, mas ainda terá liderado as mudanças mais importantes na França em uma geração.

6. Na Itália, o novo governo de coalizão introduziu um orçamento populista que prometia uma renda básica universal e aposentadoria antecipada, ideia que enfrentou a firme oposição da União Europeia. E foram os populistas que recuaram. Nesta semana, Roma abandonou essas medidas e anunciou um orçamento em conformidade com as diretrizes estabelecidas por Bruxelas. Parece um flashback de 2015, quando os populistas gregos foram obrigados a promulgar um programa contra o qual fizeram campanha.

7. O Reino Unido continua a ser mais complicado, mas a história básica é que, toda vez que o país chega perto do Brexit real, ele se afasta, ante o choque pelos custos. A primeira-ministra Theresa May tentou fazer um Brexit suave e, embora o acordo tenha lhe rendido o desprezo dos defensores de uma saída linha-dura, eles não podem derrubá-la. Talvez eles não queiram, porque então teriam que concretizar a tarefa impossível de May. Os defensores do Brexit venderam ao país uma fantasia de que se poderia obter os benefícios do acesso ao mercado da União Europeia sem os custos de ter de obedecer a suas regras. Com o passar do tempo, mais e mais britânicos estão percebendo que não podem manter seu bolo e comê-lo ao mesmo tempo.

8. E, finalmente, olhe para os Estados Unidos, onde reina um presidente que orgulhosamente abraça o populismo e o nacionalismo. Em novembro, o Partido Democrata teve seus ganhos mais fortes na Câmara desde a onda Watergate de 1974. O presidente Donald Trump enfrentou renúncias adicionais de importantes membros de sua administração – alguns por razões éticas, outros cansados do caos. Existem agora 17 investigações separadas sobre Trump e seus associados, algumas das quais já resultaram em indiciamentos. E isso não inclui a série de investigações do Congresso que certamente começarão quando os democratas assumirem o controle dos principais comitês da Câmara. Durante dois anos, os republicanos governaram Washington, o que lhes deu o controle sobre todas as informações governamentais. Isso acaba no dia 3 de janeiro de 2019.

9. Não pretendo minimizar a onda populista que ainda percorre o Ocidente e outras partes do mundo. Mas a preocupação não deve dar lugar ao desespero. Há muitas pessoas em todos os países que se opõem à política de raiva e identidade. Elas também são fortes. Precisam correr rápido, mas não correr com medo.

21 de dezembro de 2018

RELATÓRIO – VISITA DA DELEGAÇÃO JOVEM DO DEMOCRATAS A BERLIM E DRESDEN (ALEMANHA) EM PARCERIA COM FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, CDU E JUVENTUDE DA CDU (10 A 14 DE DEZEMBRO DE 2018)! PARTE 1!

Bruno Kazuhiro, presidente da J-DEM do Brasil e membro da executiva da Young-IDU

1. Abertura com Sr. Peter Fischer Bollin (Chefe de Cooperação Internacional da KAS) e Karsten Grabow (Analista Sênior de Sistemas Partidários da KAS)

Peter Fisher Bollin – Pela primeira vez na história da CDU o partido teve congresso com 3 nomes viáveis para vencer e presidir o partido. Essa situação negou a crítica de que a CDU não preparou líderes pós-Merkel. A disputa se centrou entre defensores de Merkel e aqueles mais conservadores que a criticam por ter se movido muito à esquerda. – Merz era mais liberal. Spahn era mais conservador. Venceu Annegret Kramp-Karrenbauer, conhecida como AKK, que é mais centrista e tinha apoio de Merkel.- Por outro lado, AKK teve que mostrar que não era apenas uma cópia de Merkel, pois do contrário perderia.- Ocorreram debates entre os 3 em 8 cidades alemãs que são pólos regionais.- Agora AKK tem que unir o partido.- Novo Secretário-Geral do partido, antiga função de AKK, será o presidente nacional da Juventude CDU. Uma vitória dos jovens.

Karsten Grabow:- Eleições 2017 fragmentaram ainda mais o parlamento alemão, que agora conta com 6 partidos (7, caso se conte CDU e CSU como partidos distintos, lembrando que a CSU representa a aliança na Baviera e a CDU atua no resto do país). CDU/CSU caiu 8,6%. SPD caiu 5,2%. AFD subiu 7,9% e entrou no parlamento. FDP subiu 6% e retornou ao parlamento. LINKE subiu 0,6%. Verdes subiram 0,5%. – Pesquisas atuais mostram crescimento dos Verdes e da AFD se o novo pleito fosse hoje. O tema principal nesse momento é a imigração. Verdes são a favor e AFD contra. Atualmente CDU e SPD perdem apoio.- A queda de apoio da CDU, embora ainda o partido mais forte, explicam em parte a saída de Merkel. Da mesma forma sairá em breve o presidente da CSU, Seehofer.- Curiosamente, hoje Merkel é mais popular entre os eleitores dos Verdes do que os da CDU. Demonstra os problemas internos do partido.- Na Holanda a centro-direita se uniu à direita mais radical e depois desapareceu. Os eleitores igualam e passam a preferir o original. CDU tem receio, por esse motivo, de coalizões locais com AFD. – É importante sempre citar que os que são contra tudo e nunca governaram sempre poderão dizer coisas que quem já governou não diz.- É importante, por outro lado, sair na frente nas pautas, tomando o controle da agenda que seria do outro partido.
– Eleitores alemães não são mais leais a um partido por toda a vida como algumas décadas atrás.- AFD tentará ampliar suas pautas e se estabelecer como força de direita no país.

2. Visita ao PopUp Lab da Fundação Konrad Adenauer, coordenado por Eva Majewski

Eva Majewski:

– PopUp Lab é o nome de um local que fica em bairro residencial, que permita atrair o interesse dos cidadãos, principalmente jovens, para a Fundação. Bem informal, com livros, decoração estilizada, bebidas grátis, palestras, eventos, discussões, etc. Uma espécie de comitê moderno e informal.- Só dá certo quando é de fácil acesso, com metrô, trens, ônibus próximos e dentro de área com circulação de pedestres, mas onde as pessoas também vivam. Ideal uma loja de rua com vitrine chamativa que dê visibilidade. Localização é fundamental.- A Juventude CDU tem um representante entre os que trabalham na Liderança da CDU no parlamento para cuidar de temas relacionados à juventude que possam estar na pauta. Atuei nessa função e agora estou coordenando o PopUp Lab.- Esse ano o nosso pólo tratou dos seguintes temas: Futuro da democracia. Estado de Direito. Educação. Inovação. Coesão Social. As reuniões tinham palestrantes que introduziam o tema e sentavam no meio de um círculo, com participantes em volta. Os eventos tinham pizza e ambiente informal. O público-alvo são universitários e ensino médio e filiados ao partido de todas as idades.- Diversos eventos em um mesmo dia. Para isso o pólo conta com 4 funcionários e alguns voluntários.
– Convites para os debates são distribuídos impressos nas caixas de correio da vizinhança. Contato mais direto. Mas também divulgação nas redes sociais.- Não usamos o pólo para fazer campanha eleitoral. São coisas distintas. A Adenauer tem status de utilidade pública justamente por essa separação.- Usamos o espaço também para incentivar o voto, já que é facultativo. Um exemplo: nas eleições para o parlamento europeu apenas 45% da população vota. Mas entre os jovens apenas 30%.- É importante debater um marketing próprio para jovens. Eles reclamam mas não participam o quanto poderiam. Temos que estimular a participação. Panfletar nas portas de faculdade, não só virtualmente.- Para estimular a participação é preciso separar os participantes em grupos, incentivar dinâmica, sugerir que os grupos tenham relatores que apresentem soluções encontradas.

3 . Conversa com Deputado Federal jovem, Philipp Amthor, no edifício anexo ao parlamento alemão

Philipp Amthor:

– Comecei na JU com 16 anos. Depois fui presidente na minha região. Apoiado por deputados anteriores, consegui vencer a eleição direta distrital em minha região. – O primeiro desafio é ser o candidato do partido. Depois é que se enfrenta a disputa no distrito.
– O trabalho de base foi fundamental para a vitória. Ir de porta em porta. Conversar. Fazíamos uma proposta: Faça um café na sua casa que levaremos o bolo.- Tivemos muitos jovens voluntários.- Campanha eleitoral durou 9 meses. Mas os cartazes e televisão são permitidos nos últimos 2 meses. – As sessões plenárias são 2 semanas por mês, de segunda a sexta. Sempre com muitas reuniões partidárias sobre os projetos. Nas outras semanas são reuniões das comissões ou visitas às bases eleitorais.- Temos uma soma global de gastos do gabinete e dividimos como achamos melhor para contratar assessores. São 200 mil euros anuais.- Ter trabalho de base, formação de jovens, desenvolver os valores do partido, participar de movimentos, ter contato com lideranças do partido, seriam meus conselhos para os jovens candidatos.- CDU apóia as candidaturas de suas lideranças jovens. Incentiva que sejam candidatos. Mas há desafios também como entrar em boa posição na lista de candidatos ou ser o candidato em um certo distrito.- Nosso sistema eleitoral ajuda a renovação caso os partidos queiram ajudar.

4- Dresden, capital da Saxônia, estado ao sul de Berlim e Brandemburgo

Almoço com diretor da Fundação Konrad Adenauer na Saxônia, Joachim Klose, mestre em filosofia em Harvard

Joachim Klose:

– Saxônia sofreu muito com o comunismo. Área mais rica da Alemanha antes da guerra perdeu seu status e seu desenvolvimento. Rússia levou fábricas inteiras para seu território. Até mesmo equipamentos de transporte. O centro histórico passou a ter pastos e plantações. Só foi recuperado após a queda do muro de Berlim e a reunificação das Alemanhas.- A Alemanha Oriental era uma prisão, afinal, só saía quem era autorizado.- A população da Saxônia reduziu em 1/5 após a reunificação. Migraram ao Oeste para buscar vida melhor. Grande migração foi das áreas rurais. Hoje Leipzig e Dresden crescem, mas as áreas rurais se esvaziam.- A migração é maior entre as mulheres. As áreas passam a ter 30% a mais de homens. E os imigrantes árabes que chegam também são majoritariamente homens.- Alemanha Oriental recebia também imigração, mas de países comunistas como Angola, Cuba e Vietnã, além do Leste Europeu. – Após reunificação, os exércitos da duas Alemanhas se fusionaram sem qualquer preparação. Apenas 2 semanas antes havia ocorrido conflito entre um soldado de cada lado. Até hoje há problemas. – Os atuais estados alemães que antes eram da Alemanha Oriental são mais estratificados e é mais difícil ascensão social. Maior desigualdade.- Existia na Alemanha Oriental a criação de narrativas a favor da promiscuidade sexual, do adultério, etc. Havia uma tentativa de enfraquecer a família tradicional. O governo, por exemplo, subordinou as igrejas ao estado e destruiu mais de 60 templos.- Os atuais habitantes da área que foi Alemanha Oriental são mais conservadores que os dos outros estados. Parece contraditório. Mas ocorre que essas pessoas já viveram o “modernismo” em algumas pautas. Talvez seja um dos fatores de votação da AFD. – Os habitantes da Saxônia se sentem injustiçados ao serem chamados de xenófobos. Eles aceitam imigração, apenas querem controles.- A fratura que ainda existe entre Europa Ocidental e Oriental se coloca de forma clara na Alemanha.- KAS na Saxônia realiza em torno de 120 eventos por ano. Debates, palestras e seminários divulgando a perspectiva da CDU. Trabalhamos também com bolsas de estudo, educação e cooperação internacional.- Nos modernizamos com atividades mais interativas como concurso de fotos, humor, cinema, sempre gratuitos. – O público é cada vez mais idoso. Precisamos nos mexer para atrair os jovens. Não faremos eventos sobre coisas que se pode aprender na internet. Jovens querem novidade.- Eleições locais da Saxônia ocorrem em 2019. AFD pode vencer. Temos que trabalhar para a CDU não permitir.- Uma organização jovem deve poder receber doações. Se a JDEM legalmente não pode no Brasil, deveria constituir uma associação civil que possa. Aqui o partido, a juventude e a fundação recebem, separadamente.- Redes sociais são muito importantes mas são superficiais. Não aprofundam. Mas só a elite intelectual quer aprofundar. É um dilema. Como comunicar com os demais de forma embasada?- Política não se faz só com mandato. Se faz no debate público.- O populismo quer dar respostas fáceis para problemas complexos. Temos que questionar essa superficialidade, mas não será possível sem confiança. Precisamos renovar para ter capacidade de retomar a confiança nos políticos. – A Saxônia teve governo nazista entre 1933 e 1945. Depois comunista entre 1945 e 1989. A CDU governa desde 1990. A crítica pela esquerda à CDU na Saxônia não funciona pelo passado comunista. Então ela vem pela direita com AFD. – É natural que a população sempre pense que a política tradicional não traz mudanças. A população quer protagonismo. CDU está buscando ir aos bairros e gerar proximidade.

5- Reunião com Gerente da CDU na Saxônia e ex-gerente da JU nacional, Conrad Clemens

Conrad Clemens:

– Juventude CDU tem níveis municipal, estadual e federal e trabalha muito nos bairros continuamente e nas campanhas eleitorais.
– Cargos de diretoria são políticos, não há pagamento, são voluntários. Os funcionários que se dedicam exclusivamente são pagos, como o gerente.- Facebook envelheceu, estamos focando no Instagram.- Importante debater os temas das cidades com os núcleos jovens, não apenas os grandes temas. São mais próximos a eles.- Cargos da diretoria da JU são: Políticos – Presidente, Vices, Secretário, Tesoureiro, Auditor Financeiro e Secretário Internacional. Profissionais – Gerente, Chefe de Comunicação, Chefe de Eventos, Coordenador de Cursos de Formação, Coordenador de Atendimento aos Membros e Coordenador de Recepção aos Novos Membros. Gerente cobra os demais.- A diretoria tem muitos cargos mas a relação entre as pessoas precisa ser a mais horizontal possível. – JU tem orçamento de 1,3 milhão de euros anual. 700 mil vêm do dinheiro público pela lei de incentivo à formação política, 500 mil da CDU e 100 mil de doações. Prestação de contas rígida.- Redes Sociais da CDU são coordenadas por profissionais junto com membros da JU.- Membros da JU pagam 1 euro por ano para participar. 0,50 fica para nacional e 0,50 para o estado. Simbólico, mas gera arrecadação.- Empresas patrocinam eventos da JU e em troca colocam estandes onde apresentam seus produtos.- Para arregimentar novos membros é preciso que, virtualmente, seja um clique só, sem formulários, sem demora. A nível presencial, reuniões semanais sempre no mesmo lugar e mesmo horário, criar rotina. Incentivo para novos jovens como música, bebidas, decoração jovem, futebol, etc.- JU começa com 14 anos. Também há problemas de conscientização política e falta de conhecimento em nossa sociedade. Buscamos informar.- Jovens normalmente asseguram posições intermediárias nas listas eleitorais da CDU.

20 de dezembro de 2018

“BRASIL ENTRE SCYLLA E CHARYBDIS”!

(Francisco Ferraz, Professor de Ciência Politica, ex-reitor da UFRGS – Estado de Saulo, 19)

Geograficamente situadas no Estreito de Messina, entre a Sicília e a costa da Itália, Scylla e Charybdis eram dois monstros marinhos da mitologia grega. Scylla era um monstro de seis cabeças que assumia a forma de uma extensa rocha submersa situada do lado italiano do estreito. Charybdis era um enorme redemoinho próximo da costa da Sicília. Para tornar mais grave a situação, ambos os riscos estavam perigosamente próximos um do outro. A expressão significava ter de escolher entre duas alternativas, ambas muito perigosas e provavelmente fatais.

Vou usar a expressão para tipificar dois modelos de governo e dois tipos de riscos políticos a que nos temos submetido nas eleições presidenciais. Para esse propósito vou redefinir Scylla por um governo de líderes moralistas, afirmativos, reformistas, com graus diferentes de autoritarismo e que não temem a impopularidade; e Charybdis, por lideranças populistas, negociadoras, transigentes, corruptas ou incompetentes, reféns da popularidade e predatórias.

As principais relações entre os dois riscos seriam: 1) os dois tipos de governo/lideranças estão sempre presentes na dinâmica política do País; 2) a relação que existe entre ambas as “alternativas” tende a assumir a forma de correção dos excessos da outra; 3) na perspectiva da disputa pelo poder, os excessos de uma alternativa tendem a favorecer e até tornar viável a vitória do seu oposto; e 4) há, contudo, uma lógica contraditória que opõe os principais atributos de cada uma no conteúdo e na prática desta disputa: populismo x sem medo de impopularidade; transigentes x intransigentes; negociadores e eticamente flexíveis x moralistas, autoritários; incompetentes, corruptos x tecnocratas, reformistas.

O período de 68 anos de 1950 a 2018 corresponde a 17 mandatos de quatro anos, dos quais 11 (65%) tiveram a orientação Charybdis- Scylla, isto é, de governos populistas em crise para governos reformistas, eleitos no argumento de resolver as crises criadas por seu antecessor.

Governo Vargas (1950) e Juscelino (1956) para governo Jânio (dois mandatos);

Governo João Goulart para Castello Branco e presidentes militares (cinco mandatos);

Governo José Sarney para Fernando Collor (um mandato);

Governo Collor-Itamar para FHC (dois mandatos);

Governos Lula e Dilma para Jair Bolsonaro (um mandato).

Os dois mandatos de FHC constituem formas menos afirmativas e autoritárias de Scylla, embora dentro dessa orientação, sobretudo em razão da condição crítica em que Collor deixou a Presidência, da disputa contra Lula (tipicamente de orientação Charybdis), do Plano Real e das privatizações.

O fato estatístico de que a cada três mandatos dois seguem a orientação Charybdis-Scylla constitui importante regularidade política, a exigir uma explicação. Essa estatística atribuiu ao governo Bolsonaro apenas um mandato – o que foi obtido na eleição de 2018.

A explicação que desde logo se impõe é que a expressiva regularidade da sucessão do tipo Charybdis-Scylla supõe a presença de uma mesma estrutura de conflito ao longo de um período de sete décadas, não obstante as mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais. É plausível, pois, supor que a estrutura desse conflito subjaz às naturais variações da conjuntura política.

Tal regularidade é também compatível com as deficiências típicas da nossa democracia instável, em estado de cronificação: legitimidade, autenticidade, eficiência e permanência baixas – como descrevi em Brasil: a Cultura Política de uma Democracia Mal Resolvida. (O tema central do livro é que há 50 anos o Brasil continuava prisioneiro de sua instabilidade democrática e sem uma mudança que dividisse os Poderes do Estado com a sociedade e o mercado assim continuaria nos próximos 50 anos.)

Nossa dinâmica política combina mudança conjuntural com permanência estrutural. Não há avanço continuado. Nunca se chega a cruzar o point of no return.

Os poucos momentos de mudança e progresso são logo contidos pelo eterno retorno de seu oposto, a impedir a necessária continuidade.

Na realidade, uma análise histórico-política desse período pode ser reduzida a uma mesma narrativa que repete personagens e temáticas, diferentes em suas peculiaridades individuais, embora com papéis muito assemelhados, não obstante a passagem do tempo.

As semelhanças dos papéis políticos desempenhados por presidentes individualmente tão diferentes entre si como Getúlio Vargas 1950-54, JK, Jango, Sarney, Lula e Dilma (Charybdis) é equivalente e complementar à semelhança de papéis de seus respectivos opostos: Lacerda, Jânio, Castello e presidentes do ciclo 1964, Collor e Bolsonaro.

As diferenças sociais e tecnológicas ao longo daquele período de 68 anos são enormes; mas o mesmo não ocorre com as diferenças no ambiente político. Nos anos 50 e 60 não havia internet, redes sociais, máquinas de votar, celulares… Mas se examinarmos a temática política vamos encontrar mais semelhanças que diferenças.

Questões como compadrio, corrupção, populismo, despesas públicas, estatismo, aparelhamento, rejeição ao mercado, previdência, insuficiência da infraestrutura, precariedade da educação, saúde, segurança são problemas igualmente crônicos, que não só continuam conosco, como se agravaram de forma assustadora.

Com a vitória de Bolsonaro, Scylla mais uma vez assumiu o comando. A correção dos excessos dos governos Lula e Dilma (Charybdis) tende a buscar no passado o modelo para a correção do rumo. Em grande parte esse foi o recado das urnas.

A outra parte, entretanto, é preparar o País e seu povo para conquistar o direito de viver num país que prospera, progride e rompeu com seu atraso centenário. Esse o desafio que precisamos superar e se interpôs entre nós e um futuro sempre postergado.

Não há avanço continuado. Nunca se chega a cruzar o ponto sem retorno.

19 de dezembro de 2018

COMO FUNCIONAM PROGRAMAS NOS MOLDES DO “BOLSA FAMÍLIA” NAS 10 MAIORES ECONOMIAS DO MUNDO! PARTE 2!

(Daniela Fernandes – BBC News, 08/12)

Japão: ajuda para gastos médicos e material escolar.

O Japão possui um programa de auxílio de subsistência, o Seikatsu Hogo. O valor do benefício resulta de um cálculo complexo em função do custo de vida básico necessário da família, conforme a idade e o número de membros do lar e também da região. Um lar em Tóquio com um adulto e uma criança em idade escolar, por exemplo, recebe por mês cerca de 125 mil ienes – US$ 1,1 mil (R$ 4,2 mil) e tem direito a auxílio moradia de 64 mil ienes (US$ 565 – R$ 2,2 mil).

O governo japonês prevê ainda ajuda financeira para gastos médicos, serviços para idosos e compra de material escolar, entre outros.

No Japão, as despesas sociais representam cerca de 23% do PIB, abaixo de países como a França e a Alemanha, mas acima dos Estados Unidos.

Alemanha: apoio até para o aluguel.

A assistência social na Alemanha cobre despesas básicas, com garantia de recursos mínimos para pessoas de baixa renda ou incapacitadas de trabalhar.

Neste ano, o montante “da assistência para necessidades básicas” é de 416 euros mensais (cerca de R$ 1,7 mil) para uma pessoa solteira e de 748 euros para um casal (R$ 3,1 mil).

Há um suplemento para crianças em função da idade, que vai de 240 a 316 euros (de R$ 1 mil a R$ 1,3 mil). Há ainda ajudas financeiras para necessidades suplementares, como mães ou pais solteiros, situações especiais como roupas de gravidez e de bebê, ou ainda para a educação de crianças e adolescentes, que incluem, por exemplo, recursos para material didático e excursões escolares.

Também há auxílio para pagar o aluguel, se ele for considerado “razoável”. Isso significa um montante de cerca de 450 euros (quase R$ 2 mil) no caso de um apartamento para duas pessoas em Berlim, uma das cidades mais baratas da Europa ocidental.

Reino Unido: apoio será ampliado

O país está implementando o sistema do Crédito Universal, um pagamento mensal para famílias de baixa renda.

Ele deverá ser ampliado para todo o país até 2019 e substituirá outros benefícios, como o complemento de renda (Income Support) e auxílio-moradia.

O Crédito Universal pode ser solicitado por trabalhadores, autônomos e desempregados. O montante depende da situação (ganhos, filhos, eventual deficiência, ajuda para pagar aluguel) e do local onde a pessoa vive. Ele não é válido para quem não é cidadão britânico ou irlandês. Um casal acima de 25 anos recebe 499 libras (US$ 640) por mês. Outros fatores podem ser acrescentados à ajuda básica, como 277 libras (US$ 355) por mês no caso do primeiro filho e 232 libras para o segundo filho e subsequentes.

França: ajuda nas contas de luz e gás

O sistema de proteção social francês é um dos mais generosos do mundo.

O país garante, por exemplo, uma renda mínima para pessoas com mais de 25 anos sem atividade profissional e que não tenham mais direito ao seguro-desemprego (que pode durar até dois anos). Jovens a partir de 18 também têm direito ao chamado Revenu de solidarité Active (RSA) caso tenham filhos.

O valor do RSA para uma pessoa que não receba auxílio-moradia complementar é de 550 euros (R$ 2,3 mil) mensais. Um casal com um filho recebe quase 1 mil euros (R$ 4,3 mil).

Além de uma ajuda financeira para o aluguel, há inúmeras outras alocações, como a destinada a despesas com crianças de menos de três anos, para a compra de material escolar ou ainda o “cheque energia” para pessoas de baixa renda, soma anual que varia de 28 a 247 euros (R$ 120 a pouco mais de R$ 1 mil) para ajudar a pagar contas de luz ou gás.

Índia: queda grande na taxa de pobreza.

A Índia lançou em 2013 um plano experimental de pagamento em dinheiro aos mais pobres, nos moldes do Bolsa Família brasileiro. O governo estuda atualmente modalidades para estender o programa, batizado de “seu dinheiro em suas mãos”. Há dois anos, técnicos da Índia visitaram o Brasil para aprofundar conhecimentos em relação ao Bolsa Família.

Há diversos programas de bem-estar social no país, relacionados principalmente a bolsas de estudo. O país fornece auxílio para a compra de alimentos (5kg de grãos por pessoa por mês), subsídio para o gás de cozinha e alocações financeiras para atender às necessidades básicas de famílias.

A taxa de pobreza na Índia caiu de 55% para 28% no período de dez anos (até 2016), segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Itália: complemento aos baixos salários.

A Itália ainda não possui um regime nacional de apoio financeiro à população de baixa renda.

Até o momento, o único benefício social nacional, o Assegno Social, é pago àqueles com mais de 66 anos em situação de vulnerabilidade.

Em seu projeto de orçamento para 2019 – fortemente criticado pela União Europeia por prever o agravamento do déficit público, que se situaria em 2,4% do PIB -, o governo italiano prevê o aumento dos gastos públicos para permitir a criação da chamada “renda de cidadania”, medida defendida pelo Movimento 5 Estrelas e que garantiria a qualquer pessoa maior de idade uma renda mínima de 780 euros (R$ 3,3 mil).

Na prática, se a pessoa trabalhar e tiver um salário de 400 euros, ela receberá o complemento, 380 euros.

Também existem na Itália programas administrados por regiões e cidades que concedem recursos em função da renda e que variam de acordo com a localidade.

Canadá: governo limita iniciativas

No Canadá, os programas de assistência social são administrados pelas províncias e territórios, que fixam suas próprias regras e montantes dos pagamentos.

Em Ontário, uma pessoa sem filhos pode receber, entre a ajuda financeira de subsistência e o auxílio moradia máximo, até cerca de R$ 2 mil. No caso de um casal com dois filhos, a soma pode atingir R$ 3,3 mil.

A província de Ontário havia lançado no ano passado um projeto piloto de renda básica universal (uma verba mensal garantida tanto para desempregados quanto para trabalhadores), com 4 mil pessoas inscritas. Ele deveria durar três anos, mas em julho o governo da província anunciou o encerramento progressivo do projeto, alegando que a iniciativa custa caro e não é viável a longo prazo. Uma pessoa solteira poderia receber até 17 mil dólares canadenses (R$ 50 mil) por ano.

Coreia do Sul: programas ‘sob medida’

Após a crise de 1997, o governo sul-coreano ampliou, em 2000, as condições para ter acesso ao chamado programa de proteção nacional de subsistência básica, permitindo que pessoas na faixa de renda baixa pudessem receber os recursos.

Antes, eles eram destinados apenas a pessoas incapacitadas de trabalhar por motivo de deficiência ou idade. O programa foi reforçado em 2015, com ajudas “sob medida” relacionadas ao custo de vida, serviços médicos, moradia e educação, baseada nas necessidades dos beneficiários.

O benefício corresponde a 30% da renda média, fixada anualmente pelo ministério da Saúde e do Bem-Estar Social. A renda média é de 2,8 milhões de wons (US$ 2,5 mil) para um lar com duas pessoas e a alocação de subsistência é de US$ 740. A ajuda escolar (inscrições, compra de material, entre outros) para estudantes do ensino fundamental e médio vai de US$ 37 a US$ 48.

18 de dezembro de 2018

COMO FUNCIONAM PROGRAMAS NOS MOLDES DO “BOLSA FAMÍLIA” NAS 10 MAIORES ECONOMIAS DO MUNDO! PARTE 1!

(Daniela Fernandes – BBC News, 08/12) No Brasil, as despesas com o Bolsa Família, programa que beneficiou 14 milhões de famílias em novembro, representam cerca de 0,5% do PIB. Neste ano, os pagamentos do Bolsa Família devem atingir R$ 30 bilhões.

A pobreza não é uma questão que preocupa apenas os países menos desenvolvidos.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as nações ricas que integram o grupo gastam, em média, 1,6% do PIB em prestações de assistência social condicionadas a um limite de renda dos beneficiários, como é o caso do Bolsa Família. São recursos transferidos em dinheiro para ajudar na subsistência e lutar contra a pobreza. O número exclui gastos sociais com Previdência, saúde e seguro-desemprego.

Entre as 10 maiores economias do mundo – que incluem desde países com elevados níveis de bem-estar social, como a França e a Alemanha, aos com altos índices de pobreza, como a Índia -, os programas de transferência de renda estão presentes, ainda que com diferentes formulações.

Na França – que vive uma onda de violentos protestos motivados pelos efeitos da alta carga tributária e do baixo poder de compra de boa parte da população -, os programas de transferência de renda são ainda mais amplos do que a média dos países ricos e atingem 2,1% do PIB, totalizando mais de 45 bilhões de euros (cerca de R$ 200 bilhões).

Além de garantir recursos para despesas do dia-a-dia, a França, que possui uma ampla rede de proteção social, tem também programas de ajuda para pagar o aluguel e contas de luz ou gás e para a compra de material escolar, entre outros.

O benefício médio recebido pelo programa é de R$ 187 (quase US$ 50), após reajuste de 5,7% que entrou em vigor em julho. O valor recebido pelos beneficiários varia conforme o número de membros da família, a idade de cada um e a renda.

De acordo com Maxime Ladaique, diretor de recursos estatísticos da divisão de políticas sociais da OCDE, os gastos dos países ricos com programas de transferência de renda se mantém, em geral, estáveis nos últimos anos.

“Logo após a crise financeira de 2008, as prestações sociais aumentaram, enquanto o PIB caiu. Os países pagaram mais para amortecer os efeitos da deterioração da economia”, diz o especialista.

“Desde então, elas vêm sendo levemente reduzidas, mas o PIB dos países cresceu”, afirma Ladaique, acrescentando que, na prática, a relação desses gastos em relação ao PIB tem se mantido estável.

Pode mudar no Brasil?

O presidente eleito Jair Bolsonaro, antes crítico do Bolsa Família, declarou que vai ampliar o programa e aperfeiçoar o combate a fraudes.

Além de um 13° ‘salário’ para os beneficiários, o programa de governo de Bolsonaro prevê instituir um sistema de “renda mínima para todas as famílias”, ou seja, não apenas as mais pobres, com valor igual ou superior ao que é atualmente pago. O programa do presidente eleito não detalha, no entanto, como seriam obtidos os recursos para financiar a medida e se, de fato, ela será adotada.

Pedaço pequeno dos gastos sociais

Na avaliação de Ladaique, os programas de transferência de renda dos países ricos têm algo em comum: eles representam apenas uma pequena parte do total de gastos sociais, que incluem despesas bem mais elevadas como as da Previdência e saúde. “As despesas com pessoas de baixa renda são pouco significativas em relação a todos os gastos sociais”, diz ele.

Basta olhar para os números gerais: os países ricos da OCDE gastam, em média, 21% do PIB (Produto Interno Bruto) na área social.

O percentual engloba os recursos usados na Previdência, na saúde pública, com seguro-desemprego e assistência social às famílias, que em vários casos inclui programas de distribuição de renda. Na França, os gastos na área são ainda maiores: 31% do PIB.

No Brasil, os gastos sociais do governo federal atingem cerca de 17,5% do PIB, incluindo despesas com Previdência, saúde, assistência social, educação, trabalho, saneamento básico e habitação. O percentual é mais elevado do que em outros países da América Latina e da Ásia.

Em boa parte dos países ricos, no entanto, os programas de transferência de renda não permitem que os beneficiários vivam acima da linha da pobreza (que leva em conta o nível de vida no país), ressalta Ladaique, da Ocde.

Conheça detalhes sobre cada um deles (com exceção do Brasil, que ocupa a nona posição no ranking do FMI) a seguir:

Estados Unidos: auxílio para alimentação.

O principal programa social dos Estados Unidos é o SNAP (Programa de Assistência Nutricional Suplementar), que ajuda pessoas de baixa renda a comprarem comida. É um programa federal, executado por agências locais, que beneficia mais de 20 milhões de lares. O valor médio pago por mês em 2018 para cada beneficiário é US$ 125 e, para cada lar, US$ 252. Os valores se mantiveram estáveis nos últimos quatro anos. O benefício custará quase US$ 56 bilhões neste ano. O SNAP é concedido aos lares com recursos e ativos de até U$ 2,2 mil.

O governo do presidente Donald Trump propôs mudanças na legislação, passando a exigir que pessoas com até 60 anos trabalhem para ter direito ao benefício, comumente chamado de “selos de comida”. No caso de desempregados, também há programas de seguro-desemprego, operados por cada um dos Estados.

Por conta do impasse político criado com a proposta de mudança do SNAP, o Congresso americano ainda não aprovou a nova lei agrícola (Farm Bill), que financia o setor e o programa de nutrição. Parte da lei expirou no final de setembro e o restante irá expirar em 31 de dezembro.

A imprensa americana estima que pelo menos 2 milhões de pessoas poderão ter o benefício do SNAP cortado ou reduzido caso a proposta de Trump seja aprovada.

O programa Renda de Segurança Suplementar – Supplemental Security Income (SSI) – paga benefícios a adultos e crianças com deficiência ou pessoas acima de 65 anos com poucos recursos (ativos de até US$ 2 mil para um solteiro ou US$ 3 mil para um casal, considerando conta bancária, poupança, carro etc). No ano passado, o valor da ajuda mensal era de US$ 735 para um solteiro e de US$ 1,1 mil para um casal.

Há outros programas nos Estados Unidos, como a assistência temporária em dinheiro para famílias pobres e sem emprego (Temporary Assistance for Needy Families – TANF), com critérios e benefícios definidos pelos Estados. Alguns Estados exigem, para conceder o benefício, renda equivalente a menos de 50% da linha da pobreza, enquanto outros aceitam valores acima disso. Há uma contrapartida de horas de trabalho mensais, que podem ser serviços à comunidade, formações, ou empregos subsidiados no setor público e privado.

China: mudanças desde 1990

O país implementou 12 programas de assistência social. Alguns foram criados há várias décadas, mas eles ganharam força após uma reforma da assistência social no início dos anos 90, que passou a incluir nos programas de transferência de renda pessoas aptas ao trabalho.

Um deles, com versões urbana (“Urban Dibao”), e rural (“Rural Dibao”), garante recursos mínimos de subsistência às famílias de baixa renda, independentemente da capacidade para trabalhar. O sistema beneficia todos os lares do país que vivem abaixo da linha da pobreza. Shangai, a cidade mais desenvolvida do país, foi a primeira a implementar, em 1993, o Dibao urbano nos novos moldes que beneficiam a todos.

O programa Dibao é nacional, mas em razão das disparidades entre áreas urbanas e rurais e entre províncias do país, os governos locais definem os padrões de ajuda, ou seja, os benefícios variam de uma região para outra, mas são normalmente calculados em função da linha da pobreza na localidade.

Em Pequim, por exemplo, a linha da pobreza é de 900 yuans por mês (R$ 500). Se uma pessoa ganhar apenas 700 yuans (R$ 385), o governo completa os 200 yuans que faltam para atingir a renda mínima de subsistência.

Na média, o “Urban Dibao” equivale a um quinto ou um sexto da renda per capita das cidades. Em Pequim, a renda média per capita é de 5,3 mil yuans (R$ 2,9 mil).

Nas áreas rurais, a linha de pobreza média do Dibao é de 312 yuans (R$ 172), mais do que o dobro do valor em 2010, segundo a ONU.

Há um outro programa nas áreas rurais, o “Wubao”, que fornece alimentação, roupas e cuidados médicos, além de ajuda financeira para moradia e até para enterros.

A partir dos anos 2000, a China reforçou novamente seus programas sociais, com assistência educacional para beneficiários do Dibao, além de subsídios para moradia.

17 de dezembro de 2018

AS 3 ECONOMIAS DA AMÉRICA LATINA PRÓXIMAS DE SE TORNAREM AS MAIORES DECEPÇÕES DE 2018! 

(CNN, 08) No início do ano, poucos imaginavam que haveria uma revolta popular nicaraguense e que ela provocaria centenas de mortes.

Enquanto a crise se agrava na Venezuela, país com o pior desempenho econômico na América Latina, três outras economias da região correm o risco de fechar o ano sob fortes quedas.

É o caso da Nicarágua, da Argentina e do Equador, que têm dado sinais de que terminarão 2018 numa situação complicada.

Na Argentina, o bom desempenho econômico no primeiro trimestre não indicava que meses depois haveria uma corrida contra a moeda local, o peso, e que a taxa básica de juros chegaria a 60% (no Brasil, ela é de 6,5%).

Quanto ao Equador, os analistas se preocupam com o alto nível de endividamento público.

Já o Brasil, que nos últimos anos se habituou a figurar nos rankings das economias com pior desempenho do continente, escapou desta vez. Segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o país deve crescer 1,6% em 2018 – 0,1 ponto percentual acima da média de crescimento de toda a América Latina, segundo a comissão.

Nicarágua: o impacto da crise social e política

A crise social e política na Nicarágua resultou em mais de 300 mortes e quase 2.000 pessoas feridas, segundo o Escritório do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.

A organização denunciou execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados e barreiras ao acesso à assistência médica num país que enfrenta protestos massivos contra o presidente Daniel Ortega.

Em meio à crise, a Cepal projeta uma busca queda no crescimento econômico, que deve passar de 4,9%, em 2017, para 0,5% neste ano.

O conflito teve um impacto profundo no turismo, no comércio e na agricultura, além de afetar exportações e investimentos.

“Se o baixo crescimento persistir e as tensões sociais não se resolverem, deve-se esperar que os indicadores sociais comecem a deteriorar”, disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Daniel Titelman, diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Cepal.

Mas há um elemento importante na economia local, que são as remessas de nicaraguenses no exterior – o economista estima que não haverá redução desse volume, ao menos um fator positivo num país tão convulsionado.

A Nicarágua representa 0,3% do PIB da América Latina e registrou no ano passado um PIB per capita de US$ 2.217 (cerca de R$ 8.600). O país tem 6,2 milhões de habitantes.

Argentina em situação de emergência

A Argentina, com 44,5 milhões de habitantes, tem vivido dias sombrios. O presidente Mauricio Macri declarou que o país está em uma “situação de emergência” e anunciou um plano de ajuste que inclui uma redução no número de ministérios a menos da metade e volte a impor impostos sobre as exportações agrícolas.

O peso argentino perdeu 50% de seu valor ante o dólar no último ano, e espera-se que a depreciação acelere ainda mais a inflação, que já superou os 30%.

Além disso, a taxa de juros chegou a 60%, algo difícil de imaginar no primeiro trimestre, quando as coisas caminhavam dentro do previsto.

Macri busca diminuir o déficit orçamentário para convencer investidores de que o país pagará sua dívida, uma das condições acordadas como parte de um empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI) de US$ 50 bilhões (o equivalente a quase R$ 195 bilhões).

O governo esperava atingir um equilíbrio fiscal até 2020 e o adiantou para 2019, impondo-se uma meta difícil de alcançar.

“A Argentina tem problemas de baixo crescimento, alta inflação e baixa credibilidade por parte dos mercados. Não é fácil manejar essa situação”, afirma Titelman, da Cepal.

A Cepal projeta que a economia argentina, que cresceu 2,9% em 2017, tenha uma queda de 0,3% neste ano.

Terceira maior economia da região, a Argentina representa 11,7% do PIB regional e registrou no ano passado um PIB per capita de US$ 14.305 (cerca de R$ 56 mil).

O Equador e o ajuste do gasto público

O Equador cresceu 3% em 2017, principalmente graças ao aumento do consumo privado e do gasto público, financiado por meio de endividamentos.

É justamente o tamanho da dívida uma das pressões econômicas que inquietam os analistas estrangeiros.

Outro aspecto preocupante é que no ano passado o investimento caiu 0,5%, um dos fatores que fizeram a Cepal projetar um crescimento de 1,5% na economia do país neste ano.

Como essa queda ocorreu em apenas 12 meses? “Os motores que empurravam a economia em 2017 se debilitaram”, diz Titelman, da Cepal.

No Equador, o petróleo tem um papel muito importante na economia, e a produção total do óleo teve uma queda de quase 3,4% em 2017.

Isso, somado a outras incertezas, como o ajuste de gastos promovido pelo governo de Lenín Moreno, influenciaram na redução das projeções.

A Cepal estima que haverá queda no consumo em meio a uma política monetária mais restritiva.

O Equador é uma economia dolarizada altamente sujeita aos vaivéns externos. “Quando o dólar se valoriza, isso não convém ao Equador, porque ele perde competitividade”, disse Titelman.

E já que os EUA estão subindo as taxas de juros, novas nuvens podem surgir no horizonte. Frente a esses desafios, o governo equatoriano apostou em medidas de austeridade para reduzir o déficit e a dívida pública, com o intuito de aumentar a arrecadação.

O plano foi anunciado em abril deste ano e deixou organismos internacionais e investidores esperançosos. O Equador representa 1,9% da economia latino-americana e registrou no ano passado um PIB per capita de US$ 6.199 (cerca de R$ 24 mil). O país tem 16,8 milhões de pessoas.

14 de dezembro de 2018

PAUL KRUGMAN: “BRASIL TEVE CRISE DE PRIMEIRO MUNDO, MAS REAGIU COMO SUBDESENVOLVIDO”! 

(Folha de S.Paulo, 13) 1. O Brasil teve uma crise econômica de primeiro mundo, mas reagiu a ela como um país subdesenvolvido, o que não foi acertado, disse nesta quarta-feira (12), Paul Krugman, um dos economistas mais influentes do mundo, professor de Princeton e Nobel de Economia. Em evento organizado pelo Experience Club, empresa de eventos corporativos, em São Paulo, Krugman criticou duramente a forma como o país reagiu à recessão que se iniciou em 2014.

2. Segundo Krugman, o Brasil enfrentou deteriorações importantes no ambiente externo, como a forte queda dos preços das commodities e deterioração dos termos de troca —grandes choques que estavam fora do controle do país. Países como Canadá e Austrália passaram por problemas semelhantes, lembrou ele, mas se saíram melhor porque lidaram com os entraves de forma diferente.

3. Para ele, o problema clássico dos mercados emergentes é o endividamento em moeda estrangeira, algo que causou da crise argentina de 2001 à crise asiática ou mexicana na metade dos anos 1990. “Mas esse não foi o problema aqui.”  O Brasil, disse o economista, teve uma “crise de primeiro mundo”, com forte alta do consumo e posterior endividamento das famílias. Mas, no lugar de deixar a moeda depreciar, como outros países fariam, o Banco Central brasileiro optou por aumentar a taxa de juros fortemente com medo da inflação.

4. “As pessoas achavam que estavam nos anos 1990 por aqui, não estavam”, disse.Além do forte aperto monetário, afirmou Krugman, o país começou a cortar gastos, o que deve ser feito em períodos de boom, não de queda da economia, disse ele, ao ressaltar que não ignora que o país enfrenta um forte problema fiscal.

5. Para Krugman, as políticas monetária e fiscal foram uma “má ideia” e resultaram em desemprego elevado.  O Brasil, disse ele, tem um quadro de desequilíbrio fiscal que deve ser enfrentado no longo prazo.

6. Com relação à guerra comercial global, o economista disse que o Brasil pode se beneficiar dela, ao exportar mais commodities, em especial a soja, para o mercado chinês.  Segundo Krugman, há uma preocupação real com o cenário de guerra comercial, pois o presidente dos EUA, Donald Trump, “é um homem que pode fazer as coisas acontecerem”, mas afirmou que seu palpite é que o imbróglio não vai acabar mal.

7. “Não acredito que a guerra comercial será o gatilho para a próxima crise”, disse. Ele ressaltou que a próxima crise pode ser uma combinação de algumas coisas, como alavancagem das empresas, altos riscos tomados por parte do sistema financeiro, problemas vindos de emergentes e uma bolha tecnológica — nada na magnitude dos anos passados.

8. Segundo ele, não há grandes problemas nos fundamentos econômicos na economia global, o que dá espaço para um “otimismo moderado”, misturado a certa cautela.

13 de dezembro de 2018

ESCOLA DE LÍDERES POLÍTICOS: A CARA NOVA DA POLÍTICA!

Relatório de Antônio Mariano, presidente da Juventude-DEM-RIO: Campus “Escola de líderes políticos: a cara da nova política”, realizado e financiado pela Fundação Adenauer (KAS), CDU- no Uruguai, na cidade de Colônia do Sacramento – 7/8 dezembro de 2018!

O objetivo deste encontro foi apresentar o projeto de formação política tocado pelo Cambiemos, na Argentina e trocar experiências nesta área com as demais juventudes partidárias –

1.  Juan Gowland (Coordenador do movimento “Modernización Argentina” e criador da Escola de Líderes Políticos)

–  Antes muitos de nós ocupávamos postos no governo da Cidade de Buenos Aires e muito rapidamente, tivemos de aprender a lidar também com a província e com o governo nacional.

–  A partir disso surgiu a ideia da Escola de Líderes, para formar novos quadros partidários, em âmbito de Cambiemos.

2. Experiência da Escola de Líderes Políticos (Maria Emilia Rey & Cristian Negri)

– Proposta do grupo: contribuir com o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades dos futuros quadros políticos da Argentina em distintos pontos do país, fomentar e envolver jovens talentos com vocação para o público que estão no âmbito político, mantendo e difundindo os valores de “La Generación”.

–       O projeto não deve ser “Buenos Aires cêntrico”, por isso estimula a criação de lideranças no interior.

–       Valores: empatia, equidade de gênero, federalismo, vocação pelo publico e fazer o que se diz.

–       Processo de seleção para participar da escola de líderes: formulário de inscrição + entrevistas.

3. Formar jovens no território (Juan Esteban Maldonado & Facundo Pérez Carletti)

–       A escola é um projeto que deveria ser copiado em outros países. Ferramenta única para a formação de futuros líderes.

–       Não há liderança sem formação.

–       Na província de Corrientes, Cambiemos já estava há muitos anos no governo. Como ser algo novo? A Escola de Líderes criou este fato.

–       A formação atende um perfil transversal de jovens, não há apenas economistas, sociólogos e afins. Há médicos, engenheiros, veterinários, químicos… São atendidos todos os jovens que atendem aos valores da Escola.

–       Os alunos das escolas anteriores, são formados para replicarem o conhecimento adquirido nas edições seguintes.

4.  Mesa Redonda (apresentação dos trabalhos de formação política das juventudes partidárias parceiras da KAS Uruguai)

–       Eleição para a executiva do Partido Nacional ocorre a cada 5 anos, com participação de qualquer jovem uruguaio. Não é preciso ter filiação partidária. Na última foram mais de 70 mil eleitores entre 14 e 29 anos.

–       Apenas no ano de 2018, foram mais de 900 jovens formados por todo o Uruguai.

–       É unânime as reuniões de jovens com lideranças políticas e eventos próprios de formação. Mas praticamente nenhuma juventude partidária tem orçamento próprio. Em geral dependem ou do partido, ou de parcerias com outras instituições, como a KAS.

–       Juventude do Partido Pátria Querida, do Paraguai, realiza churrascos, para juntar seus jovens e conversarem sobre política de maneira mais descontraída.

–       Apresentação dos trabalhos da JDEM Nacional na área de formação política. Desde 2014 já foram realizados mais de 50 eventos, com a formação de centenas de jovens militantes por todo o país. Além disso, parceria com a KAS não somente no Brasil, mas no continente e na Alemanha, com envio de delegação ao país.

5.  Mesa Redonda: Idéias para gerar espaços de formação política para jovens a nível nacional

–       Não adianta acreditarmos que as pessoas vão militar conosco apenas porque a política é importante. Devemos criar projetos em comum que os motivem a sair de casa.

–       Devemos, juntos, sermos os protagonistas da mudança do sistema político que está sendo destruído pouco a pouco.

6. O desafio dos jovens na defesa e no fortalecimento da democracia na América Latina (Juan Gowland)

–       Partidos na América latina se converteram em meio e fim para fazer política e para tentar manter a democracia viva.

–       O Estado tem o monopólio da força, mas quem controla esse monopólio? E quando ele sai do controle, como em governos autoritários?

–       Nada ocorre sem as pessoas, mas nada perdura sem as instituições.

–       Um caminho para a institucionalidade democrática é pensar mais em políticas de Estado e menos em políticas de governo.

–       Democracia é algo novo no nosso continente, não sabemos lidar direito com este sistema.

12 de dezembro de 2018

QUE TIPO DE DESINTERMEDIAÇÃO AS REDES SOCIAIS PRODUZEM?

Ex-Blog de 21/10/2013.

1. Em artigo (Primavera Brasileira ou Outono Democrático?) na revista “Inteligência” (terceiro trimestre-2013), o importante cientista político e professor do IESP/UERJ, Fabiano Santos, sublinha a ideia que vem circulando pelas esquerdas, que as manifestações de rua no Rio estariam perigosamente influenciadas por um fascismo militante. Ele diz:

2. “Mas se a ativação do tema da corrupção não foi surpreendente, os ensaios de aproximação das ruas com o fascismo, sim, acabaram assustando bastante… Boa parte dos manifestantes principalmente aqueles vinculados a partidos políticos, em geral de orientação esquerdista, sofreram duro revés… No dia 20 de junho, militantes de partidos políticos e sindicatos tentaram participar de manifestações. Tiveram suas bandeiras e cartazes destruídos… Percebido o problema pelo núcleo inicial de manifestantes, tratar-se-ia agora de uma questão de “disputar o significado das ruas”. A palavra de ordem dos entusiastas das manifestações tornou-se então não permitir que os fascistas dominassem a cena, não permitir que a direita política prevalecesse na tradução do sentimento difuso de insatisfação e inconformismo e canalização da nova energia societal brasileira. A equação fascista, antes apenas recôndita nas mentes de segmentos da elite, leitores de diários cariocas e paulistas, agora é clara e despudoradamente verbalizada em nossa ‘common parlance’.

3. Não se trata apenas da reflexão de um intelectual de porte, mas do que líderes de partidos de esquerda –com ou sem poder- vêm repetindo nos últimos dias. Independente de numa massa difusa se ter de tudo, além de fascistas, anarquistas, punchistas e insurreicionista utópicos de esquerda, a questão não está nesses grupos, certamente marginais, e maximizados agora por estas verbalizações desde setores da esquerda.

4. O ponto está neles terem sido formados em estruturas organizacionais –políticas e sociais- hierarquizadas, onde os líderes são vocalizadores e interlocutores. Quando entram as redes sociais, horizontais e desierarquizadas, a formação deles entra em pânico: como explicar isso? Massa sem líderes? Não há interlocutores? Os manuais leninistas onde se formaram não contém essa hipótese. Nem poderia no final do século 19 e início do 20 onde os únicos meios de comunicação eram a presença física, o papel e o grafite.

5. O que precisam entender é que está mudando o conceito de democracia direta, da associativa, sindicalista, para outra –em redes individualizadoras, onde os interlocutores são… todos. Como estamos no início desse processo, e não se pode ainda projetar de que forma a democracia direta das redes vai se cristalizar, melhor seria que mergulhassem nas pesquisas que hoje se desenvolvem, desde a leitura de Manuel Castels, até os modelos simulados de formação de opinião pública em Columbia ou nos Provedores.

6. Em vez de uma reação psicótica ao risco de “meu mundo caiu”, melhor seria ajudar a construir esse outro mundo de participação popular, dando a ele uma nova organicidade.

11 de dezembro de 2018

A FALSA DICOTOMIA!

(Monica Bolle, professora da Johns Hopkins – Estado de S. Paulo, 05) 1. Entre acadêmicos e não acadêmicos, economistas e não economistas, jornalistas e não jornalistas, esquerda e direita, prevalece a ideia de que Estado e mercado são entidades separáveis, por vezes opostas.

2. A ideia de separação tão entranhada está que há quem diga que tudo o que não é Estado é mercado, como se houvesse uma linha concreta a partir da qual ambos fossem claramente definíveis.

3. Na América Latina, região que sempre oscilou entre a mão pesada do Estado e as tentativas de reduzir sua influência na economia, a dicotomia parece fato incontestável.

4. No Brasil, onde alguns resolveram enxergar uma “revolução das ideias” com a ascensão de Bolsonaro e da ortodoxia de Paulo Guedes, a divisão entre Estado e mercado é muitas vezes tida como uma certeza.

5. Dicotomias são muitas vezes simplificações da realidade, e simplificações da realidade costumam gerar muita confusão mental, sobretudo nas inexatas ciências sociais.

6. Como tantas outras coisas, o segredo para se pensar o papel do Estado está no reconhecimento de que é preciso haver um equilíbrio na relação Estado-mercado. Se o Estado é capaz de sufocar, o mercado é capaz de destruir. Pensem na crise financeira de 2008 cujas ramificações ainda não desapareceram por completo.

7. Há muitas explicações para as causas da crise, mas poucos especialistas discordam de que a política de laissez-faire em relação aos mercados financeiros defendida por Alan Greenspan, presidente do banco central norte-americano, o Fed, entre 1987 e 2006, tenha sido fator propulsor fundamental. A crença pueril de que os mercados seriam capazes de se autorregular na busca por “prosperidade”, controlando seus próprios devaneios e ímpetos, provou-se profundamente equivocada.

8. Às vésperas da quebra do banco Lehman Brothers, o mercado estava em situação de extrema fragilidade – e a descrença e desconhecimento dos investidores e dos gestores de política econômica acerca dessa situação era brutal. Não fosse a atuação do Estado na absorção das perdas e redistribuição dos recursos por meio da política econômica, talvez tivéssemos testemunhado o absoluto colapso dos mercados de crédito e da economia mundial que deles depende.

9. Ou seja, Estados falham quando se deixam tomar pela corrupção, quando permitem que seus pilares sejam cupinizados, como ocorre hoje na Venezuela, na Nicarágua, só para citar exemplos latino americanos. Mas, se Estados falham, mercados também falham. E, muitas vezes mercados falham por falta da presença do Estado – por falta de regulação adequada – assim como Estados podem falhar, ou falir, após terem engolido os pesos e contrapesos do mercado.

10. Como disse o poeta francês Paul Valéry, “se o Estado for forte, seremos esmagados; mas se for fraco, padeceremos”.  Estado e mercado não são, portanto, separáveis, mas simbióticos. Encontrar a relação perfeita em que ambos se beneficiem ainda que em proporções desiguais é o desafio dos economistas e dos bons gestores da política econômica. Essa relação não é estática, mas dinâmica e evolutiva. O equilíbrio entre o mercado e o Estado se altera de acordo com a ecologia do mercado e as necessidades da economia. A ascensão das empresas de fintech nos países emergentes, por exemplo, necessita de modificações nas estruturas regulatórias, como pôs em prática recentemente o México. Desigualdades profundas capazes de causar graves abalos políticos e institucionais precisam ser atenuadas por um

11. O mercado, como bem sabem os estudiosos do tema, não tem o alcance de reduzir desigualdadesEstado que redistribua adequadamente sem causar grandes distorções que prejudiquem o crescimento econômico. O mercado, como bem sabem os estudiosos do tema, não tem o alcance, tampouco o objetivo, de reduzir desigualdades. Assim como também não têm o propósito, necessariamente, de avaliar o impacto, no longo prazo, de algumas de suas decisões. Dia desses lia artigo de Mario Sergio Conti em que o autor falava de entrevista nos anos 70 com o madeireiro que derrubou boa parte da floresta do Espírito Santo. Perguntado pelo jornalista se ele pensava na consequência do que fazia, respondeu o madeireiro: “A consequência é o lucro”.

12. No Brasil de hoje, na América Latina de hoje, temos grandes igrejas, grandes negócios que estão se apoderando do Estado por meio da participação crescente nos poderes legislativo e executivo – esse é o tema de pesquisa com coautores aqui na Universidade de Johns Hopkins. Qual tipo de relação entre Estado e mercado disso resultará é ainda grande dúvida. Entre dúvidas e falsas dicotomias, é possível apenas afirmar uma coisa: o Estado tem letra maiúscula pois é soberano.

10 de dezembro de 2018

VIDA PARLAMENTAR DE MACRON NÃO SERÁ FÁCIL! EX-BLOG DE 20/06/2017!

Em 20 de junho de 2017, EX-BLOG antecipava as dificuldades de Macron para governar!

1. Macron emergiu para a presidência da França como uma vertente da antipolítica, na medida em que seu partido foi criado menos de um ano antes das eleições presidenciais.

2. O candidato favorito para um segundo turno contra Marine Le Pen, candidata da extrema direita, era François Fillon, dos Republicanos de Sarkozy.  No início da campanha, eles apareciam empatados e com o dobro das intenções de voto de Macron, ex-ministro dissidente liberal do governo socialista de Hollande.

3. Fillon foi surpreendido por furos da imprensa, que mostravam que sua esposa era funcionária fantasma de seu gabinete. Com isso, Fillon começou a perder a batalha da ética. E mesmo sendo candidato do partido mais sólido da França naquele momento -Os Republicanos do ex-primeiro ministro Sarkozy- em poucas semanas deslizou para o terceiro posto.

4. A diferença a favor de Macron abriu e, com isso, as pesquisas, já próximas às eleições, apontavam um segundo turno entre Macron e Le Pen, o que implicava em uma fácil vitória para Macron, como aliás aconteceu.

5. As eleições parlamentares que decidiriam a composição do parlamento viriam um mês depois, como aconteceu nos dois últimos domingos. As pesquisas e a imprensa mostraram uma ampla vitória dos candidatos a deputado da base de Macron.

6. Abertas as urnas no domingo passado, a base de Macron obteve 62% das cadeiras. Uma ampla vitória como se prognosticava. Mas muito menos ampla do que o que  as pesquisas que falavam: 80% dos deputados.

7. Mesmo assim, esses 62% devem ser melhor avaliados. 55% foram dos candidatos do En Marche, partido criado um ano atrás por Macron. E 7% do MoDem, de François Bayrou, um partido de centro, que participou de eleições anteriores. Bayrou renunciou à sua candidatura que andava pelos mesmos 7% que seu partido teve. Passou a apoiar Macron.

8. Os 55% obtidos pelos deputados do En Marche serão progressivamente mais e mais heterogêneos. Uma boa parte deles estreou em eleições sem experiência partidária e muito menos parlamentar.

9. Reunidos sob a bandeira da renovação e de um liberalismo difuso, eleitos pelo voto distrital uninominal em 577 circunscrições, a primeira e grande tarefa da equipe de Macron será construir unidade programática.

10. O arrastão da vitória de Macron e, em seguida, de “seus” parlamentares, produz, de partida, uma unidade na vitória, desdobrando as linhas gerais dos discursos de Macron.

11. Mas num quadro de crise econômica na França, de crise na União Europeia, com a emergência de movimentos nacionalistas anti-imigrantes, anti-muçulmanos, a unidade na vitória terá que ser reconstruída no cotidiano do debate político e das polêmicas medidas de corte liberal num quadro de forte sindicalismo e tradição dos movimentos universitários -estudantes e professores.

12. A costura político-parlamentar de Macron não será simples, especialmente porque o maestro entra sem experiência nessas coisas da política. Acompanhemos os desdobramentos. Com muita atenção.

07 de dezembro de 2018

“REVOLTA NA FRANÇA É DIFERENTE DE OUTROS PROTESTOS ANTISSISTEMA”!

(Adam Nassiter – New York Times/Estado de SP, 06) 1. Foi pouco, e tarde demais. Essa foi a reação dos manifestantes franceses ao repentino recuo do governo. Os “coletes amarelos”, que levaram a França ao tumulto com violentos protestos querem mais – impostos mais baixos, salários mais altos. Essas demandas profundas conectam levantes populistas no Ocidente, incluindo Reino Unido, Itália, EUA e a Europa Central.

2. O que une essas insurreições, além das exigências, é a rejeição aos partidos, sindicatos e instituições governamentais. Mas o que torna a revolta da França diferente é que ela não seguiu o costumeiro manual populista. Não está ligada a um partido político. Não se concentra em raça ou migração e essas questões não aparecem na lista de reclamações. Não é liderada por um único líder raivoso e de retórica incendiária. O nacionalismo não está na agenda.

3. A revolta é essencialmente orgânica, espontânea e autodeterminada. É sobre classe econômica. É sobre a falta de condições de pagar as contas. Nesse sentido, é mais parecida com os protestos contra Wall Street dirigidos pelos trabalhadores pobres no “Occupy” dos EUA do que com o líder da Hungria, Viktor Orbán.

4. Os “coletes amarelos” afastam os políticos e rejeitam os socialistas, a extrema direita, o movimento político do presidente Emmanuel Macron e tudo mais que estiver no meio. Permanece relativamente desestruturado e ainda não foi sequestrado pela nacionalista de extrema direita Marine Le Pen, ou pelo líder de extrema esquerda Jean-Luc Mélenchon, por mais que esses tentem.

5. “É o mesmo medo, raiva e ansiedade na França, na Itália e no Reino Unido”, disse Enrico Letta, ex-primeiro-ministro da Itália, que leciona na Universidade Sciences Po, em Paris. “Esses três países têm o mais elevado nível de defasagem de classe”, disse ele. Nos 30 anos após a 2ª Guerra, “eles estavam no topo do mundo, viviam com um nível muito elevado de bem-estar médio”, disse ele. “Agora, há um grande medo de ver tudo isso escapar.”

6. Esse medo transcende todos os outros. Na França, há um paradoxo no atual impasse, já que a ascensão de Macron se baseava em varrer os partidos políticos existentes e na rejeição de intermediários tradicionais, como os sindicatos trabalhistas. Seu livro de campanha era chamado Revolução e expressava uma espécie de desprezo pelas partes que entregaram poder umas às outras por 50 anos. Macron, ao personalizar o poder e rejeitar o que viera antes, ajudou a criar o mundo da fraqueza institucional em que os “coletes amarelos” agora florescem.

7. Mas sua base, na época e agora, era extremamente pequena, pressagiando a sua atual rejeição. Ele ganhou apenas 24% dos votos no primeiro turno no ano passado – enquanto seus adversários na extrema direita e extrema esquerda, juntos, levaram mais de 40% dos votos. Esses números agora retornam para assombrá-lo.

8. Macron tenta promover reformas para tornar a França mais favorável aos negócios, como a Grã-Bretanha fez na década de 80 e a Alemanha na década de 90. Enquanto isso, a reação global já está em alta, alimentada pelas disparidades de renda que essas mudanças introduziram.

9. A combinação de descontentamento e desconfiança tornou os “coletes amarelos” uma força em expansão. O protesto já mudou de uma revolta por um pequeno aumento do imposto sobre a gasolina para demandas por salários mais altos.

10. A resposta do governo é especialmente preocupante. De uma parte, autoridades manifestam simpatia, sem ousadias, pois há amplo apoio ao movimento. De outra, as mesmas autoridades estão zangadas com o violento desafio à estrutura institucional da França. O resultado é uma espécie de paralisia, revendo ajustes, o que provavelmente só convidará a mais desafios.

06 de dezembro de 2018

“PROTESTOS NA FRANÇA SINALIZAM CRISE MAIS AMPLA DA DEMOCRACIA OCIDENTAL”!

(Ishaan Tharoor – Estado de S.Paulo, 05) 1. O presidente da França, Emmanuel Macron, gosta de se apresentar como um político moderado que consegue se manter firme diante da pressão popular. No entanto, agora ele corre o risco de ser arrebatado por uma rebelião. Pela terceira semana seguida, protestos tomaram conta do país.

2. Os distúrbios estão ligados ao movimento dos coletes amarelos. A irritação é com o aumento dos preços dos combustíveis, determinado por Macron como parte dos compromissos com o acordo sobre o clima. Mas os protestos também têm a ver com frustrações mais profundas de um segmento da sociedade francesa, que deseja uma rede de proteção social mais ampla no momento em que o país ainda registra um crescimento moroso e um alto índice de desemprego.

3. As raízes dos protestos também estão fora dos abastados centros urbanos, pequenas cidades e povoados dominados pela estagnação e pelo desespero pós-industrial que vem engolindo a classe média. Essas fissuras são familiares a britânicos, americanos e outras democracias ocidentais – assim como a incapacidade dos políticos de sanar as desigualdades.

4. Além do imposto sobre a gasolina, Macron quis impor um ambicioso programa de reformas. No entanto, há um ressentimento generalizado com seu estilo arrogante de administrar e má impressão de que ele governa para uma elite metropolitana.

5. Os inimigos de Macron têm se aproveitado dos distúrbios. Jean-Luc Mélenchon, líder da extrema esquerda, comparou o clima na França ao auge dos protestos da esquerda em 1968. A líder da extrema direita, Marine Le Pen, pediu a dissolução da Assembleia Nacional e novas eleições. Outro radical de direita ligado ao movimento de protesto, a título de provocação, exigiu que Macron renuncie em favor de um governo provisório liderado por um ex-general.

6. A república não está prestes a cair, mas os protestos mostram como Macron vem sendo tragado pelas mesmas frustrações contra o establishment que o levaram à presidência como um outsider da política. Para os seus defensores, o momento é preocupante. Muitos esperavam que sua vitória, no ano passado, fosse uma resposta aos populistas dos dois lados do Atlântico. Só que ele não conseguiu desbancar a direita radical nem convencer a esquerda, que o considera um agente dos ricos.

05 de dezembro de 2018

REUNIÃO DE FIM DE ANO 2018 DA JUVENTUDE DEMOCRATAS! 

29/30-12-2018- Relatório de Bruno Kazuhiro, presidente RJ.

– Ocorrida no plenário 6 da Ala Nilo Coelho do Senado Federal

– Presentes aproximadamente 40 participantes de 10 estados da federação

– Destaque para visita da JDEM no Palácio do Planalto com Presidente em exercício Rodrigo Maia-

– No primeiro dia tivemos a abertura oficial, apresentação de todos os participantes, palestra do vice-presidente da JDEM e cientista político Murilo Medeiros sobre os resultados do Democratas nas eleições 2018 em todos os estados.

– Posteriormente comentários sobre o cenário político do presidente Bruno Kazuhiro.

– Por fim, cada delegação apresentou como foi o cenário das eleições em seu estado e qual a situação corrente do DEM e da JDEM na região.

– Também neste dia se reuniu a Comissão Executiva Nacional da JDEM, onde decidiu realizar um Censo das juventudes estaduais, permitindo atualização total dos dados de diretoria, contato e trabalho de cada estado.

– No segundo dia os jovens tiveram a oportunidade de visitar o presidente em exercício Rodrigo Maia no Palácio do Planalto, oportunidade histórica para nossa instituição, onde pudemos fazer perguntas ao presidente sobre economia, política e legislação.

– Pela tarde foram debatidos o balanço dos eventos de 2018, a atuação internacional da JDEM, a avaliação do trabalho das comissões temáticas em 2018, a definição dos eventos de 2019, sugestões de novas iniciativas nas redes sociais e na interiorização da Juventude e escolha de pautas prioritárias para 2019.

– Além disso tivemos uma palestra muito positiva do deputado eleito Luís Miranda do DF, que falou aos jovens sobre estratégias de redes sociais, ideologia partidária e trabalho político.

– Foram tomadas na reunião as seguintes decisões a serem implementadas em 2019:

a) Encontro Nacional em Goiânia no 2o semestre

b) Eventos regionais nos estados que possuem juventudes mais atuantes

c) Apoio a reuniões locais nos estados onde a juventude é menos ativa atualmente

d) Censo Nacional para obter informações atualizadas e completas sobre diretorias, trabalhos e contatos das juventudes estaduais.

e) As bandeiras principais para o ano de 2019 serão a defesa do Empreendedorismo, o Combate à Corrupção com Transparência e a Segurança Pública. Isso não exclui a atuação em outras pautas.

f) Reabertura de inscrições para comissões temáticas e reformulação das comissões que não atuaram.

Todas as decisões foram tomadas com o quórum estatutário e com maioria do voto dos presentes.

04 de dezembro de 2018

“A DESCONSTRUÇÃO DO CENTRO POLÍTICO”!

(Luiz Werneck Vianna, sociólogo PUC-RJ – Estado de S.Paulo, 02) 1. A desconstrução do centro político contou com a ação de outros personagens, como setores das elites originárias da dimensão do mercado, desde sempre, tal como no caso da sua acirrada oposição, nos anos 1930, à legislação social, refratária à regulação pelo direito da vida social e ao embrião de social-democracia admitido pela Carta de 88. E mais recentemente, pela ação do Ministério Público, que interpretou em chave salvacionista a luta justa e necessária contra a corrupção sem atentar para as suas consequências e sem discriminar alhos de bugalhos, comportando-se como um macaco solto numa loja de louças, com o que levou à lona a sua representação política.

2. Estamos em pleno mar, navegando com mapas incertos e pilotagem inexperiente, ela própria sem saber para onde nos quer levar.  A bússola deve estar apontada para qual destino: o da globalização ou o da denúncia do globalismo? Ruma-se para qual direção, a da autarquia e a do nacionalismo?

3. Logo nós, que não viemos da matriz anglo-saxônica, mas da ibérica, e somos da família dos bandeirantes, e não da dos pioneiros, para lembrar as antigas lições de Viana Moog; nós, que seguimos a estrada universal em direito do sistema da civil law, esta, sim, entranhada na História do Ocidente, ao contrário do sistema da common law, que Hegel, por exemplo, não reconhecia como filho da razão, e sim do casuísmo de uma cultura singular, sem protagonismo, portanto, na marcha do espírito com que a criatura buscava seu encontro com seu Criador.

4. O Ocidente é uma criação europeia e é aí que nós, os americanos, como reconheceram os fundadores da grande República do Norte, cultores dos autores do Iluminismo nos Federalist Papers, estamos instalados, não se podendo omitir, no caso brasileiro, a criação do seu Estado pelo herdeiro de uma dinastia europeia.

5. A metafísica rústica dos ideólogos do trumpismo, como o célebre personagem de Voltaire, ignora a sociologia do risco, tão bem estudada pelo sociólogo Ulrich Beck, na crença ingênua de que tudo no mundo se encaminha no sentido da sua melhor solução. Nosso planeta não conheceria uma crise ambiental, em que pesem os alarmes emitidos pela comunidade dos cientistas, inclusive da Nasa, uma agência americana de indiscutida legitimidade científica, acerca dos dados que se acumulam sobre os perigos do aquecimento global.

6. A crer no que enuncia uma parte dos nossos futuros governantes, o desmatamento da Amazônia em nome de uma política expansiva das fronteiras do nosso capitalismo para o agronegócio e a mineração não importaria em riscos e sua denúncia não passaria de fabulações de intelectuais desavisados.

7. Não se deve chorar o leite derramado. O lado vencedor na sucessão presidencial foi esse que aí está. A oposição a ele não tem por que se precipitar. O mundo gira e a Lusitana roda. Por quanto tempo ainda haverá Donald Trump? E os militares, mais uma vez no proscênio, terão perdido a memória de suas grandes personalidades do passado, dos que lutaram em torno da bandeira do petróleo é nosso, do marechal Rondon, dos pracinhas que em campos de guerra na Itália enfrentaram com bravura o fascismo, das virtudes sem mácula do marechal Lott? E os seres subalternos, até quando suportarão o capitalismo sans phrase, em bruto e sem amortecedores, que ameaça vir por aí?

8. Os brasileiros não vão se despedir de si, apenas dizem um até breve.

03 de dezembro de 2018

“O CENTRO RADICAL COMEÇA POR UMA MENSAGEM QUE ENVOLVA INTERESSES E SENTIMENTOS DAS PESSOAS”! 

(Fernando Henrique Cardoso – Estado de S.Paulo, 02) 1. As mudanças pelas quais passamos, aqui e no mundo, são inúmeras e profundas. Pode-se mesmo falar numa nova “era”, a da conectividade. Se houve quem escrevesse “cogito ergo sum” (penso, logo existo), como fez Descartes, se depois houve quem dissesse que o importante é saber que “sinto, logo existo”, em nossa época, sem que essas duas afirmativas desapareçam, é preciso adicionar: “Estou conectado, logo existo”.

2. Vivemos a era da informática, das comunicações e da inteligência artificial, que sustentam o processo produtivo e formam redes entre as pessoas.

3. As novas tecnologias permitem formas inovadoras de enfrentar os desafios coletivos, assim como acarretam alguns inconvenientes, como a dificuldade de gerar empregos, a propagação instantânea das fake news, a formação de ondas de opinião que mais repetem um sentimento ocasional do que expressam um compromisso com políticas a serem sustentadas em longo prazo. Elas dependem de instituições, partidos, parlamentos e burocracias para serem efetivas.

4. As questões centrais da vida política não se resumem, no mundo atual, à luta entre esquerda e direita. No passado o espectro político correspondia a situações de classe, interpretadas por ideologias claras, assumidas por partidos. Na sociedade contemporânea, com a facilidade de relacionamento e comunicação entre as pessoas, os valores e a palavra voltaram a ter peso para mobilizar politicamente.

5. Isso abre brechas para um novo populismo e uma exacerbação do personalismo. O desafio está em recriar a democracia. O que chamo de um centro radical começa por uma mensagem que envolva os interesses e sentimentos das pessoas. E essa mensagem, para ser contemporânea, não deve estancar num palavreado “de direita” nem “de esquerda”. Deve, a despeito das divergências de classe que persistem, buscar o interesse comum capaz de cimentar a sociedade. O País não se unirá com o ódio e a intransigência cultural existentes em alguns setores do futuro governo.

6. Há espaço para propostas que juntem a modernidade ao realismo e, sem extremismos, abram um caminho para o que é novo na era atual. Esse percurso deve incorporar a liberdade, especialmente a de as pessoas participarem da deliberação dos assuntos públicos, e a igualdade de oportunidades que reduzam a pobreza. E há de ver na solidariedade um valor. Só juntos poderemos mais.